Da dependência
Ao abrir-se do Portugal-Suécia, olhando para o campo e não vendo lá Ronaldo, o que me saltou ao pensamento foi a pergunta: o que é que faz um craque no futebol e o que é que o craque pode fazer no futebol? Não me tardou a ter resposta a cada passe, a cada drible, a cada corte, a cada remate, a cada defesa, a cada golo: o que faz um craque não é só o talento que se pode ter nos pés é também o coração que se tem na cabeça, é a classe e a esperteza, o orgulho e o caráter - e tudo isso a seleção me foi mostrando, no tempo a correr, refinado, nos seus jogadores - e no seu treinador.
No seu treinador? Sim! Sempre que escuto comentários à falta de boniteza de jogo no Portugal de Fernando Santos, saltam-me à ideia os idiotas da objetividade das crónicas de Nélson Rodrigues. Não, não é por acaso que o exemplo acabado do idiota da objetividade do Nélson Rodrigues é o pior dos cegos, o cego que, no futebol, só vê a bola - e o que a sua seleção voltou a revelar foi que jogar bonito é uma coisa (e poucos foram os momentos em que jogou feio), jogar bem é outra coisa. Que jogar bem é jogar da melhor forma para ganhar um jogo - não é jogar-se em enleios para se ganhar um concurso de beleza. E que jogar bem é jogar para não deixar o adversário jogar melhor - sem que algum dos seus jogadores se agarrem a dúvidas e medos, se percam em destrambelhos e tontices. Foi o que aconteceu, em Alvalade. Mais ainda: Ferguson afirmou-o, sagaz:
- Um bom treinador consegue que os seus jogadores acreditem nele e um excelente treinador consegue que os seus jogadores acreditem neles mesmos...
e, o que eu viu do Patrício ao William, do Pepe ao Bruno Fernandes, do Diogo Jota ao Bernardo Silva (e dos demais) foi jogadores a acreditarem sempre mais em si próprios (e no melhor de si) - e a acreditarem que não há sonho que não lhes seja possível. E ter-se fechado o jogo sem eu ter dado, afinal, pela falta do Ronaldo diz tudo o que esta seleção é (e pode ser) - e o seu treinador também.