Do Pedroto
Vendo um mar azul no reboliço da sua felicidade, em A BOLA TV, afirmei o que outras vezes já afirmara: que o principal responsável pelo título do FC Porto é Sérgio Conceição. Disso, o Fernando Guerra, não discordou - mas ouvindo-me acrescentar:
- … e foi-o por ter resgatado o espírito de Pedroto que o FC Porto perdera
o Guerra já não concordou. E, para mim, a razão está, toda ela, aí. Alcino Pedrosa lembrou-me que Pedroto foi o que foi por ter aprendido o que aprendeu com Cândido de Oliveira: que a construção de uma equipa é, antes de mais, um processo de criação - e que, por isso, ele, o Pedroto, lhe disse, filosófico, uma vez:
- Onze jogadores por si só não fazem uma equipa como também uma rocha não faz a obra do escultor. É necessário um trabalho de desbaste que vá dando forma à massa informe. É na ligação das partes ao todo que se consubstancia a alma e se assimila a ideia de jogo.
Sérgio Conceição criou a ideia de jogo fazendo com que os seus jogadores tivessem sempre a baliza do adversário entre os dois olhos e procurassem que a parte mais importante do campo no seu jogo fosse a área onde estava a baliza que tinham de ter sempre entre os olhos. Pondo nela a alma quente (o lado mais passional do espírito de Pedroto), descobriu como vencer fazendo bem o que era preciso fazer para vencer e fazendo ainda melhor o que era preciso fazer para não perder o que tinha de vencer - para lá da sua aptidão técnica e da sua argúcia tática. Sim: sem esse espírito do Pedroto, o FC Porto não teria ganho o campeonato do modo eloquente como o ganhou mesmo contra erros de árbitros e VAR (e anónimas manigâncias...) Sem esse espírito do Pedroto, Sérgio Conceição não teria sido o que um líder deve ser para o Kissinger: alguém capaz de levar pessoas de onde estão para onde nunca estiveram. E sem esse espírito do Pedroto, nem o treinador nem os seus jogadores teriam sido melhores do que são, melhores do que se imaginava que pudessem ser - o sonho no seu sonho.