Entre Liga dos Campeões e campeões da Liga

OPINIÃO13.11.201800:07

1 - Três dias da passada semana com jogos europeus. O Porto venceu facilmente o Lokomotiv de Moscovo, que é tudo menos uma locomotiva. É mesmo o candidato mais provável para ser o sucessor do Benfica da época passada, com zero pontos. Curioso é que a equipa russa fazia parte do pote 1 no sorteio da fase de grupos da Champions. Tal como o Benfica, na época transacta. Contudo, com uma enorme diferença: é que se o Benfica lá estava por força de ter sido campeão numa das primeiras seis ligas do ranking europeu (substituída, entretanto, pela … russa), também era, então, o 9º classificado na seriação por clubes, ao passo que o Lokomotiv ocupa o 52º posto, atrás de outras três equipas russas (Zenit, CSKA e Krasnodar) e, imagine-se, atrás do clube cazaque do Astana. Enfim, se a isto acrescentarmos que no pote mais fraco estava o Inter e, sobretudo, que no pote 3 ficaram o Liverpool (finalista vencido da Champions do ano passado), Lyon ou Valência, concluo que esta história dos potes do sorteio é uma falácia recorrente na UEFA.

2 - Dei-me ao trabalho de, com base no ranking actualizado, fazer o somatório e a média em cada grupo das posições dos respectivos clubes, que vão do Real Madrid (posição 1) até ao Hoffenheim (posição 100). Assim, temos no quadro a ordenação começando pelo grupo mais qualificado e, em tese, mais difícil e terminando no grupo menos qualificado e, em teoria, mais acessível.
Constatamos que os grupos A, C e G são os mais complicados para o apuramento, embora com o decorrer da competição tal não esteja a acontecer com o grupo A por manifesta falência desportiva do Mónaco. Já o grupo do PSG, Liverpool e Nápoles tem evidenciado ser, de facto, o chamado ‘grupo da morte’, onde à 4.ª jornada o primeiro tem só 6 pontos e o último 4 pontos. Se excluirmos as equipas do pote 4, o grupo do Benfica é um dos que envolve maior dificuldade, pois além do tubarão bávaro, inclui o Ajax em clara ascensão. Pelas razões a que atrás aludi, o grupo do Porto é o mais acessível em qualquer das análises, o que, aliás, é confirmado pelo lugar praticamente assegurado nos oitavos-de-final por parte do Porto e do Schalke 04. Por fim, fica à evidência a disparidade de grupos, sublinhada pela existência de um intruso no pote 1 (Lokomotiv) que todos desejariam e de outro no pote 3 (Liverpool), que ninguém quereria.

3 - O Benfica quebrou a série de três derrotas e um empate, em dois jogos nacionais e dois europeus. Verdade seja dita que, nos jogos contra o Ajax, não foi feliz. Fez uma boa primeira parte em ambas as partidas, foi derrotado no derradeiro minuto em Amesterdão numa carambola e falha a vitória também no último momento na Luz. Ou seja, em vez de 1 ponto contra 4 do Ajax, poderia ter sido ao contrário, 4 para o Benfica e 1 para a equipa de Amesterdão. Mas, o futebol é também isto, umas vezes ajudando, outras desajudando. Não nego que o Ajax, no conjunto dos dois jogos, tenha apresentado um futebol mais pautado pela certeza do passe e mais inteligente na posse de bola. Mas o Benfica não teve uma pontinha de sorte que  tudo poderia ter alterado. Agora, entrámos no repertório do «enquanto for matematicamente possível…», que é apenas um modo de procrastinar uma quase certeza de não ultrapassar a fase de grupos, além de tudo porque se está dependente de terceiros. Ficamos assim destinados aos 1/16 avos da Liga Europa, sem dúvida muito longe do eldorado financeiro da Liga dos Campeões, mas onde o Benfica, nesta fase, estará no seu ‘habitat’ mais consentâneo.

4 - Passando para o campeonato nacional, tivemos um fim-de-semana que se pode considerar normal, em termos de resultados dos principais clubes.
O Porto venceu o Sp. de Braga, com alguma fortuna. O resultado justo seria o empate, senão mesmo a vitória bracarense. A equipa de Abel Ferreira vem revelando uma personalidade, um fio de jogo e uma maturidade que pedem meças aos ainda três grandes. E tiveram mais oportunidades de golo do que as dos dois rivais de Lisboa juntos quando se deslocam ao Dragão. O sector defensivo portista sentiu muitíssimas dificuldades perante a simplicidade de esquema de jogo do meio-campo e ataque bracarense. Deve-se realçar, porém, a audácia das substituições do técnico portista, assim se provando que, com sorte a mais ou a menos, quem arrisca sempre petisca.
O Sporting lá vai ganhando, com maior ou menor embaraço e com o sempre clemente penálti da praxe. Mas a jogar assim pouquinho não creio que vá longe, apesar de o futebol ser pródigo em surpresas. Continuo sem entender a saída de José Peseiro e a sua substituição (aparentemente não planeada e algo atabalhoada) por um ignoto holandês que agradece certamente o terem libertado das areias arábicas. Já o treinador interino quis fazer de petit clone de Mourinho… Mas isso são contas de outro rosário, que não do meu.
Do meu rosário é o Benfica. Qual filme de Hitchcock, depois de quatro desaires, logo havia de sofrer, em Tondela, um golo aos 42 segundos. Digo, com sinceridade, que nessa altura pensei para com os meus botões que tudo iria correr bem. É que manda a recente estatística que quando o Benfica marca depressa ou falha um penálti cedo corre o risco de não ganhar o desafio (esta época, em Chaves e na Luz contra o Moreirense e mesmo contra o Ajax, não esquecendo os dois penáltis falhados contra o Belenenses há semanas e na época passada). E quando, ao invés, toma cedo um golo consegue inverter o resultado (por exemplo, AEK na Grécia e agora Tondela). Talvez não seja por acaso. Admito que seja a consequência de uma equipa desassossegada quando tem de defender uma vantagem e mais empertigada, solidária e resoluta quando se sente obrigada a fazer uma remontada.
Nesta semana, e independentemente da opinião de cada um, achei injusta e desproporcional a ‘lençaria branca’ no fim do jogo contra o Ajax. Não que tenhamos feito um grande jogo, mas a equipa lutou até à exaustão e foi profissionalmente digna. Assim como não gostei nada da ‘feira’ de palpites sobre quem será o novo treinador, já dando como consumada a saída de Rui Vitória. E se é certo que há para aí uns canais televisivos que fazem disso a garantia de maior audiência, seja por patetas e patéticos ‘alertas’ tipo CMTV, seja por um manobrismo mais subtil de certos poderes fátuos da antes emblemática SIC, nós benfiquistas devemos não entrar nesse tipo de jogadas e jogatanas. Com isto, não quero dizer que não seja, em vários aspectos, crítico da actual orientação técnica, e que não sinta a diminuição das expectativas e da margem de tolerância que se pressentem. Mas não alinho em abordagens popularuchas e completamente emocionalizadas (e sem ponderar os prós e os contras) de tratar o assunto do treinador na rua.