Em cima da meta
Títulos inglês e italiano decidem-se na última jornada. City e Milan na frente, Rafael Leão decisivo na campanha ‘rossoneri’
COM a vitória ontem em Southampton (2-1), mesmo sem sete titulares (!), o Liverpool reduziu para um ponto a diferença do City (90-89) e adiou a resolução do título inglês para a última jornada… tal como em Itália, onde os rivais de Milão - Milan (83) e Inter (81) - lutarão até ao último fôlego, com os milanistas numa posição mais favorável. Os reds, na reta final de uma campanha fabulosa que já lhes deu Taça da Liga, Taça de Inglaterra e ainda pode dar a Champions, mantêm vivo o sonho do inédito quádruplo, mas nota-se que a equipa está no limite físico. Compreensivelmente. Ontem foi o 61.º jogo da época. No domingo que vem o City recebe o Aston Villa (14.º) e o Liverpool recebe o Wolverhampton (8.º).
A Pep Guardiola basta vencer o jogo para assegurar o quarto título dos citizens nos últimos cinco anos (para o espanhol, será o décimo campeonato em treze épocas como treinador… !). O Liverpool precisa de vencer o Wolves e que o Aston Villa pontue no Ethiad. E aí entra Steven Gerrard, talvez o maior trunfo dos reds num jogo que o próprio Jurgen Klopp não acredita que não seja ganho pelo City. O treinador do Villa é uma lenda viva do Liverpool (jogou ali durante 26 anos e foi um capitão exemplar) e o provável sucessor de Klopp. Como scouser convicto, acredito daria muito prazer a Gerrard ajudar o clube do coração a ser campeão, ainda para mais em cima da meta, aproveitando para se redimir (passe a expressão) do pesadelo de 2014.
Liverpool venceu o Southampton e lançou para a derradeira jornada inglesa as emoções da decisão do título
Lembro que nesse ano um famoso escorregão de Gerrard (num jogo decisivo com o Chelsea em Anfield, à 36.ª jornada) proporcionou um golo aos blues e liquidou as hipóteses do Liverpool ser campeão (foi ultrapassado nessa jornada pelo City de Pellegrini, que não cedeu mais pontos).
O mais provável é o City ganhar a Gerrard e o Liverpool ganhar a Bruno Lage. Jurgen Klopp tornará a perder o campeonato por um simples ponto (93-92), tal como em 2019 (98-97). Se assim for, resta aos homens do Liverpool apontarem ao Real Madrid e afogarem as mágoas com a conquista do título europeu em Paris, como fizeram na final de Madrid, há três anos, à custa do Tottenham.
O caso do AC Milan é muito interessante. Trata-se de um gigante adormecido que não é campeão há onze anos (último scudetto em 2011, com Massimiliano Allegri no banco, Gattuso, Seedorf e Pirlo no miolo e Zlatan Ibrahimovic, Robinho e Alexandre Pato na frente de ataque, todos com 14 golos) e não vê hora de voltar a festejar. Está quase, embora fale o quase: um ponto. Com vantagem sobre o arquirrival e atual campeão Inter em caso de empate final, o Milan só precisa de empatar em Sassuolo para ser campeão. O Inter recebe a Sampdoria. Vi jogos de grandes equipas do Milan no estádio de San Siro cheio (não esqueço um poker maravilhoso de Marco van Basten ao Gotemburgo num jogo da Champions) e reconheci, nesta última vitória sobre a Atalanta (2-0), o ambiente fantástico que costuma enquadrar as grandes campanhas rossoneri. O rugido gutural dos três anéis da Curva Sud nos golos de Rafael Leão e Theo Hernandez mostram quão perto se sentem os adeptos da consagração. O Inter será porventura mais equipa, mas é difícil não simpatizar com o que o Milan e Rafael Leão têm feito; e, permitam-me, com a classe do seu treinador, Stefano Pioli, um dos muitos cavalheiros do calcio - viram o abraço e a cumplicidade no final do jogo com o treinador da Atalanta, Gian Piero Gasperini? Pois…
Sobre Rafael Leão, melhor marcador (11 golos) e milanista com mais assistências (7) no campeonato. É indiscutivelmente um dos heróis da época, tantas vezes decisivo. Toda a gente vê que tem condições atléticas / bagagem técnica de exceção, mas creio que terá de se envolver mais no jogo e assumir outro tipo de compromisso, mais intenso, se quiser subir ao patamar cimeiro. Tem de ser mais constante, não pode alhear-se, desligar com tanta frequência. A ginga africana é uma delicia, mas não chega a Rafael para ser o novo Weah milanista. É preciso outro tipo de foco e mais determinação… dito isto, Leão poderia formar com Cristiano e Diogo Jota um tridente muito interessante numa equipa que eu cá sei.
FC PORTO, O MANDÃO DO SÉC.XXI
FINAL do Jamor com favoritismo quase total para o novo campeão nacional, que pode completar a segunda dobradinha em três anos (Sérgio Conceição será o primeiro treinador portista a bisar essa façanha) perante um Tondela despromovido que pisará pela primeira vez o Jamor. Lembre-se que o FCP tem oito dobradinhas no currículo (cinco desde 2000), contra onze do Benfica (duas desde 2000) e seis do Sporting (uma desde 2000). O Tondela mantém a veia democrática desta competição tão acarinhada pelo povo. Desde a viragem do milénio, é a 18.ª vez (em 22 edições) que um não grande marca presença na final. Dito de outra maneira: de 2000 para cá só houve quatro finais entre grandes (duas entre SCP e FCP, duas entre SLB e FCP).
Um desafio tremendo para os homens de Nuno Campos, não sendo desajustado lembrar que Sérgio Conceição já perdeu duas finais no Jamor, ambas no desempate por penáltis: uma para o SCP de Marco Silva (2015), outra para o SCP de Marcel Keizer (2018). A equipa beirã tem todo o direito de sonhar até porque a final da Taça, nos últimos tempos, não tem sido nada avara em surpresas. Lembrem-se os triunfos do V. Setúbal de José Rachão em 2005 (contra o Benfica), da Académica de Pedro Emanuel em 2012 (Sporting), do V. Guimarães de Rui Vitória em 2013 (Benfica), do Braga de Paulo Fonseca em 2016 (FC Porto), do Aves de José Mota em 2018 (Sporting) e do Braga de Carlos Carvalhal em 2021 (Benfica). Não há impossíveis.
É claro que Sérgio não quer engrossar a lista dos gigantes tombados, até porque o séc. XXI tem sido marcado pela superioridade portista na Taça de Portugal: 7 conquistas em 11 finais (pode ficar com 8 em 12) , acima de Sporting (5 em 7) e Benfica (3 em 7). No fundo, um reflexo daquilo que tem sido a predominância portista desde a eleição de Pinto da Costa em abril de 1982. É um facto que o séc. XXI tem sido azul. São 33 títulos (três deles internacionais: Champions, Liga Europa e Taça Intercontinental), contra 21 do Benfica e 17 do Sporting. No campeonato, o FCP dobra o SLB (12-6) e só na Taça da Liga faz má figura: zero titoli contra sete do Benfica e quatro do Sporting. Veremos como será a primeira página deste jornal na próxima segunda-feira. Número histórico ou mais um dia no escritório, a 65.ª conquista da era Pinto da Costa…