Domingo gordo no Natal
Como prenda natalícia, a Liga portuguesa vai oferecer aos amantes do futebol um domingo gordo em emoções, o próximo. Nem os que seguem as incidências do campeonato à distância ou com desinteresse ficarão indiferentes em face da raridade de na mesma jornada se defrontarem os seis primeiros classificados.
A prova ainda não deu a volta, de aí não poderem extrair-se conclusões sobre os desfechos dos três jogos principais, o que não quer dizer que não ajudem a projetar o futuro com menor margem de erro, tudo dependendo de um fator determinante e que tem a ver com os ganhos e as perdas pontuais que se registarem: se os da frente se afastam ou se os de trás se aproximam.
FC Porto-Rio Ave (1) - O Rio Ave, na sequência do que se lhe tem observado nos últimos anos, deixou de ser simplesmente mais um para reivindicar posição de relevo no contexto da Liga. Competência associada a estabilidade é a simbiose que está na base de uma progressão constante, em que podem mudar os jogadores e os treinadores mas não se ressentem os alicerces da obra. Agora com José Gomes no comando, mas igualmente com idêntica ambição.
Adversário problemático para o FC Porto, seguramente, mas o Estádio do Dragão voltou a ser o santuário em que o estridor que brota das bancadas inibe qualquer visitante. Uma energia que se foi diluindo por razões várias e que regressou, talvez rejuvenescida, com Sérgio Conceição. Diz-se que são os adeptos que puxam pelas equipas, sobretudo nos momentos maus, mas, neste caso, observou-se o inverso: a alegria da equipa e o sucesso por ela alcançado recuperaram uma massa adepta naturalmente desiludida por ter visto o domínio do futebol luso transferir-se para o Benfica.
Este Porto respira confiança. Tem feito muito com pouco e não se cansa de ganhar, como sublinhou o seu treinador. É o campeão em título, justificadamente.
Vitória SC-Sporting (X2) - O Vitória vimaranense está a fazer uma época mais de acordo com a sua história. Luís Castro, porventura o principal culpado neste processo de recolocação do emblema em patamar de referência, recusou recentemente um convite inglês, não trocando o dinheiro que receberia a mais pelo prazer que lhe dá o trabalho que o motiva: fixar o Vitória no quinto lugar e recolocá-lo entre a família europeia.
Não fosse o efeito Keizer, no meu exercício totobolístico atribuir-lhe-ia o estatuto de favorito no jogo com o Sporting, mas a chegada do treinador holandês revolucionou o futebol leonino. Libertou-o de fantasmas. No essencial, e em tão pouco tempo, colocou largo sorriso em cara tristonha: 25 golos em seis jogos são muitos golos…
O Vitória, a jogar em casa, não é fácil de dobrar, mas o Sporting, em estado de graça, vive ainda as sensações de uma espécie de viagem de núpcias: o casamento com Keizer depois da separação com Peseiro. Uma chicotada que, até prova em contrário, devolveu os índices de confiança aos jogadores, porque o talento e a vontade já lá estavam. Más notícias para Castro? Provavelmente, sim.
Benfica-SC Braga (1X2) - Dos seis da frente, o Benfica é o que mais tem a perder. Fracassar diante do Braga, assistir ao triunfo do FC Porto com o Rio Ave e ficar a sete pontos do líder. É a realidade nua e crua e como a sensatez não sugere que se fique à espera de um milagre no Estádio do Dragão, outra saída não se vislumbra à águia senão a de suplantar o ambicioso adversário. Em condições normais poucas interrogações se levantariam, mas tal como as coisas se nos deparam, de que o jogo da Madeira constitui o último exemplo, esta equipa do Benfica não entusiasma. Vai ultrapassando obstáculos, mas em serviços mínimos. Explica-se Rui Vitória afirmando que a retoma tem de ser feita desta forma. Retoma de quê? De ter desperdiçado seis pontos (suficientes para neste momento ocupar a liderança do campeonato, dois pontos acima do FC Porto) em duas abordagens negligentes, com Belenenses e Moreirense, à semelhança de outras no passado e que lhe fizeram perder o penta? O que mais deve preocupar os benfiquistas é a relutância de Vitória em mudar e a sua teimosia em não admitir o erro.
Não quero ser antipático, mas para satisfazer a minha curiosidade gostaria de ver um jovem como Zivkovic, com aquele mágico pé esquerdo, nas mãos de Sérgio Conceição.
Esta equipa do Braga é a consequência de uma estratégia pensada e aperfeiçoada. Reparo em Abel Ferreira e cruzo-me com um treinador lúcido, de risonho futuro, traumatizado pela eliminação com o Zorya, mas sabedor, de ideias claras, em veloz ascensão e que, confessa, o que mais lhe custa «não é escolher quem vai jogar, mas escolher quem vai ficar de fora».
Uma preocupação que importuna pouco Rui Vitória: em plantel generoso em soluções jogam quase sempre os mesmos. No domingo, está obrigado a ganhar, sob risco de não mais se falar em reconquista no reino da águia, além de entrar em campo com a sensação de um vazio profundo por ser difícil descortinar adepto que o identifique como meu treinador. Por culpa própria exclusivamente. A equipa não melhora, ele não comunica e o presidente vai vendo e ouvindo para decidir quando e como entender.