Casos sérios e outro menos

OPINIÃO02.11.201803:08

Não é a primeira nem a segunda vez que aqui refiro a minha compreensão por o Sérgio Conceição não dar a titularidade absoluta ao Óliver. Parece-me claro que o tipo de futebol que com sucesso o nosso treinador implementou não deixa muito espaço a um jogador que não mostre intensidade e, sobretudo no meio-campo, não seja também um bom recuperador de bolas. Tudo o resto o espanhol tem: técnica apurada, boa leitura de jogo, capacidade de passe, bom tabelador e é um dos poucos que consegue segurar a bola em momentos em que é fundamental congelar o jogo. É um jogador com classe, mas para o nosso mister, e bem, isso não chega - como também não foi suficiente para Simeone.

O desafio de Sérgio Conceição seria acrescentar a estes atributos a referida intensidade e capacidade de roubar bolas. Acredito que um treinador consiga melhorar o desempenho tático de um jogador, aprimorar a sua técnica, corrigir defeitos no controle da bola e outros. Tivemos, aliás, um treinador exemplar neste trabalho: Jesualdo Ferreira. Basta lembrar o que esse grande mestre fez com jogadores como o Hulk, o Quaresma e mesmo com o Lucho. Acrescentar características que são normalmente inatas a um jogador é que será ainda mais complicado.

Não admira assim que a afirmação do Óliver esteja a ser demorada. No entanto, no jogo contra o Feirense vimos um Óliver que deixou toda a gente de boca aberta. Pela primeira vez, à sua imensa classe juntaram-se os outros atributos. Foi ele o maior recuperador da equipa e até cansou vê-lo a jogar.

Mantenha o rapaz o nível de jogo que mostrou e os vinte milhões que nos custou e que tantas vezes pomos em causa terá sido afinal um fabuloso investimento. Mais, repita-se por muitas vezes uma exibição como a do último fim de semana e melhore substancialmente a sua capacidade de remate - naquela posição são-lhe exigido golos - e o espanhol arrisca-se a ser um caso muito sério no futebol mundial.

Outro caso é o do Jesus Corona. Com o brasão abençoado ao peito já lhe vimos fazer exibições fabulosas e outras que nos deixam a boca seca de tanto o assobiar. É rápido, praticamente ambidestro, com um repertório de fintas inesgotável, tem golo e é capaz de jogar em várias posições.

O mal do mexicano é a inconstância. É desesperante ver o rapaz fazer uma exibição como a de Moscovo ou jogadas como aquela obra de arte contra o Varzim e depois vê-lo passar ao lado de jogos inteiros ou não conseguir alinhar dois passes ou duas fintas.

O facto é que depois de uma longa passagem pelo banco de suplentes - sendo utilizado em quase todos os jogos mas por pouco tempo - parece outro. Dois jogos com duas belas exibições e uma entrada de dragão no jogo da Taça da Liga, onde até a defesa direito teve uma boa prestação.

Mais uma vez, o mal do Corona é difícil de sarar. Mudar a cabeça de um jogador e, nomeadamente, aumentar-lhe os níveis de concentração é um verdadeiro trabalho de Rhodes.

Também com o mexicano o magnífico trabalho do Sérgio Conceição parece estar a dar frutos. Aguardemos.

O que me parece evidente é que se as exibições do Óliver e do Jesus Corona se aproximarem, para o resto da época, das que têm feito nos últimos jogos as nossas possibilidades de ganharmos as provas nacionais aumentam muito e uma boa carreira na Champions estará assegurada.

Um problema lateral

O jogo com o Varzim deixou ainda mais claro que o FC Porto tem um problema grave nas laterais defensivas. Por aquilo que vimos nem o Maxi nem o Alex Telles têm concorrência para o lugar. Pior, nem o João Pedro nem o Jorge (quando o Hernâni, extremo direito de raiz, tem um desempenho melhor que o lateral esquerdo brasileiro está tudo dito) são, neste momento, suficientemente competentes para ocuparem as laterais da equipa.

Se no caso da lateral esquerda o Alex, salvo qualquer desgraça, aguenta bem uma época inteira com prestações de bom nível, a história não é a mesma na direita. O Maxi já não é rapaz novo e as suas exibições mostram isso à evidência. Não é humanamente possível ao uruguaio fazer muitos jogos.

Bem sei que este ano já se gastou demasiado dinheiro em defesas direitos. Correu mal, pronto. O que não podemos é não ter uma solução para o lado direito. Em janeiro tem de se resolver o problema.

O FC Porto B e a cultura de vitórias

Poucos projetos ligados ao futebol terão a importância da equipa B do FC Porto. Tem vários objetivos, mas os principais serão fazer a transição de muitos jogadores da formação e adaptá-los a realidades mais competitivas, bem como experimentar rapazes de outras proveniências e testá-los.

Os ventos que vêm das instituições futebolísticas internacionais farão da equipa B algo de ainda mais importante. A limitação de jogadores sob contrato será uma realidade mais cedo do que se pensa e os constrangimentos à utilização de jogadores emprestados ainda aumentarão mais.

Neste contexto, a equipa B será ainda mais crucial para a formação de jogadores. 

Qualquer equipa de qualquer modalidade praticada pelo FC Porto tem que ter como primeiro mandamento a cultura de vitória. Obviamente que a equipa B de futebol não será a exceção. Ninguém exige que ganhe o campeonato da segunda liga ou que esteja sistematicamente na luta pelos primeiros lugares. Repito, os objetivos são outros, bem como é evidente que as necessidades da principal estão em primeiro lugar e isso coloca em causa o desempenho desportivo da B.

Não é, porém, admissível sob qualquer pretexto que uma equipa do FC Porto esteja em último lugar numa tabela classificativa, depois de oito jornadas. O que se está a passar não é, pura e simplesmente, admissível. E não é apenas por aqueles jogadores não poderem aprender a banalizar a derrota - eles estão ali também para perceber que ter aquela camisola ao peito significa querer sempre ganhar -, é fundamentalmente porque a camisola que têm ao peito é a do FC Porto.

Do descaramento

Luís Filipe Vieira, o presidente que viu durante o seu mandato um clube português ganhar uma Liga dos Campeões, uma Liga Europa e uma Taça Intercontinental enquanto ele continua a sonhar com esses troféus, deu uma entrevista.

Espero que o Ministério Público, por esta altura, já tenha intimado o presidente do Benfica para ele concretizar as insinuações que fez sobre o funcionamento da justiça nas várias zonas do país. Sabemos bem que a Justiça e Vieira não têm um relacionamento fácil, mas pôr em causa o edifício judicial (bom, ele há casos conhecidos...) não pode ser como falar do Luisão ou do Rui Vitória.

Fora isso, desta longa conversa retirei principalmente que se o descaramento desse vitórias o Benfica tinha ganho 15 Ligas dos Campeões nos últimos 15 anos.