Crítica e ingratidão!...
Por este andar, comemorar os cinquenta anos do 25 de Abril, no que toca à liberdade de opinião e crítica, pode ser apenas uma miragem
J Á escrevi aqui várias vezes, além de o sustentar noutros locais e ocasiões, que não há que confundir crítica com deitar abaixo ou simplesmente má língua, que é o acontece hoje com frequência, designadamente por essas redes sociais, que a meu ver põem em causa a liberdade de expressão e opinião, direito fundamental de qualquer democracia.
Continua a haver quem se bata à luz do dia, sem artimanhas e com todos os dados sobre a mesa, mas há cada vez mais anónimos que por essas redes sociais só insinuam e dizem falsidades, num exercício raivoso da sua mediocridade mental e da mais completa falta da carácter.
A crítica deve servir para esclarecer, moralizar, ensinar, de forma serena ou contundente, mas sempre segundo princípios de lealdade, com o intuito de corrigir aquilo que se pensa ser errado, e não, pura e simplesmente, para descobrir mazelas e defeitos.
Devemos todos combater a crítica com o propósito de confundir ou falsear, vazia de ideias e desbragada na linguagem. Este tipo de crítica é dissolvente, e na maior parte das vezes gerada pelo despeito e pelos conflitos de interesses.
O direito a criticar e a emitir opinião não pode ser diminuído pela forma como alguns o exercem e que nada tem a ver com a crítica ditada pelo senso crítico que deve existir em qualquer espírito que sabe o que quer e para onde vai. E tal sentido crítico não pode, nem deve, ser limitado por sentimentos, designadamente pela gratidão ou ingratidão.
Nos últimos dias, particularmente após a eliminação de Portugal nos oitavos de final, temos assistido a alguns personagens sustentar, por mais incrível que pareça, que criticar as opções do selecionador nacional, engenheiro Fernando Santos, é um acto de ingratidão, isto é, a conquista do Europeu em 2016 e da Taça das Nações isenta-o de críticas. Poucas vezes - mas estão a crescer - se ouvem disparates deste tipo, que atentam verdadeiramente contra a liberdade de expressão e opinião, logo contra a própria democracia.
Acusar alguém de ingratidão é acusar de falta de gratidão, é apontar-lhe um defeito de carácter! A ingratidão, na verdade, é um sentimento abominável e, por isso, é de uma clara estupidez confundir esse sentimento com uma crítica sobre as opções de cada um numa determinada matéria.
Se se disser que Fernando Santos não é um homem honesto, que não é serio nas suas convicções, que faz fretes e protege interesses, tão pouco é ingrato, mas apenas um bota-abaixo ou uma má língua! Não é desses que estamos a falar, mas daqueles que interpretam uma ideia do selecionador com a qual não concordam e a substituem por outra, que apreciam o trabalho do mesmo com uma ideia de aperfeiçoamento ou de renovação, que defendem, fundamentadamente, que devia ter optado por este ou por aquele jogador, por este ou por aquele sistema táctico. Qualificar isto de ingratidão é quase tão idiota como dizer que só podem falar sobre essas matérias os outros treinadores ou jogadores, quem «andou lá dentro» - expressão muito usada por quem não gosta de ser criticado. Qualquer dia não podemos criticar, nem vigaristas, nem ladrões, nem corruptos ou burlões porque nunca fizemos uma vigarice, um roubo ou uma burla, nem somos corruptos. Se o ridículo pagasse imposto, o equilíbrio do orçamento estava garantido!...
Para os defensores de Salazar, os que o criticavam defendendo a democracia e a liberdade de expressão e opinião também eram acusados de ingratos, assim justificando a censura e a prisão dos opositores. Lamento que os ditos, mas apenas pretensos democratas, tenha exactamente a mesma reação relativamente às críticas a Fernando Santos. Grão a grão enche a galinha o papo, e são pequenos actos e comportamentos que todos juntos conduzem à ditadura e à censura, ao fim das democracias. Felizmente que ainda há jornalistas que pouco ligam aos comentadores que se limitam a defender interesses corporativos. Por este andar, comemorar os cinquenta anos do 25 de Abril, no que toca à liberdade de opinião e crítica, pode ser apenas uma miragem, porque a liberdade de imprensa é essencial para a vida em democracia!...
Eu tenho, por diversas razões - entre as quais o seu carácter e as suas profundas convicções - a maior estima e consideração por Fernando Santos, mas isso não me impede de ter opinião diferente no que respeita às suas opções. Estou grato a ele e aos jogadores pelo que fizeram em 2016, mas não lhes faço a ofensa de dizer que estão isentos de crítica, seja por essa razão, seja por qualquer outra. Seria considerar Fernando Santos um homem perfeito que é aquilo que ele não se sente, até porque a sua profunda convicção religiosa lhe impõe a humildade que efectivamente tem e cultiva.
Estou grato a Fernando Santos, como Fernando Santos estará grato pelo apoio que tem recebido, das mais diversas naturezas. Como grato ficarei àqueles que querem ser mais Fernando Santos que o próprio Fernando Santos, e que só o diminuem, se se calarem com essa história ridícula da ingratidão.
Fernando Santos viu a Seleção Nacional eliminada nos oitavos de final do Euro-2020
JOÃO PAULO VARANDA
E M dia de comemorar o nascimento do meu clube - 115 anos verdadeiros ao serviço de Portugal - tive de homenagear quem o servia há muitos anos, estando presente na Missa do 7.º dia do seu falecimento prematuro, vítima de uma doença ainda mais traiçoeira que o Covid-19! Num momento em que vivemos com alegria e júbilo as nossas vitórias, numa época extraordinária, João Paulo Varanda não merecia que a morte o apanhasse, não o deixando viver a glória para a qual contribuiu com seu esforço, dedicação e devoção. Foi verdadeiramente um dos nossos que partiu, quando ainda tinha tanto para dar, ao serviço do Sporting Clube de Portugal, através do Núcleo do Sporting Clube de Portugal de Vendas Novas ou de qualquer outra via.
Os Núcleos do Sporting Clube de Portugal são membros importantes da Família Sportinguista, na medida em que eles são a expressão da nossa dimensão nacional e internacional, porque existem em toda a parte do mundo e são grandes defensores e promotores do ideal leonino, como tive muitas ocasiões de testemunhar, vivendo cá, e lá fora, as emoções do que é ser do Sporting!
Não quero menosprezar qualquer Núcleo do Sporting e respectivos dirigentes, mas permitam-me dizer que João Paula Varanda era uma figura icónica para os Núcleos e para o universo leonino! Para mim era um amigo e fiquei profundamente chocado com o seu falecimento e sinto já uma grande saudade.
À sua viúva e aos seus jovens filhos dei-lhes nesse dia os meus sentidos pêsames pela sua partida da vida, que não da nossa memória. E lanço um desafio ao Núcleo do Sporting Clube de Portugal de Vendas Novas e a todos os Núcleos do Sporting Clube de Portugal que se organize uma homenagem para perpetuar a sua dedicação ao Sporting e apontar, como exemplo, aos jovens de Vendas Novas e de outras terras que o clube está cada vez mais vivo e merece os que já nos deixaram! João Paulo Varanda merece o nosso reconhecimento!