Rodrigo Mora, 17 anos, aqui em ação no último jogo do FC Porto (frente ao Estrela da Amadora, que venceu, por 2-0), tem nove golos e três assistências em 34 jogos (em todas as provas) pelos dragões em 2024/25
Rodrigo Mora, 17 anos, tem nove golos e três assistências em 34 jogos (em todas as provas) pelo FC Porto em 2024/25
Foto: IMAGO

Crescer para render... formar para vencer!...

OPINIÃO01.05.202509:04

Tribuna Livre é um espaço de opinião em A BOLA esta da responsabilidade de José Neto, Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores FPF/UEFA; Docente Universitário – Universidade da Maia; Embaixador Nacional para a Ética e 'fair play' no Desporto

O ser humano ao longo da sua evolução é sujeito a diversas influências, que podem contribuir para o processo favorável de desenvolvimento.

Claramente, o ambiente familiar torna-se um excelente meio, para que a criança perceba um código de valores existenciais de segurança, alegria e bem-estar.

Todos sabemos que a influência dos pais e a forma como se adaptam, ligam e acompanham a prática desportiva dos filhos, acusa uma extraordinária influência ou suporte para o alcance da persistência na obtenção do êxito, ou pelo contrário, pelo abandono devido ao fracasso obtido.

Esta influência torna-se mais evidente, tendo em conta a forma como avaliam as suas experiências desportivas prévias e a importância que atribuem ao desporto enquanto fator promotor de desenvolvimento dos filhos, bem como as expectativas face a estes.

Por vezes gera-se uma controvérsia, pelo facto de alguns profissionais entenderem que os pais podem atrapalhar o desenvolvimento, atendendo a diversos fatores, como as expectativas que tiveram ou não enquanto praticantes, obrigando a um desempenho que por vezes se torna irritantemente desadequado nos treinos e pior ainda nas competições realizadas, com lamentáveis comportamentos verbais e exacerbados, contra tudo e contra todos.

Contudo, ainda aparecem relatos de manifestações saudáveis de certos pais na promoção do contacto com os seus filhos, assumindo uma postura de permanente apoio perante o rendimento exercido, relativizando as condições do sucesso ou insucesso obtido.

Ainda na área formativa, jamais deveremos esquecer que o treinador tem de assumir uma função positivamente pedagógica, em que o rendimento das competências exercidas está muito para além do resultado alcançado.

No entanto, é frequente os próprios treinadores, dirigentes e pais, preocuparem-se mais com os resultados em detrimento de todo um processo de ensino/aprendizagem, acelerando a preparação dos atletas, queimando etapas de progressão, tudo fazendo para que ainda em idade infantil se atinja uma especialização precoce, fazendo o que antes do tempo se deveria evitar, e …um dia esse jovem adulto naturalmente descompensado, irá ter todos os argumentos para antecipar a própria carreira desportiva, podendo advir de várias hipertrofias que por consequência podem conduzir a traumatismos articulares, ligamentares e músculo tendinosos, culminando frequentemente no esgotamento e até abandono.

Também a desenfreada luta que a dinâmica empresarial, cedo, muito cedo, aprisiona de forma totalmente inquietante, para não dizer desonesta, este gradiente de pressão, no sentido de elaborar um requisito contratual de quem muito precocemente caminha nas lides da oferta e procura, vendo quantas vezes o clube, o treinador, o dirigente e os próprios pais comprometer esta fuga para a liberdade, dum crescer rápido para render depressa. Ultrapassam-se etapas, consumidas pelos ecos dum oportunismo económico e social prematuro, tratando as crianças como adultos em miniatura. Felizmente que são muitos clubes que ainda se disponibilizam em capitalizar de forma equilibrada os seus quadros, quer em termos técnicos como pedagógicos.

Treinadores capazes de respeitar o grau de desenvolvimento maturacional dos seus jovens atletas, tornando os treinos motivadores e criativos, evitando instruções de forma hostil ou primitiva, mas sempre encorajadora, corrigindo sem ofender e orientando sem humilhar.

Também sabemos que o mundo emocional da criança está muito dependente da confiança em si própria, autocontrolo, devendo os pais experienciarem na vida aquilo que pretendem que seus filhos comunguem como exemplo, isto é, se querem que os filhos sejam honestos, devem praticar a honestidade, que sejam educados, exercerem os deveres da educação perante os outros, que sejam justos, praticarem a justiça, etc … Os pais, através dos seus próprios comportamentos de vida, são geradores de confiança, acabando por ajudar a iluminar o bom caminho do relacionamento humano de quem lhes abriu as portas para a vida e dela recolhem os fundamentos da sua existência e onde tantas vezes apetece converter em gratidão e aplauso.

As crianças que se sentem amadas e reconhecidas pelos pais e outros familiares diretos, confiam mais nelas próprias e nos outros que com elas convivem, devendo por isso estes, sempre que possível acompanhar os treinos e jogos, encorajando e elogiando pelo esforço despendido, apoiando, fundamentalmente nos casos em que a fragilidade pelo rendimento menos conseguido possa resultar em pesadelo.

É de realçar que encontramos muitos clubes com uma organização devidamente estruturada quer no aspeto cultural e formativo dos seus dirigentes e treinadores de jovens que respeitam as bases do treino, tendo em conta o grau maturacional do atleta, deixando fluir sem pressão as etapas de desenvolvimento, transmitindo o gosto pelo treino e pelo jogo, baseado numa aprendizagem e aperfeiçoamento contínuo, fazendo de cada jogo uma base de trabalho para a construção de uma planificação do treino devidamente adequada motivante e criativa.

Na sua dinâmica operacional, associam na formação da persistência a paciência. No código do seu registo de ação estão garantidos os valores da honestidade e a firmeza das convicções, dirigentes e treinadores, conselheiros e amigos, expondo pelo exemplo o seu modelo interventivo, sendo pacientes e tolerantes com os erros e com as dificuldades de aprendizagem, neste desígnio polar duma consciente fórmula de crescer para render.

E de quando em vez somos iluminados pela presença da genialidade dum gesto que resulta duma arte de cultura em movimento, como referia Marías, J.; Selvages y sentimentales, (2007): «Sobre a relva soltam-se por vezes os génios que escrevem nas suas jogadas autênticos poemas vestidos de calções e chuteiras.» Esse recente exemplo, (entre alguns), que se repete, escrito a letras douradas, de seu nome: RODRIGO MORA.

Espero que o tempo possa ser bom conselheiro para a assunção robusta das suas credenciais já que está inserido num clube, (que bem conheço), subjacente por um código de valores devidamente sustentado por um património de sucessos, impregnados por uma cultura de rigor, competência, ambição e paixão.

«Jogar bem não chega quando não se ganha!... Ganhar não chega se não se jogar bem!... Ganhar e jogar bem não chega se não tivermos jogadores de grande nível… e ao grande nível não se chega, jogando apenas bom Futebol!...» (Jorge Valdano)

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