Dragões e leões na luta

OPINIÃO20.10.202107:00

Belas e justas vitórias de FC Porto e Sporting mantêm Sérgio e Amorim na rota da qualificação. Ajax e Liverpool ajudaram à causa

FOI uma terça de arromba para o futebol português na Europa. Duas vitórias que mantêm FC Porto e Sporting na luta pela qualificação. Para os dragões é o costume. Para os leões é uma experiência rara. Rúben Amorim continua a fase de aprendizagem na Champions. Digamos que está a aprender depressa. Depois do catastrófico 1-5 caseiro com o Ajax e da bem mais aceitável derrota mínima em Dortmund (0-1), o campeão nacional conquistou os primeiros pontos e logo com uma vitória indiscutível (4-1) em Istambul. Melhor que o Besiktas em todos os capítulos, o leão passou por calafrios desnecessários muito pela inexperiência, nervosismo e excesso de ansiedade de alguns jogadores ainda muito verdes para esta competição. Só que ontem do lado de lá não estava nenhum Ajax. Amorim, para o mal e para o bem, parece ter um pacto com goleadas europeias e diga-se que a de ontem podia ter sido bem maior, não tivesse Paulinho a pouca sorte de queimar dois tiros nos ferros e Tiago Tomás desperdiçado um golo cantado na última jogada. A qualidade e experiência de Coates (um gigante em todo o campo) e Adán (muralha), assim como os bons desempenhos de Palhinha, Sarabia e Paulinho permitiram ao Sporting não sofrer demasiado com algumas falhas defensivas inadmissíveis (Matheus Reis, por exemplo, parecia o Vinagre do Ajax e Matheus Nunes esteve a milhas do que pode…) que mantiveram demasiado tempo o Besiktas no jogo. Talvez Rúben Amorim devesse ter mexido mais cedo (o meio campo pedia mais pulmão a partir da hora de jogo), mas, enfim, o objetivo de ganhar foi plenamente conseguido e isso é o mais importante.
O Sporting entra na luta pelos oitavos (onde o estupendo Ajax já está com um pé e meio…) e, se voltar ganhar ao Besiktas em Alvalade a 3 novembro, como se espera, garante a continuidade na Europa e avança para as duas jornadas finais em condições de tentar a qualificação. Não é impossível. A única coisa que parece certa neste grupo é a superioridade do Ajax: ontem golearam o Dortmund (4-0) e parecem irresistíveis.
 

Sporting foi muito superior ao Besiktas em Istambul


Quanto ao FC Porto, é a máquina competitiva que se conhece na Champions. Ontem teve mais uma noite condizente com o seu estatuto na competição de clubes mais exigente do Mundo. Fez tudo para ganhar a um Milan que praticamente se limitou a defender. É verdade que os italianos estavam algo desfalcados, mas isso não tira mérito ao FCP, cujo exercício de superioridade foi a ponto de o jogo ter conhecido fases de verdadeiro massacre. Tivesse Taremi a pontaria mais afinada e outro resultado cantaria. Mas o futebol não se faz de ses. Faz-se de golos e ontem só Luiz Díaz teve artes de enganar o keeper romeno Ciprian Tatarusanu. Um resultado lisonjeiro para o vice-campeão italiano, que, lembre-se, precisava de ganhar para ter hipóteses de entrar na luta pela qualificação. Assim, mantém-se a zero. Como o Liverpool fez questão de dar uma ajuda à causa portista - derrotou o Atlético no Metropolitano (3-2) com Salah a facturar pelo nono jogo seguido (!) e Griezmann a borrar a pintura com uma entrada disparatada punida com expulsão (52’)… - Sérgio Conceição mantém intactas as hipóteses de qualificação no alcunhado grupo da morte. O costume…
  

FC Porto mostrou contra o Milan como continua a ser uma máquina competitiva


O «PANZER» NA LUZ

Hoje joga o Benfica. As duas últimas aparições do tanque Bayern no estádio da Luz (em agosto de 2020) foram muito proveitosas: 8-2 ao Barcelona nos quartos e 1-0 ao PSG na final da Champions, a coroar uma campanha inédita de vitórias em todos os jogos (11 em 11). O título europeu  brilhantemente conquistado em Lisboa foi perdido nos quartos de final da época passada em duelo muito equilibrado com esse mesmo PSG (3-3 no final, valeu aos franceses a regra dos golos fora). O Bayern que pisa hoje a Luz continua a ser um panzer de eficácia destrutiva semelhante à de 2020. Atropela o que lhe aparece pela frente e apresenta uma eficácia de tiro devastadora - no último domingo o Leverkusen, a jogar em casa, foi baleado cinco vezes (!) antes do intervalo. O eterno campeão alemão é um cilindro compressor com uma dinâmica, uma velocidade e um poder atlético desconhecidos em Portugal.  
Para o Benfica, à procura de ganhar expressão na Champions, tudo o que for pontuar será um excelente resultado tendo em conta a dimensão do adversário. A derrota será o desfecho normal, pois o Bayern está num patamar muito acima (nenhum jogador encarnado entraria no onze de Nagelsmann) e é um verdugo habitual dos encarnados na Europa (sete vitórias, três empates e 26-7 em dez jogos com o Benfica). Precisa Jorge Jesus de inspirar os seus jogadores para fazerem o jogo perfeito; precisa o Benfica que a Luz não se canse de os incentivar, como aconteceu na noite histórica com o Barcelona. Não há impossíveis - o Frankfurt é a prova disso -, mas o Bayern, em condições normais, fará seis pontos nos dois jogos com o Benfica.
 

SOLSKJAER É ‘MANETA’

CRESCE o clamor um pouco por todo o lado: o norueguês Ole Gunnar Solskjaer, 48 anos, é mesmo maneta; quer dizer, não tem mãos para conduzir o Ferrari que potencialmente habita no Manchester United motorizado com Cristiano, Bruno Fernandes, Pogba, Varane, De Gea, Jadon Sancho, Marcus Rashford, Mason Greenwood, Matic, Cavani, Dalot, Maguire, Bissaka, Luke Shaw, Alex Telles e Fred, entre outros. Dizem as últimas notícias que a Direcção do United estará disposta a investir cerca de 85 milhões em reforços na próxima janela de mercado (janeiro) se - e só se - nessa altura o Manchester ainda estiver na corrida ao título (neste momento vai no 6.º lugar a cinco pontos do líder Chelsea). Como se esse fosse o problema. Jogadores, muitos e bons tem o United. Para dar e vender. Não tem é equipa. Ideia de jogo. Fio de jogo. Disciplina de jogo. Elasticidade. Organização. Consistência, regularidade e continuidade próprias de uma equipa de topo. Nada!
O motor não será perfeito mas está lá, à vista de todos; porém, os esquálidos resultados e pífias performances dos últimos tempos e os reparos do próprio Alex Ferguson reforçam a convicção de que o inexperiente mecânico norueguês não sabe tirar partido daqueles cavalos todos; o que torna a comparação com os treinadores dos rivais (feras consagradas como Klopp, Guardiola e Tuchel) cada vez mais penosa para os adeptos do United. Não sei quanto tempo de tolerância resta a Solskjaer, mas o jogo de hoje em Old Trafford, com a Atalanta de Gasperini - uma bella machina -, correndo mal, pode agudizar ainda mais a situação do atarantado Ole Gunnar antes de um poker de jogos de dificuldade máxima. Anotem: Liverpool (casa), no próximo domingo; Tottenham (fora), dia 30; Atalanta (fora), 2 novembro; e Man. City (casa), 6 novembro. Lembro que Klopp despediu o anterior treinador do United, José Mourinho (a 16 dezembro 2018), no rescaldo de um clássico ganho pelo Liverpool (3-1) com superioridade sufocante. Calhando…