Braga: campeão de inverno 

OPINIÃO26.01.202001:15

1 - O Sporting de Braga é o novo campeão de inverno. Conquistou ontem, na sua casa, na bonita Pedreira, a sua segunda Taça da Liga. Ricardo Horta foi o herói de uma partida que caminhava para a decisão através dos pontapés de grande penalidade. E o Futebol Clube do Porto continua sem conseguir vencer uma Taça, que agora é a Allianz Cup. Mas este Braga de Rúben Amorim - que ganhou esta Taça como jogador e a conquistou agora como treinador - e de António Salvador levou a festa enorme, bem bonita, a um Estádio e a uma cidade que, com muito esforço e atrativo acolhimento, acolheu nos últimos anos, e neste último fim de semana de janeiro, esta festa do futebol profissional numa organização de excelência da Liga Portugal. Estão de parabéns Pedro Proença e Ricardo Rio e, necessariamente, o Sporting de Braga. A festa ontem à noite foi bonita numa cidade que se afirma ano a ano e através de um clube que é a expressão de uma dinâmica forte e que, época a época, é, cada vez mais, e a par da Universidade e da Igreja Católica, uma das suas referências!      

2 - Terminada que está a Taça da Liga temos o regresso, a partir de hoje, da nossa principal Liga. Com o arranque da segunda volta repartido ao longo dos próximos dias - de hoje a quarta-feira - teremos, neste domingo, o Benfica a defrontar o Paços de Ferreira num jogo que é, como sempre, e bem, identifica Bruno Lage uma nova final. Com o Benfica a ser acarinhado na bonita capital do móvel por milhares de adeptos que, com o seu permanente calor, aquecerão, e muito, as bancadas de um estádio que acolhe uma equipa liderada por um jovem treinador, Pepa, que muito aprecio. Mas hoje mesmo teremos outros jogos bem interessantes em Tondela e no Jamor - agora com um clima de paz entre clube e SAD cuja mediação de Fernando Gomes se sinaliza e assinala! -, em Famalicão e nas Aves. E, aqui, uma verdadeira outra final para a equipa agora liderada pelo Nuno Manta Santos e que precisa de repetir a vitória do passado fim de semana. E se olharmos para a segunda liga a disputa é imensa e intensa. Aqui está tudo por decidir. Tudo mesmo. Sabendo, por isso, que a designação dos árbitros para os diferentes encontros é relevante numa competição com poucas transmissões televisivas, sem VAR e com a decisão final a significar que quem subir de divisão multiplica quase por dez - dez! - as receitas dos seus direitos televisivos. Faltam dezassete jornadas para todos. E poucos dias para o final desta janela de transferências e estando nós cheios de anúncios e de estórias que parecem da carochinha! Como outras que estão na…ordem dos nossos dias mediáticos!              

3 - O andebol e o ténis de mesa estão de parabéns. O andebol, com o sexto lugar brilhantemente conquistado no Europeu disputado, com todos os inerentes custos - principalmente para os amantes da modalidade -, em três países - Noruega, Suécia e Áustria -, alcançou a melhor classificação  de sempre e pode legitimamente sonhar, em abril próximo, e no especifico torneio,  com uma qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Onde já está a nossa seleção masculina de ténis de mesa e levando Marcos Freitas, João Monteiro e Tiago Apolónia para a quarta presença em Olimpíadas. São momentos históricos para estas duas modalidades e nas pessoas dos Presidentes das duas federações dotadas de utilidade pública desportiva - Miguel Laranjeiro e Pedro Miguel Moura - enviamos a todos - equipas técnicas, jogadores e ao conjunto do staff - sinceros parabéns. E assim, e com o ténis de mesa, são já dez as modalidades que estarão presentes nos próximos Jogos de Tóquio: atletismo, canoagem, ciclismo, hipismo, ginástica artística, natação, tiro com armas de caça, vela e a novidade olímpica que é o surf e com Frederico Morais!

4 - Disse ontem Bernardo Silva: «As pessoas sabem que eu gostava de voltar ao Benfica.» Ser de um clube é uma paixão permanente. Sentir um clube é uma necessária dedicação. E ter sido jogador é uma memória que não se esquece e que muitos de nós, que vibrámos, nunca esquecemos. Nestes dias em que parece que não há memória. Mas importa que lhe demos vida e sentido!          

5 - Sei bem que este jornal é um jornal de desporto. De todos os desportos. E que está quase a comemorar os seus 75 anos. De muita história e de uma vida longa. E recordo que, amanhã, dia 27 de janeiro, se comemoram os 75 anos da libertação do campo de concentração nazi de Auschwitz. Ali morreram mais de 1 milhão de pessoas durante a segunda guerra mundial, a maioria obviamente judeus. Visitei há alguns anos Auschwitz. Jamais esquecerei o que senti e, de verdade, o que sofri. Acreditem que, em determinados momentos, chorei. Visitar Auschwitz é um momento de vida e com múltiplos instantes de dor. Olhar para aqueles caracóis louros de crianças sacrificadas é uma perplexidade - e uma interrogação! - que permanecerá para sempre na minha vivência. Reparar naquelas malas, grandes e bem pequenas, que ali tiveram a sua última paragem é uma imagem que permanece na minha memória. Não esqueço o relato de um galês, Ron Jones - apanhado na Líbia! -, sob o título: O guarda redes de Auschwitz: a verdadeira história de um prisioneiro de guerra! É que o futebol, como nos legou este sobrevivente deste campo de extermínio, «mais do que um jogo pode ser uma razão de vida no meio do terror». E nos jogos que ali se realizavam «marcar um golo, fazer uma defesa ou discutir uma falta eram as únicas maneiras de nos libertarmos daquela realidade»! Ver a Lista de Schindler ou A vida é Bela - entre tantos outros filmes - ou ler Anne Frank ou, por exemplo, o extraordinário livro de Eddy de Wind - A última paragem - Como sobrevivi ao terror - são marcos de um tempo de horror. Mas sentir a terra e os cheiros daqueles campos de trabalhos forçados e de extermínio, das câmaras de gás e as fotografias de homens e mulheres que num instante morreram, é algo que jamais esquecerei. E cada dia 27 de janeiro, o dia da libertação pelo exército soviético, é, também para mim, um dia de uma necessária recordação. Com a consciência que tudo devemos fazer para que aquele horror seja conhecido. Como bem faz a Noruega todos os anos a centenas de alunos do seu ensino secundário: leva-os ao campo em cujo portão lemos, em angústia, a frase: «O trabalho liberta!» E, nós, aqui, neste jornal de resistência e de liberdade, dizemos que o que liberta, o que liberta mesmo, é a educação!