Eles ainda não sabem
Aconteça o que acontecer na final da Taça, a pergunta que se coloca no Benfica é esta: qual o capital de Jorge Jesus para a próxima época?
F IM do jogo. O Benfica acaba de vencer o Sporting por 4-3 no Estádio da Luz, num dérbi empolgante, aberto e intenso. No flash interview, uma frase de Jorge Jesus torna-se dominante no discurso, a de que os seus jogadores «ainda não sabem defender um resultado», referência ao facto de as águias terem estado a ganhar por 3-0 e 4-1. Foi de uma sinceridade cortante mas reveladora de uma incapacidade do emissor, pois há momentos em que as palavras dizem mais sobre quem as profere do que sobre o objeto das mesmas. Pouco importa se é a questão de «defender um resultado». O mais relevante, aqui, é obviamente o «eles ainda não sabem». Ou seja, 51 jogos oficiais depois (antes da visita a Guimarães) e o Benfica ainda é só uma ideia.
Independentemente do que possa acontecer na final da Taça de Portugal frente ao SC Braga, os focos do universo encarnado já estão virados para 2021/2022 e a questão que está em cima da mesa é tão simples quanto esta: tem Jorge Jesus condições para continuar à frente do comando técnico do Benfica? Com esta pergunta levantam-se outras: é mais importante a continuidade e estabilidade ou ceder à tentação de mudança? Jesus ainda é dono de uma reserva de capital de confiança nos adeptos ou perdeu totalmente o mojo?
A resposta será dada de duas formas: pela pessoa responsável pelo seu regresso ao clube, Luís Filipe Vieira, que terá a obrigação de fazer um balanço público no final desta época; e pelas circunstâncias: tudo o que não passar pela qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões (com duas eliminatórias no mês de agosto) pode fazer cair de vez o «projeto».
Adivinha-se por isso um verão intenso no eixo Luz-Seixal. Porque, apesar de nunca admiti-lo publicamente (nem podia...), Jorge Jesus nunca terá ficado totalmente satisfeito com o plantel ao seu dispor e tudo fará para que Vieira vá novamente às compras. E das caras, como costume. Um pedido legítimo, mas veremos se será assim tão exequível, pois se alguns reforços foram recusados no último verão quando Jesus ainda se apresentava como um messias, mais serão os possíveis vetos agora que o treinador parece ter-se transformado num mero apóstolo. A essa menor autoridade moral juntar-se-á outro facto não menos importante: depois dos mais de €100 milhões gastos nesta temporada para satisfazer os desejos do treinador e para transmitir a ideia de um Benfica pujante em ano de eleições (deu jeito, portanto, a Jesus e a Vieira), seguir-se-á seguramente uma contração no investimento. Estão as águias, portanto, obrigadas a comprar (se comprarem...) com muito critério, coisa que não tem abundado num clube cuja política desportiva parece mover-se, de ano para ano, consoante a direção do vento.
E STEVE muito perto de acontecer no último fim de semana mas se os astros não estiverem desalinhados o Lille vai sagrar-se campeão francês na última jornada da Ligue 1, frente ao Angers, um título que o clube do norte de França conquistou pela última vez há 10 anos (com Rami, Eden Hazard e Gervinho). Se vencer em 2011 foi extraordinário, fazê-lo em 2021 é quase impensável face ao poder do Paris Saint-Germain. Para se perceber a dimensão do empreendimento: desde que o clube parisiense começou uma época desportiva com o dinheiro do Catar (foi adquirido em outubro de 2011), só por uma vez não foi campeão - em 2016/2017, perdendo para o Mónaco de Leonardo Jardim. Um denominador comum nos dois projetos (Mónaco e Lille): Luís Campos, o responsável por ter montado as duas equipas (saiu em dezembro mas a impressão digital nos Les Dogues está lá). Foi ele quem trouxe, por exemplo, Renato Sanches (grande época, considerado por muitos o melhor jogador da competição) e José Fonte, central de 37 anos com C maiúsculo, capitão de equipa, campeão da Europa em 2016 por Portugal e dono de uma carreira sustentada em decisões pouco mediáticas mas sempre bem pensadas. Como a de sair da China e assinar, em 2018, por um clube disposto a quebrar a hegemonia de um monstro. Mas com menos dinheiro. Mesmo que aconteça uma desgraça no domingo, será sempre o caso de dizer: chapeau!