Duelos no Oeste
O problema com aqueles clássicos duelos dos westerns, ao pôr do Sol, frente a frente à espera que o bater de hora permitisse sacar a pistola e disparar, é que nunca existiram. Del Cain, investigador americano autor de Old West: good guys , Old West: bad guys e ainda The myth in the Old West gunfight, garante jamais ter encontrado prova de um. A razão: seria absurdo dar ao oponente oportunidade tão fácil para matar.
O que não foi ficção no Velho Oeste foi a febre do ouro no século XIX, que levou a esmagadores movimentos migratórios durante a expansão americana a caminho do Pacífico. Então, muitos prospetores entraram em confronto violento com os nativos, os índios. Por isso, nesta semana a Universidade de Long Beach, na Califórnia, aceitou remover a estátua de Prospector Pete, que representa, justamente, os extratores de minério que desenvolveram a região. Paralelamente, vai cair a mascote desportiva da universidade, um Prospector Pete que passeia, de chapéu preto, camisa aos quadrados e picareta, a encorajar as bancadas. De um lado, nativo-americanos julgam a imagem ofensiva; do outro, desaprova-se o politicamente correto e o desdém pela história.
Pessoalmente, teria interesse em conhecer o limite para reverter coisas assim, incluindo estátuas, nomes de praças, mascotes de clubes ou outras referências. O Arco do Triunfo, em Paris, por exemplo, celebra vitórias napoleónicas sobre países com os quais a França tem, hoje, relações e uniões; e países colonizadores, como o nosso, ergueram monumentos que comemoram uma era também marcada por roubo e escravatura. Cada caso é um caso, não me parecendo simples encontrar resposta certa, uma vez que os argumentos são ambos plausíveis. Esta indecisão, de resto, incomoda-me. É tudo mais fácil quando há duelo marcado e se sabe de que lado se está, qual a nossa verdade. Mesmo que, como nos tais dos westerns, possa ser mentira.