Época de Vitória pode acabar em agosto

OPINIÃO10.07.201801:22

O mau desempenho global do Benfica na época transata não deve procurar refúgio na política de contenção determinada pela Administração, que cortou nas despesas e aumentou as receitas através de venda de alguns jogadores (Ederson, Lindelof e Nélson Semedo...) com maiores valores de mercado.


Aceito que a equipa terá ficado mais fraca, mas não o suficiente para  transferir para o presidente responsabilidades que cabem única e exclusivamente ao treinador, pois é ele quem gere as sensibilidades do plantel, é ele quem escolhe os melhores e é ele quem, no local próprio, deve prever até onde será possível chegar em função do potencial humano disponível.


É normal que o tivesse feito e não passa pela cabeça de ninguém que Luís Filipe Vieira ficasse insensível se confrontado com um cenário de catástrofe. Isto é, se lhe fosse dito com todas as letras que apenas com os jogadores que ficaram nenhum triunfo e nenhum ponto se conquistariam  na Liga dos Campeões, que o penta seria para esquecer e a Taça de Portugal objetivo inalcançável. Nem esperança deveria haver na Taça da Liga.  


Na prática foi isto o que se verificou, um falhanço completo, naturalmente em contraciclo com o plano de trabalho delineado para atacar uma época de elevadas expectativas, como sempre sucede. Expectativas que não ficaram maiores por quase vinte mil pessoas terem assistido ao treino de sábado, no Estádio das Luz. Não foi a primeira vez, nem será a última. Tratou-se da expressão mais genuína da grandeza do emblema da águia, na certeza de que multidões de semelhante envergadura se sucederão a cada vez que as sessões forem abertas à curiosidade da massa adepta: exigente, intolerante e até turbulenta, mas, simultaneamente, reveladora de infinda disponibilidade para absolver. Aliás, julgo ser esse o sinal que deve ser extraído de tão significativa manifestação: confiança no que está para vir, mesmo com feridas ainda por sarar provocadas pelo passado recente.


Por outro lado, foi, igualmente, um aviso aos jogadores para quem  representar um clube como o Benfica  é bom, pelo  dinheiro que paga,  e  é mau, pelo sacrifício que pede.

OS reforços que se diz terem faltado há um ano, estão a entrar agora em generosa quantidade e apreciável qualidade, partindo-se do princípio que as escolhas foram definidas com base em padrões diferentes dos que conduziram, por exemplo, à contratação de Seferovic, apregoado como uma solução de excelência por parte da equipa técnica.


Ficámos esclarecidos, com a noção, porém, que, dada a complexidade do processo de seleção, na maior parte das situações há uma substancial diferença entre o parecer e o ser.


A margem de erro é considerável, mas os peritos em observação e deteção de talentos também sabem que há jogadores que, podendo não atingir  o patamar do brilhantismo que se procura, enganam menos do que outros, ou seja, dão mais certezas a quem contrata. De aí que,  tratando-se de especialistas experimentados, ou que se insinuam como tal, lhes seja complicado explicar erros grosseiros de observação e análise que um qualquer amador bem intencionado identificaria.


No caso do Benfica, é imperativo que o pessoal que entra acrescente valor ao plantel e não precise de demorada adaptação: é chegar e jogar, dada a proximidade da pré eliminatória da Liga dos Campeões, a menos de um mês.


No arranque de 2017/2018, a fase de preparação deixou a desejar.  Pelos resultados, pelas equipas, por um pouco de tudo associado a iniludível défice de orientação.  Foi o prenúncio de uma temporada mal sucedida. Agora, até ao fim de semana, o centro de treinos situa-se em Tróia para a chamada primeira triagem em plantel composto por cerca de 40 elementos, quando se juntarem os  mundialistas.  


Seguiram 30 praticantes e sobre estes não sei que dúvidas Rui Vítória poderá ter,  mas se realmente as tem interrogo-me se é em quatro ou cinco dias, com jogo hoje e outro sexta feira, que vai libertar-se delas.  Entre  novidades, dispensáveis e acomodados, depressa se enxergam para aí uns dez embaraços, que atrapalham, tão somente.

Três consequências se assumem se fracassar a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões, qual delas a mais devastadora:
1. €43 milhões que se deitam à rua;
2. Choque brutal ao nível da motivação, sobretudo entre os jogadores mais cotados;  
3. Rompimento de confiança com o treinador, já severamente abalada.  


Esta é a realidade, fria e cruel. Esgotou-se a paciência para ouvir as desculpas de Rui Vitória. Por isso, ou percebe, ou sujeita-se a terminar a época a 31 de agosto: se fraquejar no dérbi com o Sporting, na Luz (3.ª jornada da Liga), e claudicar na Champions a família benfiquista não vai perdoar-lhe...