Confirmação e surpresas
Chelsea explica ao City (e ao PSG) o que é ser um ‘grande’ europeu na época em que Sporting, Atlético, Lille e Inter atentam contra hierarquias estabelecidas
N ENHUMA surpresa a vitória do Chelsea e de Thomas Tuchel na Champions, como nenhuma surpresa foi o triunfo do Villarreal desse intratável Unai Emery na Liga Europa (vejam como a cidade de Manchester chorou duas vezes numa semana). A equipa londrina soube construir desde a chegada de Roman Abramovich (julho de 2003), e muito pela influência inicial de José Mourinho, um percurso de verdadeiro colosso europeu, enquanto o Manchester City, como o primo PSG, ainda não saiu da fase do quase - é um wanna be com muito dinheiro à procura de construir uma narrativa europeia que legitime os 2,08 mil milhões gastos em contratações pelo proprietário árabe, o xeque Mansour Bin Zayed Al Nahyan, desde setembro de 2008. Narrativa que o Chelsea indubitavelmente construiu, com enorme sucesso, nos 18 anos que leva sob o alto patrocínio do oligarca russo de origem israelita Roman Arkadyevich Abramovich. Repare-se: com o triunfo no Dragão, o Chelsea é agora a única equipa europeia (!) que ganhou pelo menos duas vezes as três competições principais da UEFA: Liga dos Campeões (2012 e 2021), Liga Europa (2013 e 2019) e Taça das Taças (1971 e 1998). A única!, sendo que dessas seis taças quatro foram conseguidas na era Abramovich. Lembro que o Chelsea ainda ganhou a Supertaça Europeia em 1988, o que o coloca como terceiro clube inglês melhor sucedido na Europa, depois de Liverpool e Man. United e muito acima dos outros todos, e um dos dez mais titulados do continente. Há mais: a possibilidade, bem real, de o Chelsea ganhar o próximo Mundial de Clubes (perdeu para o Corinthians a final de 2012), fará dele um dos poucos que ganharam todas as competições internacionais de clubes - desse pleno só se podem orgulhar Juventus, Ajax, Bayern Munique e Manchester United.
Não sei o que pensarão disto os grandes europeus do passado, ciosos da sua história - que ninguém apaga! -, das suas memórias e dos seus pergaminhos, mas o futebol, como a vida, vive sobretudo do presente, de quem faz, de quem ganha, de quem está lá. E o Chelsea tem andado sempre por lá desde que Abramovich comprou o clube a Ken Bates nos alvores do segundo milénio. Não deixando de ser curioso que os dois treinadores mais conceituados que passaram por Stamford Bridge na era Chelski, José Mourinho e Carlo Ancelotti, não figurem na lista dos conquistadores europeus blues, ao contrário de Roberto Di Matteo, Rafael Benítez, Maurizio Sarri e agora Thomas Tuchel.
A bela final do Dragão - foi um grande jogo! - também nos mostrou, se dúvidas houvesse (o PSG teve-as…), que Thomas Tuchel é mesmo um grande treinador - ganhar três jogos seguidos no espaço de cinco semanas a um mestre como Pep Guardiola não acontece por acaso; e que N’Golo Kanté, essa formiguinha incansável que parece ter o dom da ubiquidade, é um box to box de rendimento extraordinário (a seleção da França tem realmente grandes jogadores!). Também ficou confirmado que o Manchester City continua a ser o campeão europeu da posse, do passe e da triangulação. Ninguém os bate nesse capítulo. Mas como o golo continua a ser um detalhe essencial e o City está longe de ser perfeito nesse capítulo… enfim, pôs-se mais uma vez a jeito. Pep continua a insistir num onze basicamente formado por defesas e médios e parece nutrir genuína aversão a matadores - quer dizer: verdadeiros homens de área! - o que é um risco quando do outro lado se encontra uma defesa de betão e um treinador tão lúcido e pragmático como Tuchel. Guardiola tem sofrido bastante com Klopp, começa a sofrer com Tuchel, e Julian Nagelsmann (Bayern) vem aí para mais sofrimentos. Lembro que Tuchel é o quinto treinador alemão a ganhar a Champions no séc. XXI depois de Ottmar Hitzfeld (Bayern, 2001), Jupp Heynckes (Bayern, 2013), Jurgen Klopp (Liverpool, 2019) e Hans-Dieter Flick (Bayern, 2020). Embora poucos notem isso, a escola alemã de treinadores tem sido a de maior sucesso na Champions, acima da espanhola (Del Bosque, Benítez, Guardiola e Luis Enrique) e da italiana (Ancelotti e Di Matteo).
Thomas Tuchel ganhou três jogos seguidos no espaço de cinco semanas a um mestre como Pep Guardiola
DESAFIANDO DUOPÓLIOS
A primeira temporada europeia jogada praticamente sem público nos estádios trouxe-nos novidades em quatro das ligas mais importantes. Sporting e Atlético Madrid desafiaram duopólios há muito estabelecidos (FC Porto-Benfica e Real Madrid-Barcelona) e ganharam, surpreendentemente, os respetivos campeonatos. Em França, o Lille de Christophe Galtier, capitaneado pelo incombustível José Fonte (37 anos!), derrotou o hegemónico PSG (sete vezes campeão nos últimos nove anos) e ganhou dez anos depois da última conquista. Em Itália, o Inter de Antonio Conte terminou o longo reinado de uma Juventus nitidamente em declínio após nove scudettos. O futebol interista chegou para consumo doméstico mas foi insuficiente para a Champions (ficou na fase de grupos). Só em Inglaterra, onde City recuperou título perdido para o Liverpool, e na Alemanha, onde o Bayern ganhou o nono campeonato seguido, não houve surpresas.
DIZ-ME O QUE GANHAS…
… Dir-te-ei se és ou não um grande europeu. Dos três potentados financeiros mais mediáticos do séc. XXI - Chelsea, Man. City e PSG - o clube de Abramovich é o único com sucesso na UEFA. Mas todos deram um salto gigantesco no plano doméstico, como se comprova na comparação com o passado. O dinheiro não garante a Champions, mas garante muitas outras coisas…
CHELSEA
Propriedade de Roman Abramovich desde 2003 (primeira época completa: 2003/2004). Investimento em jogadores até 2021: 2,223 mil milhões (média de 123,5 por época).
Conquistas entre 2003-2021 (19): 17 títulos e 2 supertaças. 4 títulos europeus (2 Champions e 2 Liga Europa) e sete finais internacionais. Antes de 2003 (8): 6 títulos e 2 supertaças
MANCHESTER CITY
Propriedade do Abu Dhabi United Group do xeque Mansour Bin Zayed desde 2008 (primeira época completa: 2008/2009). Investimento em jogadores até 2021: 2,008 mil milhões (média de 154,4 por época).
Conquistas entre 2008-2021 (16): 13 títulos e 3 supertaças. Antes de 2008 (11): 8 títulos e 3 supertaças. Nenhuma conquista europeia, apenas uma final perdida na Champions.
PSG
Propriedade da Qatar Sports Investment do xeque Tamin Bin Hamad Al-Thani desde 2011 (primeira época completa: 2011/2012). Investimento em jogadores até 2021: 1,233 mil milhões (média de 123,3 por época). Conquistas entre 2011-2021 (26): 19 títulos e 7 supertaças. Antes de 2011 (15): 13 títulos e 2 supertaças. Nenhuma conquista europeia, apenas uma final perdida na Champions.
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P RIMEIRO são os sub-21, na meia-final do Europeu, amanhã, na Hungria. Urge rever, retificar - corrigir! - a movimentação defensiva, que esteve francamente mal no jogo com a Itália (5-3). Já do meio-campo para a frente, Portugal, como habitualmente, fez coisas muito interessantes do ponto de vista artístico, nomeadamente Vitinha, Bragança e, sobretudo, Dany Mota, um avançado do tipo panzer com golo e instinto. Na sexta-feira é a vez da Seleção principal medir forças com a fúria de Luis Enrique, em Madrid. O último particular com a Espanha (0-0 a 7 outubro passado, em Alvalade) foi estranho: a Espanha deu-nos um verdadeiro banho de bola na primeira meia hora, mas depois Portugal recompôs-se e as melhores oportunidades acabaram por ser nossas: duas bolas ao ferro de Ronaldo e Renato e um falhanço de baliza aberta de Félix no último minuto. Pelo meio, grandes defesas de Rui Patrício e Kepa. A minha maior curiosidade, agora que os testes indiciam obrigatoriamente as escolhas para os jogos do Europeu, é saber que meio-campo vamos ter e quem acompanha Cristiano Ronaldo na frente: Bernardo e Diogo Jota? Bernardo e André Silva? Diogo Jota e André Silva?