É preciso acordar
Para um portista, uma derrota nunca é fácil de engolir, seja onde, quando, como ou em que circunstância for. Uma derrota é sempre uma mancha que o brasão abençoado não merece.Há, no entanto, derrotas que custam mais a engolir que outras e a do último domingo ainda não me passou da garganta.
Acho que percebi a estratégia. Deu-me ideia que houve a convicção que o adversário nos ia atacar em força e que íamos tentar aproveitar para em contra-ataque explorar as evidentes fragilidades da sua defesa nas bolas em profundidade. Só isso explica os atrasos na reposição, enervar o Benfica para que se atirasse com tudo para o ataque. Mas isso não aconteceu. Os da Luz mantiveram o bloco baixo e optaram por ir para a batalha física no meio campo.
Ninguém mais habilitado para saber o que fazer do que o nosso treinador, mas não é essa a postura que me habituei a ver no FC Porto, nomeadamente desde que Sérgio Conceição comanda a nossa equipa. Mais, sabendo o historial dos últimos anos não seria de estranhar que a equipa encarnada entrasse receosa, tentar intimidá-la logo de início parecia-me necessário. Correu mal e nunca esteve sequer próximo de correr bem. Aliás, nem quando ficou claro que o Benfica não ia mudar a atitude nós mudamos de agulha.
O que ainda me está atravessado, porém, foi a sensação que houve uma equipa que estava mais empenhada e que queria mais ganhar, e para minha profunda tristeza não era a minha. Entre duas equipas em claro défice de forma, que ainda estão longe do que podem alcançar esses fatores fariam a diferença, e fizeram.
Não estou preocupado com os da Luz e espero que continuem a jogar o mau futebol que têm apresentado - apesar de terem um plantel caríssimo que se dá ao luxo de ter três pontas de lança no banco que custam por ano cerca de 16 milhões de euros por ano. Já, claro está, não estou nada descansado com o futebol que o meu muito amado clube tem mostrado.
Desde o excelente jogo na primeira jornada que a equipa não se encontra. Contra o Tondela e o Galatasaray houve uma ligeiríssima melhoria, mas voltamos a uma confrangedora mediocridade no jogo de domingo - e não está em causa, neste momento, o resultado.
Francamente, ainda não percebi qual é o plano de jogo para este ano. Não há verticalidade, mas também não há posse de bola. Não conseguimos fazer meia dúzia de passes seguidos e os passes em profundidade não passam de meros pontapés para a frente. O meio campo pressiona pouco e está muito longe dos avançados o que faz com que se ganhem poucas segunda bolas na sequencia dos lançamentos longos. E controlar o jogo, quando necessário, parece uma missão impossível.
Por onde andará a agressividade do ano passado? E a intensidade? E a capacidade de ganhar segundas bolas? E a pressão asfixiante com que sufocávamos o adversário? E o meio-campo, onde anda o nosso meio-campo?
Sente-se uma apatia em alguns jogadores que não é normal. Há demasiados rapazes que dão a ideia de se ter aburguesado.
O Herrera e o Brahimi, por exemplo, parecem ter a cabeça em todo o lado menos no sítio onde devia estar. Já aqui o escrevi mais de uma vez, foi um erro grave da nossa direção não os ter vendido no fim da última época. Um erro de gestão financeira e desportiva, e é ela e só ela que tem na mão estas decisões estratégicas.
Estou, no entanto, longe de pensar que as suas fracas prestações estarão relacionadas com o facto de os respetivos contratos terminarem este ano. Qualquer um deles já deu provas cabais do seu profissionalismo. Mais, não tenho a menor sombra de dúvida que o nosso grande treinador não lhes daria um segundo de descanso e os deixaria na bancada se pensasse que isso estaria a acontecer. Mas que a prestação destes jogadores, sobretudo do capitão Herrera, chega a exasperar não há dúvida.
Ter já o mesmo número de derrotas do ano passado inteiro é um péssimo sinal, mas a procissão ainda nem entrou no adro e dois pontos de atraso à sétima jornada não põem nada em causa, claro está. Mas a equipa precisa de jogar bem mais e bem melhor e com bem mais vontade. Temos jogadores para ter tudo isso e um treinador fantástico.
Talvez seja preciso um abanão na equipa, talvez seja necessário fazer entender a alguns jogadores que no ano passado não fizeram mais que a sua obrigação e que é fundamental mostrarem mais do que o que têm feito e ainda mais do que fizeram: ganhar este ano seria sempre mais difícil. Já toda a gente conhece o nosso jogo, as nossas fraquezas e forças.
É, sobretudo, no Sérgio Conceição que confio. Sei que ele vai pôr a equipa nos trilhos. Não tenho dúvidas que a forma como mostrou, orgulhoso, aos adeptos adversários o símbolo que tem ao peito e, sobretudo, a promessa que nos fez depois do jogo da Luz é a prova de que podemos estar descansados.
Estou certo que as minhas angústias e as, estou certo, de muitos portistas são apenas as normais de quem vive o nosso clube com tanta paixão que qualquer mau momento nos deixa preocupados.
A seleção Ronaldo
Cristiano Ronaldo decidiu tirar umas férias da Seleção Nacional - não havendo qualquer outra explicação e sendo Ronaldo o jogador que é, só pode ser isso. Quando achar que já descansou o bastante deve ligar a Fernando Gomes e ordenar-lhe que Fernando Santos o convoque. Talvez dizer-lhe quais os jogadores que devem ser convocados para que esteja mais confortável - já se sabe que quem não der uma entrevista a dizer que o Ronaldo é o melhor jogador do mundo e arredores não pode ser convocado e que quem disser que o Messi é o melhor jamais poderá ser chamado à seleção, mesmo que seja à altura o melhor defesa direito português.
Talvez seja melhor dar o verdadeiro nome às coisas, a seleção devia deixar de se chamar ‘nacional’ e chamar-se ‘seleção Ronaldo’.
A pouca vergonha da Benfica TV
Como para mim se tornou inviável ir à Luz sem ser no meio de uma claque, tive que ver o jogo no canal do clube da SAD arguida. Aquilo envergonha qualquer pessoa com o mínimo de decência. Os comentários são de um fanatismo doentio, as repetições descaradamente selecionadas em função dos interesses dos da Luz e os comentários sobre a arbitragem feitos pelo inefável António Rola têm de fazer corar qualquer árbitro com o mínimo de dignidade.
Mas ninguém se parece incomodar. Continuamos a viver no único país do mundo em que um clube faz as suas próprias transmissões televisivas e as várias tutelas assobiam para o lado.
Vou poupar os meus leitores à enésima repetição sobre as razões porque isto nunca poderia acontecer num país minimamente civilizado. Só mesmo numa terra em que há um clube que faz o que lhe apetece e que controla (quase) tudo se assiste a esta vergonhosa impunidade.