Estarão os fortes a ficar mais fracos?

OPINIÃO15.08.202004:00

Foi Jorge Jesus quem me alertou, esta semana, para uma ideia curiosa: «Você já reparou que os mais fortes estão mais fracos?...»


Falava-se no âmbito desta curiosa Final 8 de Lisboa, um torneio único na história do futebol europeu e mundial e que supostamente deveria reunir as oito melhores equipas europeias do momento. Sabe-se que não é bem assim, os sorteios são caprichosos, os jogos de futebol, felizmente, ainda não são uma ciência positiva onde os melhores teriam a garantia do sucesso. Mas é verdade que as oito equipas que chegaram aos quartos de final da Champions não podem deixar de ser grandes equipas, umas com mais nomes, com mais estrelas a brilhar nos palcos luminosos das televisões, outras mais compensadas, mais equilibradas, mais assentes em estruturas de betão armado e prontas para a guerra.


Mas a ideia que Jorge Jesus me transmitiu tinha uma argumentação a defendê-la. O Barcelona estará mais fraco, apesar de Messi; o Real Madrid estará mais fraco, apesar de Modric e Benzema; a Juventus está manifestamente mais fraca, apesar de Cristiano Ronaldo; o Atlético de Madrid está mais fraco apesar de Oblak, Diego Costa ou João Félix.


Uns, talvez os mais cintilantes, estão mais fracos porque há um desgaste geracional. Messi continua a ser incomparável, mas é cada vez mais ele e os outros, já não tem uma coleção de talentos à sua disposição, a abrir-lhe o espaço e o tempo de que precisa para fazer milagres. Cristiano continua a ser um fenomenal atleta, mas Higuain empalideceu e se Paulo Dybala sofre da artrose do tempo excessivo de competição, a Juve, mais do que se inquieta, aquieta-se.


Daí que surja como peça surpreendente do jogo maior a dimensão impetuosa do jogo alemão do RB Leipzig, capaz de desvirtuar as virtudes do adversário, obrigá-lo ao que, de todo, não gosta: fazer prova da sua excelência.


As grandes equipas europeias e mundiais ganhavam demasiados jogos com o respeito que impunham, além de que apenas precisavam de metade das oportunidades para os ganhar. Hoje em dia, a classe média cresceu, tornou-se desafiadora e coloca, não raras vezes, um problema muito sério aos treinadores das equipas de estrelas quando as obriga a jogar onze contra onze, coisa que, como se sabe, os grandes só o faziam quando tinham bola.


Daí que, hoje, apareçam os Lyons, os RB Leipzigs e, quase, quase, com escândalo, os Atalantas desta vida, que aparecem onde, antes, aparecia a Juve, o Milan ou o Inter.


Não me parece que se possa dizer que os grandes talentos, os maiores génios do futebol se estejam a tornar prescindíveis. Isso nunca acontecerá. Mas Messi e Cristiano, por muito que nos custe dizer e escrever, estão a ficar mais velhos e menos exuberantes. Claro que, num momento de criatividade, fazem a diferença e ganham um jogo, mas agora que precisavam, como nunca, de outros solistas, de uma companhia de elite, estão a ficar mais sós e por isso menos decisivos.


Olhe-se também, com alguma curiosidade para o caso do Paris Saint-Germain, onde Neymar jogou, de facto, numa dimensão de grande estrela do futebol mundial, mas só foi decisivo quando teve Mbappé a apoiá-lo no corredor esquerdo.


Julgo que Jesus tem razão quando diz que as grandes equipas do futebol europeu estão ficar mais fracas. O que pode significar que estaremos no limiar de um virar de página da história do futebol europeu; ou pode, apenas, significar que a atual geração de jovens grandes jogadores está, só, à espera de ser chamada ao palco.