É isso, façam-lhe uma estátua!
Como é possível alguém se queixar da falta de treinos para preparar uma medíocre Irlanda?
VISÃO estratégica significa antecipar cenários, olhar para o futuro e saber como se quer chegar lá. Portugal tem uma das melhores seleções do planeta, mas continua amarrado a 2016 pela dívida moral e a falta de crítica (inexplicável) e autocrítica para se ir além dos resultados - como se estes tivessem sustentado de facto o título de Paris, com uma vitória em 90 minutos, diante de… Gales. Ser-se líder passa precisamente por tomar decisões por vezes difíceis e impopulares, e não por tentar passar entre os pingos da chuva.
Não me interpretem mal. A gratidão é bonita e importante, sobretudo num mundo que cada vez mais a despreza. No entanto, se o próprio Fernando Santos resistiu poucos meses a Éder, verdadeiro herói inesperado do Stade de France, também a federação já deveria ter feito o mesmo com o selecionador, dificilmente um predestinado, como os resultados comprovam - mesmo com a bandeira eternamente desfraldada da mítica Liga das Nações - e muito exposto após o descalabro diante da Alemanha.
O discurso do não me interessa jogar bem, eu quero é ganhar, além de não explicar por que realmente se ganham tão poucos jogos em fases finais, confirma que não se sabe mesmo o que é isso de jogar bem. Como é possível alguém se queixar da falta de treinos para preparar uma medíocre Irlanda quando em cinco anos não apresentou um modelo de jogo coerente para lá do baixar linhas e bater longo? Como é possível um meio-campo em losango entrar no relvado sem que alguém saiba o que tem a fazer? Acham mesmo que a Seleção está mais perto de voltar a ganhar desta forma e foi só azar o que aconteceu no Mundial e no Euro?
As dívidas de gratidão devem ser pagas. Façam-lhe uma estátua na Cidade do Futebol ou onde passe toda a gente. Porque é altura de seguir em frente.