Deixem o Sporting jogar à bola!

OPINIÃO15.12.201803:38

Quando um português liga o complex, não há povo algum que se lhe compare. Somos os melhores do mundo a complicar, os melhores do mundo a fazer reuniões para marcar reuniões e os melhores do mundo a querermos ouvir-nos falar. Haverá, no mundo, melhores do que nós na vaidade de se ver ao espelho, no orgulho nacionalista, na capacidade empreendedora, na conquista do espaço, na prevenção rodoviária, no sistema da educação e da saúde, mas ninguém nos ultrapassa na paixão de falar, de dizer, de opinar sobre o que julgamos saber e achar sobre o que de nada conhecemos.

Haverá, por esse mundo de Deus e dos homens, povos unidos. Em Portugal temos um povo, mais do que unido, reunido. A reunião não é uma oportunidade de decisão, mas um indisciplinado espaço de convívio. Nas empresas, na política, na sociedade, as reuniões portuguesas servem para se falar de futebol e as reuniões sobre futebol servem para falar da vida, da política, da praia, do que for possível falar que não lembre futebol.

A mais institucional das reuniões é a assembleia geral. Os clubes desportivos inventaram-nas desde que nasceram e ainda hoje, em muitos casos, mais de um século passado, continuam a resolver os altos interesses do clube pelo voto em assembleias gerais de sócios que, não raras vezes, votam sem fazer a mais pequena ideia do que estão a votar. Cem anos depois já não se decide a honra num duelo à espada ou ao tiro de pistola num descampado, nem sequer se corre o presunçoso a chicote, como se fosse uma mula, mas cem anos depois, os clubes continuam a entender que a democraticidade das decisões estará em risco se os problemas não forem votados por quem não faz a mais pequena ideia do assunto que vota.

Sim, mas os estatutos são para cumprir - afirmam os mestres da legalidade jurídica. E é verdade. Os estatutos são a constituição dos clubes, mas muitas dessas constituições remontam ao século XIX. Vêm do tempo da monarquia e, no mínimo, deveriam ser ajustadas aos tempos e aos homens deste século XXI.

Hoje, o Sporting reúne-se em assembleia geral extraordinária para decidir num grupo qualificado de leigos em matéria de leis e de regulamentos, uma boa parte dos quais, nem conhecerá os factos, o que uma comissão tecnicamente competente já tinha decidido. O risco é óbvio. Haver uma decisão final (a favor ou contra a suspensão de seis sócios e a expulsão de outros dois) num registo de tribunal popular que culpa ou absolve pelo que acha ou parece que é e não pelo que realmente é.

Isto, se tudo correr pelo melhor; ou seja, se não se registar, como na última assembleia, um ambiente de perturbação e de ameaça que, por si só, afasta definitivamente qualquer teoria sobre a decisão democrática e livre.

  Não deixa de ser curioso que a Ordem de Trabalhos apenas refira, para cada caso devidamente individualizado, incluindo a suspensão do ex-presidente Bruno de Carvalho (ponto 2), a deliberação e não a prática da discussão. Sabe-se porém, que a opção foi mais papista do que o papa e lá teremos a inevitável e ineficaz discussão que  se teme de muito difícil gestão.

O mais lamentável de tudo isto é que o Sporting estava, finalmente, a conhecer tempos de estabilidade institucional e desportiva. A equipa de futebol profissional joga com alegria, com eficácia, ganha jogos, faz golos, cria espetáculo e começa a justificar um renovado entusiasmo por parte dos adeptos. E como tudo estava a correr bem, havia que encontrar umas pedras no caminho para as meter no sapato do caminhante. Por amor de Deus, parem a guerra e deixem o Sporting jogar à bola.

O juiz decide. E quem cumpre?

O Clube de Futebol Os Belenenses vive momentos de autossatisfação. Anteontem, anunciava a segunda decisão do tribunal em obrigar o que antes se chamava Belenenses SAD a mudar de nome, a mudar de símbolos, a mudar de hino e a confirmar o pagamento diário de uma multa de 3000 euros. Falta, ao que parece, alguém que faça cumprir a decisão do juiz. A SAD não parece convencida de que tem mesmo de acatar essa decisão e, pelos vistos, tem apoio na conivente passividade de uma Liga que só não se quer queimar.

O mais valioso é o conhecimento

A Europa prolonga a agonia da crise. Há muitas teorias sobre esse facto, mas a mais séria e realista é a que encontra razões na ausência de líderes inteligentes e lúcidos, com força suficiente para travar o poder económico e a sua natural atração pelo abismo. Em comparação com continentes como a América ou a Ásia, a Europa nunca poderá competir diretamente na economia, e é precisamente por isso que deve apostar no saber e no conhecimento. Mesmo nos tempos que correm, nada é mais valioso do que o conhecimento.