E o futebol português ficou mais pobre!

OPINIÃO30.11.202002:45

A morte de Vítor Oliveira, 67 anos, foi um murro no estômago da Tribo do Futebol, apanhada desprevenida pela notícia do desaparecimento de um dos seus filhos mais queridos. Porque Vítor Oliveira era o futebol, no melhor que o futebol tem para oferecer. Infelizmente, cada vez mais são os paraquedistas com tempo de antena, que se colocam em bicos de pés, fingindo serem doutores da bola apenas porque dizem que leram alguns livros, armados de palavreado caro, para enganar papalvos, próprio de quem nunca entrou numa cabina e não faz a mais pálida ideia da matéria sobre que pomposamente debitam. Vítor Oliveira era a antítese desta espécie invasora, falava a linguagem do futebol e conhecia, com insuperável profundidade, o fenómeno onde passou a vida.

Igualmente importante foi a forma como sempre se submeteu aos códigos de respeito e à ética profissional do futebol. E esta só a conhece verdadeiramente quem andou lá dentro, quem conviveu com as grandezas e misérias com que os comuns mortais nem sonham, quem compreendeu as angústias e os dramas de quem está exposto à opinião pública e procura, a todo o custo, esconder as fragilidades próprias da condição humana.

Sendo importante lembrar o sucesso de Vítor Oliveira como treinador especialista em subidas de divisão - nunca ninguém fez nada de parecido -, seria redutor limitar a sua figura a esses feitos. Porque ele foi muito mais do que isso, defensor, sem tibiezas, do futebol, alguém que falou sempre com conhecimento de causa  da profissão a que dedicou a vida e nunca se deixou enganar pelos vendedores de fumo, malabaristas da palavra que confundem, futebolisticamente, a prima do mestre de obras com a obra prima do mestre.

O núcleo duro da Tribo do Futebol português sentiu a morte de Vítor Oliveira com uma intensidade que acabou por constituir a melhor das homenagens à grande figura que acaba de desaparecer. E fê-lo de forma genuína e sentida, absolutamente desapegada, apenas pelo reconhecimento de um ser humano de enorme envergadura, que elevou bem alto o prestígio de todos os que cresceram e vivem neste meio. Não sei de que forma estará a FPF a pensar perpetuar o nome de Vítor Oliveira. Mas a passagem terrena deste fantástico embaixador do futebol deve ser assinalada de forma institucional.