CR e Vítor Santos
Caro Vítor Santos, querido Chefe:
Foi há 30 anos (e dois dias): eu estava em Paris a cobrir a entrega de um prémio para a Melhor Desportistas Europeia do Ano à Rosa Mota, quando, ao ligar para Lisboa, se soltou, plangente, a notícia (da Maria Augusta):
- O Chefe morreu!
A minha reação foi desatar em pranto, só, no quarto do hotel, matutando na dor: como é que eu vou escrever a reportagem do prémio da Rosa? Escrevi-a pondo em cada palavra uma lágrima (por si, Chefe) - e, à medida que a ia escrevendo, de mão trémula, para, depois, despachar as folhas por faxe (era ainda o tempo em que não havia computadores) e cada página era uma página molhada (a menina da receção não o percebeu e eu não fui capaz de lhe contar).
Sussurrando para mim que a sua morte, Chefe, não era a sua morte: era o princípio da sua imortalidade - amargurava-me, porém, não lhe poder ter dito que o iria pôr de onde não mais o tirarei: no cemitério (não sei se este é o vocábulo certo, se calhar o Chefe vai achar que não) de estrelas que eu tenho a um recanto do meu coração, esse cemitério de estrelas onde o Chefe está como meu professor, meu eterno professor. De quando em quando lá vou para o ouvir (uma vez mais):
- Não sabes qual é o estilo de A BOLA? É não ter estilo nenhum. É não precisares de olhar para o nome para saberes que quem escreveu isto ou aquilo, se fui eu, o Pinhão, o Homero, o Farinha, o Miranda... Cada um com o seu estilo, cada um com a sua originalidade…
Continuando eu a adorar que o Chefe me lembre que o jornalismo é sempre bem mais sedutor quando namorisca com a literatura em histórias com gente dentro - estando agora, aqui, a imaginar o que o Chefe (com o Pinhão, o Homero, o Farinha, o Miranda...) vai escrevendo por aí (na sua imortalidade) a propósito do Ronaldo - não podia deixar de dizer-lho: fazendo Histórias na Vida de Cristiano Ronaldo (que a A BOLA lançou) em cada linha, da primeira à última, pus lá o Chefe - no que me ensinou, me ensina.