E depois dos ‘40 anos disto’?
Os portistas devem tudo a Pinto da Costa. Mas seria um crime contra o próprio FC Porto não começarem, já, a pensar no que se seguirá
PINTO DA COSTA celebrou ontem o 40.º aniversário da sua primeira eleição como presidente do FC Porto. É uma data que deve ser, naturalmente, celebrada pelos adeptos portistas e, no mínimo, reconhecida pelos que não o são. Goste-se ou não da personalidade, concorde-se ou não com alguns dos caminhos escolhidos - alguns deles, provavelmente, faziam sentido em 1982... - por Pinto da Costa para tornar o FC Porto numa das grandes forças do desporto nacional, a verdade é que estamos a falar de um presidente que em quatro décadas elevou o clube da Invicta a uma dimensão estratosférica, não apenas em Portugal mas também na Europa. Isso é inegável. Com muitas guerras pelo meio, com bastante polémica pelo caminho, indesmentível é o facto de Pinto da Costa ter tornado o FC Porto o clube português mais ganhador das últimas quatro décadas. Basta pensar que, além dos títulos internacionais, Pinto da Costa prepara-se para vencer, pela 23.ª vez desde que é presidente, o título nacional. É obra.
São os tais 40 anos disto, frase que saltou para a ribalta pela voz de Frederico Varandas depois do polémico clássico no Estádio do Dragão e que, não surpreendentemente, para os portistas significam uma coisa e para os que não são portistas representa algo completamente diferente. Nada de novo, é uma polémica que ao longo de 40 anos Pinto da Costa fez questão de promover e que, no fundo, alimentou o sucesso dos dragões durante a sua presidência. Um sucesso sustentado pelos números, que fazem de Pinto da Costa o presidente mais titulado do mundo. E contra factos não há grandes argumentos.
O sucesso de Jorge Nuno Pinto da Costa à frente do FC Porto alimentou, contudo, um regime que, à medida que os anos avançam se aproxima do fim. Pinto da Costa pode parecer eterno, mas não é. Será - e há muito tempo que se tem essa ideia - presidente enquanto quiser ou enquanto a saúde lhe permitir, mas, como em tudo, um dia sairá de cena. E, enquanto celebram as quatro décadas da sua presidência, é inevitável que os portistas pensem, também, na sucessão. Não se trata, repare-se, de uma traição a Pinto da Costa. Seria, até, estranho que isso não acontecesse num clube com a dimensão do FC Porto. Porque, e há muitos exemplos disso, um clube com um regime tão controlado por uma só pessoa como aquele que tem (é também um facto indesmentível) o FC Porto sofrerá, sempre, um abalo quando essa figura se afastar. Repare-se, por exemplo, no que aconteceu ao Benfica, ainda a recuperar do afastamento de Luís Filipe Vieira. E Vieira esteve muito menos tempo no poder na Luz do que Pinto da Costa leva no Dragão. Não é, portanto, fácil. Tem, ainda assim, uma vantagem o FC Porto sobre o Benfica: tem tempo para pensar e preparar a sucessão, ao contrário do que aconteceu nos encarnados, apanhados de surpresa num turbilhão de episódios inesperados que arrastaram o clube para uma encruzilhada de que ainda não conseguiu sair. Seria, portanto, uma idiotice que os portistas, ou pelo menos aqueles que têm o dever de zelar pelo futuro do FC Porto, não tivessem começado, e já há algum tempo, a preparar o período que se seguirá a Pinto da Costa. E, em última análise, um desrespeito pelo que Pinto da Costa conseguiu à frente do FC Porto.
AAcadémica caiu para a terceira divisão do futebol português. É incrível como um clube de uma cidade tão vibrante e apaixonada como Coimbra (já acontecera o mesmo ao Vitória de Setúbal) não consegue encontrar os meios necessários para sobreviver entre os grandes (já nem entre os pequenos...) quando outros, com muito menos massa adepta, conseguem fazê-lo. São muitos anos de tiros nos pés e gestões duvidosas que acabam, sempre, por cobrar o seu preço. Sem que alguém seja por isso responsabilizado. Até quando?