Delito de opinião?
O Boavista cometeu 25 faltas e o Sporting 13. Nesse minuto, Fábio Veríssimo mostrou o cartão a quem tinha que mostrar
N O fim de semana passado ocorreram dois resultados para meu contentamento, no meio do meu confinamento: um, numa competição desportiva; o outro, numa competição política! No sábado, ganhou o meu clube a final da Taça da Liga contra o clube assumido pelo Presidente da República; no domingo, Marcelo Rebelo de Sousa venceu a eleição presidencial - ganhei eu e ganhou Portugal! Em ambos os casos triunfou o mais competente: no futebol, o Sporting foi o mais competente; na eleição presidencial, não só ganhou o mais competente, como era o único candidato competente para o lugar.
Com efeito, quando da eleição presidencial de 2016, a acusação que faziam a Marcelo Rebelo de Sousa - pasme-se! - era a de que se tinha preparado para ser presidente desde pequeno! Na altura escrevi que se não tivesse decidido desde a primeira hora que votaria nele, esse argumento seria decisivo para votar nele. Estou farto daqueles que se candidatam a presidentes seja do que for, apenas, e tão só, por oportunismo, isto é, aproveitando as circunstâncias de um momento na vida. Sempre defendi que um homem que se apresenta para ocupar um lugar público (e até privado) tem a estrita obrigação mental e moral de verificar se os seus ombros serão capazes de arcar com as correspondentes responsabilidades. Os protagonistas nesta competição eram sete, mas estou seguro que, para além de Marcelo, nenhum dos outros fez uma avaliação correcta das suas responsabilidades perante esta terrível pandemia que assola Portugal e o mundo inteiro! Por isso, eu digo que quem ganhou no domingo passado foi o nosso País, pois outra solução seria, provavelmente, uma catástrofe sem retorno. Pelo menos, a esperança mantém-se!
Na final da competição desportiva, os protagonistas eram vários, e foram eles os medalhados pela sua presença na final. Ganhou o Sporting! Glória ao esforço, à dedicação e à devoção dos homens de verde, honra aos vencidos de encarnado que constituem uma excelente equipa!
Dos medalhados, só o árbitro Tiago Martins e o 4.º árbitro Manuel Mota não fizeram jus a essas mesmas medalhas, porque tudo fizeram para serem os protagonistas pela negativa, como aliás é timbre deles e não só. Tiago Martins pela espectacularidade dos seus gestos nem terá dado conta do ridículo; Manuel Mota é um caso mais que reconhecido de incompetência. O talhante ou magarefe de Braga pode ter muito jeito para cortar costeletas ou bifes do acém, mas não tem um mínimo de competência nem para arbitrar um jogo da distrital, para não ir mais além no meu juízo! O açougueiro ficou muito incomodado com a troca de palavras entre os treinadores e vai daí chamou o colega de apito para os tirar do banco com a amostragem do cartão da cor da sua preferência!
Os comentários que ouvi a esta arbitragem não ajudam nada à mesma, porque subjacente à análise técnica está sempre uma opinião corporativista que em nada contribui para a sua melhoria, antes pelo contrário. Na SIC Notícias, Duarte Gomes não deu opinião sobre as razões que levaram à falta de bom senso naquela atitude dos árbitros numa final. Ele deveria dizer que quem não tem bom senso não pode ser um bom árbitro, mas não fez mais considerações porque não queria cometer um delito de opinião. Foi esta afirmação que deu origem ao título desta minha crónica, onde, do ponto de vista de Duarte Gomes, cometerei vários delitos de opinião.
Acontece que os delitos de opinião são próprios de um estado totalitário que terminou, pelo menos teoricamente, no 25 de Abril. Era o Portugal amordaçado sobre o qual escreveu Mário Soares. Mas por ele e outros democratas foi elaborada uma Constituição que consagrou o princípio da liberdade de expressão e divulgação do pensamento. O delito de opinião é um viés num pensamento democrático. Eu percebo que certos agentes desportivos falem de delito de opinião, porque muitos deles são fervorosos adeptos da transformação da opinião em delito disciplinar, incapazes que são de lidar com a crítica!
Mas, poucos dias depois, mais um árbitro a ser o protagonista e o artista do dia: Fábio Veríssimo! Oitenta minutos de jogo, sem um cartão amarelo, num jogo em que o Boavista cometeu 25 faltas e o Sporting 13. Nesse minuto, mostrou o cartão a quem tinha que mostrar, para o tirar do dérbi. Esta a minha delituosa opinião sobre o manifesto atropelo à verdade desportiva.
Todos os habituais analistas apontaram o erro de Fábio Veríssimo, destoando apenas Marco Ferreira e José Leirós que quiseram lembrar a todos, que continuam a ser tão incompetentes como quando traziam o apito na boca! São coerentes!...
Duarte Gomes está entre os que criticaram negativamente aquele cartão amarelo: «O seu único erro visível foi a advertência a Palhinha. A eventual meia falta cometida pelo médio do Sporting não cortou um ataque prometedor nem foi negligente. Para efeitos de análise técnica per si, as consequências exteriores dessa decisão serão sempre contas de outro rosário. No que diz respeito a esta crónica, o que sobressai - além da má leitura do momento - é a incoerência daquela opção face à forma como foram (bem) avaliados lances anteriores. Acresce que as indicações que os árbitros têm é para mostrarem o primeiro cartão amarelo no momento certo, perante uma infração clara e indiscutível. Porquê? Porque é aí que fixam, aos olhos dos intervenientes, a linha que separa o tolerável do que deve ser penalizado. Ontem não correu bem nesse aspecto.»
Meu caro Duarte Gomes: não estou de acordo quando diz que a arbitragem foi globalmente competente, por causa da «má leitura do momento» - sempre um mau momento como desculpa. Foi esse, exatamente, o momento mais «competente», mas como diz, e bem, são contas de outro rosário de que não quer falar, para não cometer delito de opinião!...
São, realmente, contas do rosário que variam consoante o padre que reza à missa, como já vi escrito em qualquer lado! E a incoerência meu caro, também é conta de outro rosário ou, pura e simplesmente, falta de honestidade? Incoerência, contradição, dois pesos e duas medidas, para si, são qualidades ou defeitos de carácter?
Não, não há delito de opinião, quando distinguimos os erros intencionais dos erros grosseiros, resultantes apenas da incompetência para a profissão de árbitro! Delito é ir contra a verdade desportiva; delito é estes senhores continuarem a arbitrar jogos de futebol profissional. Delito, em co-autoria, de quem os manda arbitrar e de quem executa a arbitragem!
A rã e o boi
É o título de uma das mais conhecidas fábulas de Esopo que conta a história de uma rã que se encontrava num charco de água e viu aproximar - se, para beber um pouco de água, um boi cujo tamanho lhe despertou a atenção. A rã era muito pequena, e ao ver o corpulento boi encheu-se de inveja e decidiu inchar até o igualar na grandeza. E tanto inchou que rebentou!
Dizem os entendidos, que esta é a moral da história: o mundo está cheio de medíocres que, por inveja, mostram-se diante dos outros como grandes senhores.
Lembrei-me desta história no final da Taça da Liga, a propósito de alguém que fala quando perde com o Sporting, mas fica mudo quando leva goleadas dos adversários da sua cor.
Lembrei-me também que, há uns anos, o seu amigo e ex-presidente do Sporting Clube de Portugal, Engenheiro Godinho Lopes, no final de um jogo lhe foi mostrar o Museu. Tentou passar-lhe uma mensagem de uma forma simples e educada, mas, pelos vistos, não produziu o efeito desejado! Julgo que Godinho Lopes continua a ser amigo dele, pelo que lhe recomendava que, no próximo Natal, lhe oferecesse uma edição infantil daquelas fábulas de Esopo, onde está a que referi e outras!...