Convicção não é oposição!

OPINIÃO28.09.201904:00

O meu apanhado das crónicas que, há duas semanas, venho fazendo, terminou, no passado sábado, curiosamente, com um artigo intitulado Encontrar o caminho que é aquilo que finalmente vejo ser a questão principal em cima da mesa, mas que vejo desfocada com as conversas sobre as mudanças de treinador, demissões dos órgãos sociais e as suas remunerações, etc, consequência do autismo e arrogância de uns e ao ruído de outros, que nos não levam a lado nenhum a não ser à actual situação do futebol do Sporting, cuja gestão cabe à sociedade anónima desportiva. É aqui que está o problema, e é nesta que o problema se tem de resolver, sem violência, verbal ou física, mas com cabeça, serenidade e tranquilidade.


Uma sociedade anónima desportiva que gere o futebol profissional não pode perder tempo com conversas de páteo entre um ex-Presidente Conselho de Administração e o actual, designadamente, quando os mimos trocados não têm qualquer interesse. E foi por isso que eu escrevi a 29/06/2019, um artigo sobre Cintra sobre Varandas e ... vice - versa, a propósito de uma afirmação daquele que com Peseiro o Sporting seria campeão: esta afirmação não é séria porque, por um lado, não pode ser comprovada pelo seu autor, e, por outro, porque foi o mesmo Sousa Cintra que, dias antes da decisão de Varandas, desacreditou o treinador que havia contratado, abrindo o caminho ao seu despedimento. Parece anedota, aliás de muito mau gosto!...
Mas já que voltei à entrevista de Cintra de Outubro de 2018, faço lembrar o apelo que este dirigiu aos sportinguistas no sentido de estarem ao lado do presidente: «Unidos, a puxar todos para o mesmo lado!» Nessa altura, percebi a afirmação: Cintra estendeu o tapete a Peseiro e Varandas puxou-o para o mesmo lado: o da rua!...Meses depois, já não puxam para o mesmo lado ou serei eu que estou a ver mal? Esta minha dúvida era justificada e séria, mas pelo que li da resposta do actual Presidente do Sporting, não me parece restar qualquer dúvida: «Disse um chorrilho de disparates. Não tenho como dizer de outra forma. Sousa Cintra disse um chorrilho de disparates. Desde o empréstimo obrigacionista, desde o contrato com o Nani, desde a situação do Bruno Fernandes. Sousa Cintra demonstra constantemente desrespeito pelo nosso treinador Marcel Keizer!» Disparate é aquilo que é contrário à razão, à sensatez, ao bom senso; um despropósito, um absurdo, uma tolice. Compreendo o termo no que respeita a afirmação de que se Varandas não tivesse despedido Peseiro o Sporting seria campeão; intriga-me o chorrilho de disparates quando o tema é o empréstimo obrigacionista, o contrato de Nani ou a situação de Bruno Fernandes! Intriga-me e preocupa-me, mas um dia, tenho a certeza, saberemos desses disparates!


Pergunto se criticar esta troca de palavras é fazer oposição? Não creio e seguramente não é o caminho a encontrar, porque vem dos timoneiros a razão de não remarmos para o mesmo lado!...
Muito desiludido com certas coisas, e antevendo - o que não era difícil - o que iria acontecer - mas não tudo o que tem acontecido - na época desportiva que há poucos dias se iniciara, escrevi, em 13/07/2019, sobre as minhas Convicções, sem intuitos oposionistas: ... Na verdade, vejo os sócios e adeptos, dos mais diversos quadrantes, com que me cruzo todos os dias interrogarem-se e interrogarem-me sobre se «vai ser este ano», quando se deveriam interrogar o que vai ser o Sporting Clube de Portugal, no futuro imediato, em termos de projecto nacional e internacional, designadamente, no futebol. E era isto que eu gostaria de ver discutido ao mais alto nível e não ao nível da arruaça ou do insulto. Gostaria de discutir ideias e não idiotices! ... Quando eu sustento que o futebol do Sporting tem de ser gerido por uma SAD, onde, salvaguardados os valores do Sporting, que aliás têm andado mal tratados, a maioria do capital pode não pertencer ao clube, vêem-me com a história que o Real Madrid e o Barcelona são grandes clubes, clubes vencedores e não são sociedades anónimas! É uma verdade, mas são praticamente as excepções entre os grandes clubes da Europa e do Mundo, pois hoje os grandes colossos são sociedades anónimas, puras e duras, onde o problema da maioria do capital ser do clube não se põe, nem o accionista de referência é um clube. Não me vou pronunciar sobre este aspecto da maioria ou da minoria ser de um clube - mas não deixarei de vir a focar-me nesse tema - limitando-me agora a perguntar se os adeptos dos clubes ingleses ou italianos (que são ou não acionistas) não amam a sua equipa, nem têm a mesma paixão que nós temos, não enchem os estádios (como nós não enchemos) e vibram pela sua sociedade anónima? ... Consultem os estatutos de outros clubes, sejam associações ou sociedades anónimas, e vejam os seus sistemas de governação, e como são constituídas as assembleias gerais. Ouvem falar dessas assembleias gerais? Vêem programas de televisão a discutir durante horas e dias a fio, antes e depois dessas assembleias gerais? Perdoem-me os meus caros leitores e particularmente os sportinguistas, o meu desabafo de hoje, mas não consigo perceber como é que acham que estão nestas assembleias gerais a solução dos problemas do Sporting Clube de Portugal. ... É que a solução está na estabilidade, mas não há estabilidade com assembleias gerais deste género. Não é com instabilidade permanente que se ganha. O futebol da actualidade não é assim que se governa. Não chega, como é evidente, para ganhar alterar apenas o modelo das assembleias gerais, com todas as consequências. É apenas um início de um processo de modernização, absolutamente indispensável. Mas, de imediato, sem alteração na estrutura e funcionamento do órgão onde reside o poder é quase natural o futebol continuar a perder, sem prejuízo da Rainha Isabel poder ainda transformar o pão em rosas!...


Em Tempo de pensar - 20/10/2019 - disse, entre outras coisas: ... E, neste final de época desportiva ou princípio de outra, não estou - digo-o sinceramente - muito preocupado com o «este ano é que é» ou outros assuntos relacionados com o futebol, como as transferências de jogadores, mas sim com o futuro do meu clube, num todo, incluindo a SAD. Duas vitórias, em três das competições do futebol indígena e a passagem da fase de grupos da Liga Europa, nas circunstâncias difíceis que todos conhecemos, satisfaz o meu orgulho de leão ferido, embora não abatido, mas não me retira a capacidade nem a lucidez e a humildade de reconhecer que a nossa distância para os nossos rivais nacionais e internacionais se não se alargou, pelo menos não encurtou. Estamos manifestamente atrasados e era a forma de recuperar com a rapidez que os tempos exigem que eu gostava de ver transportada para um projecto com princípio, meio e finalidade. Um projecto nunca acabado, mas que se exige sempre renovado, de acordo com o designio de ser um dos maiores da Europa.


Bruno Fernandes faz-me pensar foi o meu artigo de 27/07/2019, onde, longe de fazer oposição às ideias da Administração, antes referi que era um dos que  apoiavam a   manutenção de Bruno Fernandes ainda que implicasse alguns sacrifícios, e terminei: Espero que o Bruno Fernandes - vá ou fique - leve todos os sportinguistas a pensar que o modelo tem de mudar. Tudo mudou e o Sporting, que sempre tem sido pioneiro, tem de mudar também, sob pena de ver o fosso alargado na Europa, e mesmo em Portugal. O Visconde de Alvalade mudaria o modelo, porque não mudaria o seu pensamento, que deve ser o nosso: «Queremos que o Sporting seja um grande Clube, tão grande como os maiores da Europa!»


Fui muito mal interpretado quando constatei, em O fosso, o óbvio -  não, não me peçam que eu hoje cale a revolta, não lance um alerta, que é também um grito de rebelião contra o conformismo: não estou chateado com os cinco a zero, estou é preocupado e muito preocupado, porque o fosso de Badajoz está a chegar à ... 2ª Circular!... Aqui sim, fui oposição, porque o Presidente não estava preocupado!...


Critiquei e não concordei com a forma como foram feitas certas vendas e compras, ou tomadas determinadas medidas que não fazem sentido, e que me levam para um caminho que não sabemos qual é e, em consequência, não nos une. Não temos um rumo certo, mas aos baldões. Por isso escrevi, em 17 de Agosto de 2019: ... não consigo perceber por onde vamos e para onde vamos! E citando o poeta, não sei por onde vou, só sei que não vou por aí! Por convicção, não por oposição!...