Endemia
O Benfica sabe que terá pela frente uma sólida defesa boavisteira mas sente-se estimulado, após o arrojado empate de Kiev
Há palavras e expressões que se tornaram comuns nos últimos largos meses. Começámos por ouvir falar numa epidemia. Isto é, uma doença que atingia uma vasta área geográfica. Mas, qual velocidade do som, a epidemia evoluiu para uma pandemia, ou seja, a epidemia, e os surtos a ela associados, saltou de continente para continente e tudo com uma clara, evolutiva e devastadora transmissão comunitária. E com impossibilidade ou nítida dificuldade em rastrear as pessoas infetadas, apesar da criação de aplicações para esse rastreio. E este vírus, este Covid com número preciso (19), multiplicou-se, o que nos condicionou e ainda angustia, e nos levou a uma democracia sanitária com renovados estados de calamidade e de emergência. E que determinou, em tempo recorde, e com investimentos privados relevantes e subsídios públicos determinantes e encorajantes, o aparecimento de vacinas cujo planeamento para a sua inoculação, entre nós, foi finalmente confiado a uma estrutura de missão liderada pelo reconhecidamente competente e humildemente excelente Vice-Almirante Gouveia e Melo, estudante que foi da atual Escola Secundária Alves Martins - para mim, como aluno, sempre Liceu Nacional de Viseu - no ano de 1975! O que me dizem nestes dias de libertação e em que Portugal é líder da vacinação a nível mundial é que vamos ter de viver, mesmo com estes números impressionantes de vacinação, com este vírus, com este Covid! E que vamos passar a escutar a palavra endemia com maior frequência do que a pandemia que diariamente nos afligia e limitava. Com a endemia as restrições serão levantadas e, por exemplo, e para além das discotecas, os estádios e pavilhões poderão voltar à alegria total, seja em termos de adeptos seja em termos de vendas de bilhetes de época, mesmo com as limitações resultantes da singular criação portuguesa do cartão de adepto! O que sabemos é que, depois do êxito da missão do nosso Almirante - eu que sou sobrinho-neto do Almirante Roboredo e Silva, que refundou os Fuzileiros -, os próximos tempos serão tempos de novas exigências, diferentes desafios e acrescidas oportunidades. E que a palavra endemia vai entrar no nosso quotidiano. Depois da epidemia a pandemia. Após a pandemia, a endemia!
A sexta jornada da Liga Portugal - Bwin arrancou na passada sexta-feira com a vitória do Portimonense - atenção, tem 10 pontos! - e só termina amanhã com os jogos do Benfica e do Sporting de Braga, respetivamente contra Boavista e Tondela. E hoje o Sporting, depois do forte abalo europeu, defronta o surpreendente Estoril e o Futebol Clube do Porto, depois da confirmação em Madrid do seu estofo europeu, recebe o Moreirense. O Benfica, com apenas dois golos sofridos e treze marcados, sabe que terá pela frente uma sólida defesa boavisteira mas sente-se estimulado, após o arrojado empate de Kiev, para somar mais três pontos e confirmar, já conhecendo os resultados dos seus companheiros internos de Liga dos Campeões, a sua destacada liderança na nossa Liga. E nas antevésperas do formal anúncio da candidatura de Rui Costa à presidência do Benfica e depois de uma Assembleia Geral em que se sentiu diversidade e pluralismo, clara paixão e muita vibração. E sabendo igualmente que a sétima jornada arrancará na próxima sexta-feira (24), com os jogos do Sporting e do Futebol Clube do Porto respetivamente contra o Marítimo, em Alvalade, e Gil Vicente, este em Barcelos. E no sábado próximo o Benfica terá uma complexa deslocação a Guimarães, tudo nas vésperas de uma nova jornada europeia e com o Benfica, num Estádio da Luz já esgotada, a receber o Barcelona. E com a consciência que importa que os quatro clubes portugueses que resistem na Europa do futebol tenham resultados positivos de forma a que não deixemos que a França - que ainda tem seis clubes nas três competições europeias! - se consolide no quinto lugar do ranking da UEFA. Com efeito, a única Liga que no ranking da UEFA, e na presente época desportiva, perdeu representantes foi a portuguesa. Todas as outras, incluindo a neerlandesa, que está no sétimo lugar, fazem o pleno. Dos clubes apurados não perderam nenhum. Estão todos nas diferentes fases de grupos das três competições europeias. Sete em sete têm a Inglaterra, a Espanha, a Itália e também a Alemanha. Seis em seis tem a França. Cinco em cinco os Países Baixos. Quatro em cinco a Áustria, o atual oitavo classificado. E o sexto, Portugal, tem apenas quatro em seis com as eliminações de Santa Clara e Paços de Ferreira! Estes os factos. A realidade real. No final teremos os números. E acreditamos que podemos, e devemos, somar pontos… depois de dezembro. Mês em que importa ter cuidado, muito cuidado, com… a endemia!
Ontem João Almeida e Fernando Pimenta proporcionaram-nos, com as vitórias alcançadas no ciclismo e na canoagem, novas alegrias. Também ontem arrancaram os campeonatos nacionais de andebol e hóquei em patins. Aqui, com a singularidade de esta histórica e emblemática modalidade ser, cada vez mais, uma modalidade regionalizada e em que Portugal, a par da Galiza e da Catalunha, é claramente um dos expoentes remuneratórios para os diferentes profissionais, mesmo de outras origens, como da Argentina. Dizem-me, vozes bem sabedoras, que no basquetebol a disputa-se será a quatro, com Benfica, Sporting, Futebol Clube do Porto e Oliveirense a lutarem pelo título. E nestas duas modalidades que ontem se iniciaram permitam-me a ousadia de três notas. A primeira é que são dois campeonatos que reforçam, sem prejuízo da presença de equipas das Regiões Autónomas, a litoralização do desporto português. E sem que se escute um mínimo de discussão autárquica acerca destas matérias!!! No hóquei temos o Sporting de Tomar como relativa expressão de interior próximo e numa época em que saudamos o regresso do Paço de Arcos e do Parede, mais do Marinhense, ao principal escalão do hóquei. No andebol, e para lá do regresso do Xico Andebol - uma referência de Guimarães - e da sugestiva juventude dos plantéis, evidencio a participação do Águas Santas e do Póvoa AC, do Sporting da Horta e do Vitória de Setúbal, do Belenenses e da Artística de Avanca, treinada por Ljubomir Obradovic. A segunda nota é que os favoritos são, também aqui, e sem surpresa, os três grandes. O Futebol Clube do Porto no andebol procura o vigésimo terceiro título e o Sporting no hóquei, onde também a Oliveirense conta, procura confirmar a anterior época de ouro, onde à conquista do Campeonato, acrescentou, com mérito e excelência, a Liga Europeia. A última nota é para registar que estas duas Federações são, para além da de futebol, de voleibol e de basquetebol, aquelas que, com a sua pentarquia inorgânica, tiveram uma relação privilegiada com o Governo durante a pandemia que nos condicionou a todos. E condicionou, e muito, o desporto português. Acredito que quererão ser, a par do COP, e neste novo tempo de endemia, uma solução similar à institucional realidade francesa traduzida no COSMOS, ou seja, no Conselho Social do Movimento Desportivo, uma quase que organização patronal do desporto!
Há livros que valem a pena. Oferecem-me um livro maravilhoso, dito explosivo. O livro, já com várias edições, é de Pedro Miguel Lamet e retrata a vida de uma testemunha do século XX e também profeta do século XXI: Pedro Arrupe. Foi eleito em 1965 Superior Geral dos Jesuítas. Ele que viveu, em Hiroshima, a explosão da bomba atómica. Que lucidez e que profundidade!