Capitão Bruno e seu fiel tenente
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OPINIÃO Capitão Bruno e seu fiel tenente

OPINIÃO26.05.202408:00

Assistência na final da Taça de Inglaterra ilustra bem o perfil de Bruno Fernandes

AQUELE apetite voraz pela baliza, sempre com a língua de fora, pode levar ao engano. Que o digam os jogadores do Manchester City, que ao verem aquele passe atrasado de Alejandro Garnacho terão julgado que Bruno Fernandes ia encher o pé direito, quando saiu uma assistência brilhantemente subtil para Mainoo fazer o segundo golo do Manchester United na final da Taça de Inglaterra.

O lance registado ao minuto 39 do dérbi — transportado para o londrino Estádio de Wembley — representa bem o altruísmo de Bruno Fernandes. A equipa está sempre em primeiro lugar, mesmo que isso implique passar a maior parte do tempo a correr atrás da bola ou a combater a adversidade. Frente ao Manchester City nem é de estranhar, mas a falta de qualidade coletiva tem feito do United um adversário submisso. Mais vezes do que estávamos habituados a ver, em contraste com a matriz construída por Sir Alex Ferguson.

O mítico treinador escocês não tem por hábito comentar a atualidade do clube, mas nunca poupou nos elogios quando falou do português, jogador digno dos seus tempos. Bruno Fernandes não se conforma com esta realidade distante do Fergie Time, mas dela não foge. Honra a braçadeira de capitão que cedo começou a justificar, tendo em conta não só a qualidade futebolística, como também a capacidade de liderança. Há quem diga que levanta demasiado os braços, mas é de quem sabe que não há lugar a conformismo neste período de chama mínima dos diabos vermelhos.

Ainda esta semana o internacional português recebeu pela terceira vez o prémio Sir Matt Busby, a escolha dos adeptos para Jogador do Ano do Manchestester United. Em quatro anos e meio soma 79 golos e 66 assistências em 233 jogos pela equipa inglesa.

Bruno já podia ter abandonado o barco em busca de mares mais calmos. Podia até ter aproveitado o tsunami provocado pela saída de Cristiano Ronaldo, mas continuou a ser um porto de abrigo para o técnico, Erik ten Hag. Pode até sonhar com um contexto que o beneficie tanto ou mais do que a Seleção de Roberto Martínez, mas (até ver) decidiu esperar por dias melhores em Old Trafford.

Se na equipa das quinas está destinado a ser (ainda mais) líder, no Manchester United há muito é o exemplo que inspira os colegas e que remete os adeptos para a glória de outros tempos.

Bruno viu esse esforço recompensado ontem com a felicidade de erguer o segundo troféu em Inglaterra. Mesmo a seu lado estava o fiel tenente, Diogo Dalot, esta semana reconhecido também como Jogador do Ano, mas por parte dos colegas de equipa.

O sucesso coletivo tem promovido elogios justos ao que os portugueses do Manchester City têm conquistado, mas a final da Taça de Inglaterra é um bom pretexto para louvar a dedicação de Bruno Fernandes e Diogo Dalot do outro lado da cidade, em contexto bem mais adverso.

Glory, glory!