Contagem decrescente
Rúben Amorim, com a sua ideia arrojada, provocou uma corrida louca à ‘tática do autocarro’, com tendência para consumir tempo e praticar antijogo
Oleão entrou em contagem decrescente para a celebração do título nacional, como a sua exibição confinada e um golo ao postigo (título prodigioso da crónica do jogo Tondela-Sporting, assinada pelo jornalista Gonçalo Guimarães, em A BOLA), claramente, traduz. Teve uma exibição segura, embora pouco auspiciosa, na medida em que os próprios jogadores, apesar de quererem ganhar sempre, pressentem que as pernas começam a ficar menos obedientes, sugerindo-lhes o máximo rendimento com o esforço estritamente necessário para somarem três pontos em cada jornada ainda por realizar.
A vitória tangencial leonina foi o corolário de uma abordagem cautelosa por parte da equipa de Rúben Amorim e não a consequência de qualquer dificuldade inesperada que o opositor tivesse colocado. Aliás, este Tondela pode ser considerado um caso de estudo, não pelo futebol que pratica, mas pela sua estranha bipolaridade, refletida na classificação (11.º, com 24 pontos), tenuemente confortável em função da multidão de intervenientes que lhe está abaixo.
O engraçado da história é que, desses 24 pontos, 23 foram averbados em casa, porque nos jogos fora é uma tristeza completa: nenhuma vitória, um empate (Gil Vicente) e dez derrotas. De modo a evitar despesas inúteis, daqui em diante, poderiam ser eliminados os compromissos a que o calendário obriga o Tondela na condição de visitante, atribuindo vitórias aos adversários, poupando os seus jogadores a viagens que não têm servido para nada e evitando ao clube gastos deitados à rua.
RÚBEN AMORIM foi fino, ao arquitetar o projeto leonino assente num sistema tático tramado para os adversários, desde que bem executado, quando é harmoniosa a disposição/movimentação das peças sobre o relvado. Mas que funciona, se trabalhado de raiz e com os elementos certos para cada posição, sobretudo em relação a algumas, como me parece, enquanto simples observador.
Foi inteligente o treinador leonino, mas talvez não esperasse que tanta gente o quisesse imitar com as confusões que estão à vista, pois não chega tirar um defesa e acrescentar um médio para que a fórmula mágica resulte e transforme derrotas em vitórias. Ele já advertiu que jogar com três centrais não é apenas colocar mais um em campo, trata-se de um processo trabalhoso, sobretudo ao nível da interligação setorial.
É eficiente quando estudado, trabalhado e bem executado. É sinonimo de trapalhada quando utilizado com a única intenção de defender e de ficar na expectativa de, numa bola despachada para a frente, em lance fortuito, violar a baliza contrária. Ou seja, uma coisa é conciliar o 3-4-3 (com bola) com o 5-4-1 (sem bola), outra, bem diferente, é partir desta última variante para regressar aos velhos tempos de colocar trancas na porta, com todas as letras e sem ponta de vergonha.
«Foi um jogo de sentido único. Uma equipa a defender, outra a atacar. É difícil atacar contra um bloco tão baixo», afirmou Rúben Amorim, a seguir ao jogo em Tondela. Nem seria preciso ele dizer, todos vimos.
Rúben Amorim, treinador do líder Sporting
Osistema parece estar na moda e até Jesus se deixou ir na onda, adulterando a identidade da sua equipa sem nenhum resultado prático, como se verificou, quer com o SC Braga, quer com o Sporting, as únicas duas equipas que o interpretam com conhecimento das exigências que ele implica para se sobrepor a outras soluções. Recordo-me de uma declaração, creio que de Carlos Queiroz, em que foi confessada a dificuldade de defrontar equipas que dão preferência ao 3-4-3 e dispõem de atores com cultura de jogo e que sabem como se devem movimentar sobre o palco. O que não sucede com a maioria dos emblemas da Liga portuguesa, que se serve desse esquema apenas para disfarçar debilidades e retardar na medida do possível o fracasso anunciado, porque não raras vezes é mascarado com cinco/seis defesas, quatro/cinco médios e um avançado, às vezes nem isso…
O que Rúben Amorim provocou com a sua ideia arrojada foi uma corrida louca à tática do autocarro, com todos muito agarradinhos, ou com as linhas juntas, em versão mais erudita, com tendência para consumir tempo, praticar antijogo e, no auge, festejar o pontinho da ordem.
Apropósito dos blocos baixos e muito baixos, trago à colação a goleada sofrida pelo Benfica no Bessa (6.ª jornada) por entender que ela constitui exemplo proeminente de uma falsa realidade que, por regra, nenhuma saúde traz aos clubes atrevidos: o treinador Vasco Seabra sentiu-se o melhor do mundo, Elis e Angel Gomes estenderam as mãos à espera de generosas propostas e, no entanto, o Boavista continua atarefado em livrar-se dos últimos lugares para assegurar a permanência na Liga.
Uma missão ingrata e complexa para Jesualdo Ferreira resolver, com o saber e a experiência de quem já não se ilude com fogos-fátuos: Seabra acabaria por ser despedido três jornadas a seguir, deixando o emblema da pantera nos fundos da classificação. Sobre o tema, dizia conhecido treinador que de nada lhe servia fazer boa figura diante dos grandes se não fosse suficientemente competente nos jogos do campeonato dele.
Gonçalo Ramos - Não foi emprestado. Faz parte do plantel principal, mas é utilizado muito esporadicamente. Não joga com o mínimo de regularidade, não cresce como jogador, está a desvalorizar-se. Já não foi convocado para a seleção de sub-21. Ninguém é responsável?