Braga precisa mais

OPINIÃO23.01.201901:11

«É com alguma mágoa que o digo: ser de Braga, cidadão de Braga, orgulhoso da sua história e daquilo que a distingue, ainda não é sinónimo de ser do SC Braga. Essa é uma barreira que temos de derrubar nas próximas gerações». Disse-o António Salvador, presidente do SC Braga, na gala do 98.º aniversário dos guerreiros que decorreu no magnífico Theatro Circo, um dos mais belos do País. Eu acrescentava o seguinte: para ser grande em todos os sentidos, o SC Braga precisa de dar o definitivo grito de Ipiranga: passar a tratar os outros três grandes exatamente da mesma maneira, sem se submeter a alianças conjunturais que, em última análise, só lhe travam a afirmação plena e não lhe garantem mais que migalhas.
Em termos clubísticos, só se é verdadeiramente grande quando não se depende de ninguém. O SC Braga tem crescido imenso (grande trabalho de Salvador em várias vertentes), é o quarto grande claramente destacado dos putativos rivais (V. Guimarães, Marítimo, V. Setúbal, Boavista…) e só é pena que a cidade ainda não tenha abraçado o clube e lhe dê a expressão social que ele merece - ver o belo mas frio estádio desenhado por Souto Moura com 9 ou dez mil espectadores enquanto o vizinho vimaranense mobiliza regularmente o dobro nos jogos caseiros é uma dor de alma para os adeptos da causa braguista. O embate com o Sporting, já um clássico do futebol nacional, vale um lugar na final da Taça da Liga (para o Braga, se lá chegar, será jogada em casa) e a verdade é que Abel Ferreira tem muito jeito para domar leões: ganhou três dos cinco duelos. Abel é um obstáculo de peso para Marcel Keizer, que nos parece em processo de latinização acelerada, a julgar pelo calculismo e falta de pica das últimas atuações do Sporting. O Braga está a jogar mais, parece mais sólido, e não ficaria admirado se António Salvador mais logo festejasse a passagem à final e voltasse a picar os leões como fez em ocasiões anteriores. Atenção que por muito que tenha crescido na era Salvador (16 anos), o futebol do Braga não aguenta a comparação com o futebol do Sporting em nenhum item relevante: o Braga tem 3 títulos contra 47 dos leões. O Braga nunca ganhou o campeonato. O Sporting foi campeão 18 vezes. O Braga disputou 12 finais (uma europeia) contra 42 (duas europeias) dos leões. Relativamente às modalidades nem vale a pena falar. Sem esquecer que o estádio Alvalade XXI apresenta normalmente pelo menos o triplo da assistência média do Municipal bracarense. São patamares diferentes, em resumo. Mas tem de se começar por algum lado. Os adeptos braguistas devem lembrar-se que o FC Porto, no final dos anos setenta, tinha um palmarés de pigmeu comparado com o do Benfica - e mesmo com o do Sporting. Veja-se o que aconteceu desde então. Fundamental é traçar um objetivo, eleger um caminho para lá chegar… e nunca desistir dele. Creio que é isso que Salvador tem feito, com um ou outro desvio no percurso.


O Braga precisa mais de ganhar a Taça da Liga que o Sporting, por muitas e variadas razões. Não sei se Abel Ferreira, que é estatisticamente o treinador mais triunfante da história do Braga (54 vitórias em 84 jogos; fabulosa percentagem de 64%!), conseguirá trocar as voltas a Marcel Keizer e sobreviver ao assustador poder de fogo do médio Bruno Fernandes que é, com Cristiano Ronaldo, o futebolista português mais goleador da temporada (16). Mas que o Braga parece no bom caminho (desde que o Benfica não se atravesse…), isso é indiscutível.