Cruyff e Amorim

OPINIÃO25.03.202105:05

O que Rúben Amorim está a fazer no Sporting visto à luz do jogo de cabeça do Cruyff

DIZEM-ME que o Cruyff, esse génio que jogava futebol com o cérebro, morreu há cinco anos - e é mentira. Não morreu (nunca morrerá) e continua, esperto e insinuante, dentro de cabeça de quem, a cada dia que passa, torna melhor o futebol. Nos últimos tempos tenho-o visto no Rúben Amorim, num dos seus mais famosos ditos:
- Jogar futebol é muito simples, difícil é jogar um futebol simples.
Ao Cruyff, tenho-o visto no Rúben Amorim - a soltar-se da sua ideia de jogo, do espírito desse seu jogo assim:
- O melhor futebol joga-se com a cabeça, as pernas só lá estão para ajudar. No campo há apenas uma bola, precisas de a ter porque se a tens, podes marcar golo e o adversário não. Se a tiveres tens de fazer com que o campo seja o maior possível, se não a tens, tens de fazer com que o campo fique o mais pequeno possível.
Se isso é o que se vai vendo em mestria num Sporting como se não imaginava  - é, também, porque Rúben Amorim tem tido a argúcia para meter dentro dos seus jogadores, outros dos sagrados mandamentos de Cruyff:
- No futebol confunde-se velocidade com perspicácia e esse é erro fatal: se eu começar a correr antes de outro qualquer, pareço mais rápido, mas posso não estar a tomar a melhor decisão. Também se confunde técnica com circo.  Boa técnica não é dar 100 toques sem deixar a bola cair, é passar a bola com um toque, à velocidade correta, para o pé certo.
Esses são igualmente pecados depurados neste Sporting a caminho do que  se adivinha: ser campeão. E sendo-o, há de sê-lo, pois, em suma, porque Rúben Amorim conseguiu fazer de uma das mais filosóficas afirmações de Cruyff a perfeita metáfora da argúcia com que foi transformando o chumbo em ouro:
- Existem poucos jogadores que sabem o que fazer quando não estão marcados e é por essa razão que eu costumo dizer aos meus: se aquele avançado é muito bom, então não o marques que, assim, vamos ganhando mais com isso...