Da televisão para a bancada!
N A semana passada escrevi aqui da minha visão do chamado banco dos suplentes dos pontos de vista do espectador de futebol e do dirigente que nele tem de se sentar.
Fui claro em esclarecer que não gosto de ver futebol do banco enquanto espectador. Já sabia antes, mas no sábado passado confirmei que um espectáculo de futebol é para ver na bancada, ao vivo e a cores, e não no banco ou no sofá. O teatro tem actores e tem de ter público; o futebol implica jogadores e adeptos de futebol!
Em Fevereiro passado completei cinquenta e oito anos de sócio do Sporting Clube de Portugal e, neste tempo todo, não me lembro de ter passado um mês sem ver um jogo de futebol ao vivo, quanto mais 17 meses que incluem a estreia de Rúben Amorim como treinador do Sporting, isto é, desde Fevereiro de 2020 que eu não entrava num estádio para ver futebol! Acho mesmo que, nestes 17 meses, consumi mais jogos de futebol na televisão que no resto da minha vida! E para isso tive de substituir o pequeno écran por uma televisão a sério, caso contrário perdia o gosto por este espectáculo.
Calculam pois os meus caros leitores como me senti quando entrei no Estádio da cidade de Aveiro para assistir a final da Supertaça entre o meu Sporting de Portugal e o de Braga. Pediram-me a certidão de vacinação e o bilhete, tiraram-me a febre e até me poderiam mandar despir todo que eu estava disponível desde que pudesse assistir ao jogo ao vivo. Que saudades tinha!
Foi uma sensação voltar a estar perto dos adeptos do Sporting, daqueles que habitualmente assistem ao futebol perto de mim, dos naturais e residentes de Aveiro e tantos outros. De um lado, o meu cunhado, tiffosi da Juventus e adepto do Sporting, e do outro o meu querido amigo e consócio Jorge Galrão! Difícil mesmo é só o distanciamento social, sobretudo quando o Sporting marca golos, e que belos golos marcaram Jovane e Pedro Gonçalves!
Foi uma pena não ter visto o Sporting 2020/2021 ao vivo. Aquilo a que assisti no passado sábado deixou-me uma profunda tristeza apenas por não ter visto esta equipa jogar com a visão do campo todo. Que bom ver este Sporting jogar no primeiro jogo oficial da época.
Temos muitos e muito bons jogadores. Da época passada apenas não está o João Mário que o Inter não vendeu ao Sporting porque preferiu dá-lo ao Benfica! Para lhe dar a classe que este não tinha, para citar Jorge Jesus! Em minha opinião ficamos a ganhar porque assim damos oportunidade para outros mostrarem a sua classe, como foi o caso de Matheus Nunes neste jogo. Que pena se este jogador sair!
E ontem, em Alvalade, quase todo a vestir de verde, assistimos a outra bela exibição da nossa equipa, que a comunicação social teima que necessita de se desfazer de vários jogadores! E mais dois golos fantásticos do internacional Pedro Gonçalves, a mostrar que esteve mal Fernando Santos quando não lhe deu oportunidade.
Mas eu estou como o Rúben Amorim, mais uma vez descontraído e assertivo na conferência de imprensa: que o presidente e o Hugo Viana não deixem sair ninguém. E acho que Amorim merece um sacrifício da nossa parte!
Na verdade, temos um projecto desportivo num caminho certo e com um rumo de sucesso garantido. Há necessidade, porém, de o sustentar. É esse o grande desafio, que temos todos de enfrentar com coragem, determinação e sem tabus, para que o projecto desportivo não se fique por vender jogadores!
Pedro Gonçalves continua de ‘pé quente’
GIL VICENTE
Dar o título de Gil Vicente a uma parte de um artigo de um jornal desportivo não implica falar de um dos clubes da Liga Bwin, como é o caso deste. Simplesmente, quero agora e aqui falar de farsas, e, quando se fala disto, a todos ocorre o nome de Gil Vicente (1465-1536), dramaturgo e poeta português, considerado o fundador do teatro em Portugal.
Consta da sua biografia, que escreveu mais de quarenta peças, algumas em espanhol e muitas em português, onde criticou de forma impiedosa toda a sociedade do seu tempo, constituindo a sátira, muitas vezes agressiva, o valor do teatro vicentino. Na sua observação satírica não deixou ninguém de fora, papa, rei, clero, feiticeiras, alcoviteiras, judeus, moças casadouras e agiotas. A sua galeria de tipos é rica e vários tipos foram ridicularizados. São famosas as suas farsas - género teatral de carácter caricatural.
Como todos sabem, farsa significa comédia cómica, um acto ridículo, uma impostura, uma pantomina. O futebol português está cheio de farsas, umas de enredo curto e outras de maior enredo, com um só acto ou mais que um e muitos ou poucos actores. O género teatral é de enredo curto, um acto apenas e poucos actores; no futebol há de todos os géneros e para todos os gostos!
Muitas vezes, ao olhar para a sociedade portuguesa, seja a da política ou a do futebol, ou outra qualquer, lembro-me de um dos maiores escritores da língua portuguesa, Eça de Queiroz, e questiono-me o que escreveria sobre ela, designadamente sobre os Conselheiros Acácios que descortinaria nesses sectores da nossa sociedade. Como alguns sabem e outros fingem não saber, o Conselheiro Acácio é uma das personagens da obra O Primo Basílio. Esta figura fictícia criada por Eça de Queiroz tornou-se célebre como representante da mediocridade dos políticos e burocratas portugueses dos finais do século XIX, mas que se mantém actual quando utilizada para qualificar certos idiotas e pseudo-intelectuais, considerados figuras públicas portuguesas. Daí o termo acaciano, designação utilizada para tais figuras ou para as suas afirmações!
A propósito de acacianos, apareceu agora um novo cartilheiro benfiquista, o deputado Hugo Oliveira! Quanto ao cartilheiro, não tenho nada a opor, porque é problema do Benfica; já quanto ao deputado, apenas um comentário: pobre país que tem um representante do povo destes!
Nesta semana, porém, não foi tanto o Eça de Queiroz que me veio à memória, mas antes Gil Vicente, não porque tenha assistido à Farsa de Inês Pereira ou outra da sua autoria, mas sim por certos episódios cómicos a que assisti na televisão por ocasião do Spartak-Benfica!
Primeiro acto, enredo curto, um actor apenas: a dedicatória de Jorge Jesus ao seu amigo Luís Filipe Vieira, de quem será sempre amigo. Foi este que o foi buscar da primeira vez por seis anos, tendo-o segurado primeiro para não ir para o Porto, depois contra a opinião de muita gente; da segunda vez foi ao Brasil buscá-lo por um milhão e de jacto privado, o que também custou uma pipa de massa para um simples mortal. Pelo meio, num acto de gratidão que mais relevo dá à gratidão de Jesus, uma acção contra este, no valor de catorze milhões de euros, com uma acusação, entre outras, de roubo de software e um enxame de cartilheiros desfazendo Jorge Jesus, a mando do mesmo Vieira.
Mas disto se esquece a comunicação social e a cartilha omite. Jorge Jesus foi descartado, acusado, atacado e acionado, mas está grato. Enfim, enredo curto, dois actores apenas, em 3 actos: a farsa da amizade!
Depois, o dueto Jorge Jesus/Rui Vitória, muito explorado por toda a comunicação social, com opiniões para todos os gostos. Esteve bem Jorge Jesus com palavras dignas dum perdoa-me; esteve bem Rui Vitória que manteve a dignidade e a memória. Diamantino Miranda, em comentário, disse que também não cumprimentaria quem o tivesse achincalhado.
Ao fim e ao cabo foram ambos achincalhados, mas com reacções diferentes: um está grato e o outro continua chateado! Um gosta de farsas e o outro ... nem por isso! Gil Vicente, se fosse vivo, teria temas para muitas farsas: do rei dos leitões ao rei dos frangos, da gaiola de Moscovo a outras ... gaiolas!