Bom regresso

OPINIÃO19.07.202004:00

1 Recordo, desde já, e no arranque deste dominical artigo, o imortal Padre António Vieira: «O efeito da memória é levar-nos aos ausentes , para que estejamos com eles, e trazê-los a eles a nós, para que estejam connosco.» E a memória de um Benfica que jogue à Benfica, que nos entusiasme e nos motive, que combine eficácia com nota artística, que nos junte nas bancadas reais ou virtuais, que nos faça regressar à liderança interna e nos afirme na Europa do futebol e que, por excelência, perturbe os nossos rivais, os nossos adversários, diria os nossos inimigos, faz-me  dizer, sem dúvida, bom regresso Jorge Jesus. A Portugal, a Lisboa e à Luz (e também, digo-o expressamente, ao Seixal!).  Jorge  Jesus regressa após conquistar o Brasil, o Rio de Janeiro, a América do Sul. Regressa vitorioso e conhecendo a realidade de outro futebol, de uma indústria singular, de uma torcida intensa  e tendo a ousadia, tal como aliás a Cristina Ferreira (um beijo!), de dizer não ao fácil, de assumir um risco, de provocar um sério desafio, de se confrontar com a não unanimidade! Gosto de pessoas assim. Admiro quem rompe com o óbvio, quem abraça o seu singular profissionalismo e que sabe que o difícil passado, tal como nos ensina nos seus Sermões o Padre António Vieira, tem de se combinar com o tempo e que «não  há poder maior no mundo que o do tempo:  tudo sujeita , tudo muda, tudo acaba!». Por mim tudo o que nos afastou, acabou! Como claramente assumo, apoiando, o sério risco de Luís Filipe Vieira. Risco alto e que  merece suporte, aplauso  e apoio. Fui crítico em alguns  momentos da liderança técnica de Jorge Jesus no Benfica. Até terei sido o primeiro - antes de tantos e tantos outros… -  a criticar a sua não opção pelo Bernardo Silva. Mas sabendo que tinha, à frente, Gaitán! Sei que no momento Jorge Jesus não gostou do que eu disse. Mas sei que, nas diferenças de opinião, estão dois homens concretos, um mais lisboeta do que outro, outro com menos cabelo que o outro, e que,  na  impressionante ousadia da sua efetiva liberdade, se respeitam. Sei que continuarei a expressar a minha opinião mas sei que, neste tempo concreto do Benfica e do futebol português - repito do futebol português -, Jorge Jesus é a opção certa para a liderança técnica  do Benfica. E, aqui, lhe digo: Boa sorte! O Benfica merece! Bom regresso. O futebol português fica mais rico! E a Luz, aquele estádio imenso e que arrepia, que aplaude e assobia, que vibra e que chora, não deixará de o receber com respeito e de o acolher com afeto! Bom regresso Senhor Jorge Jesus!

2 O Benfica - e também, como veremos, o Académico de Viseu  - teve duas relevantes vitórias jurídicas esta semana. Uma delas no TAD e uma outra em razão de um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Ambas as decisões merecem ser lidas. Na primeira foi assumido que a competência para punir atos das claques é do IPDJ (hoje, em razão de uma oportuna alteração legislativa, Autoridade para a Violência, ou seja, a APCVD) e não é da FPF, porquanto exigindo-se que a competência se funde em lei ou regulamento - nos termos, desde logo, da Constituição da República - não existe  norma que habilite a ação da FPF nesta matéria. E o artigo do Regulamento Disciplinar (118.º) que foi invocado para a sanção aplicada ao Benfica ( jogos à porta fechada) como afirma o acórdão é de «aplicação residual » , ou seja, é de aplicar quando - e só quando - o ordenamento jurídico desportivo não preveja outra norma especifica que regule o comportamento ou conduta a sancionar. No que respeita ao acórdão do Tribunal da Relação - em resultado de um recurso do Ministério Público por causa de uma contra ordenação por faixas  e tarjas exibidas -  é escrito que «não se pode concluir que ao permitir a entrada de faixas e tarjas para os setores das claques, o Benfica promova uma discriminação positiva dos mesmos em relação aos demais adeptos , permitindo-lhes uma liberdade de atuação e de expressão que não é, de todo, deferida aos restantes adeptos e espectadores». Daí que o Benfica não incumpriu com os deveres a  que  está (va) sujeito e que «justificavam a sua responsabilidade contra ordenacional!». Está de parabéns, permitam-me, a equipa jurídica que acompanhou e acompanha estes processos estritamente desportivos , e com  grandes vitórias,  e que integra os Doutores João Correia, José Luís Seixas , Miguel Lourenço e Pedro Correia. E sei bem que preferem o silêncio à exuberância. Mas sei, também, que nestes tempos complexos é de elementar justiça dar nota destas vitórias na justiça desportiva e dos seus intervenientes diretos. Mesmo que alguns preferissem que eu ficasse calado ou estas linhas ficassem em branco… Mas neste jornal de resistência, de ousadia e de liberdade, aqui deixo, com aplauso sentido, esta nota!

3 Também o Académico de Viseu - minha terra natal e sabendo, sempre, que «no mesmo berço se nasce e se morre» - teve na passada sexta-feira uma grande notícia do TAD. Este Tribunal veio revogar a sanção disciplinar de exclusão das competições profissionais em três épocas desportivas - três!!! - que lhe havia sido aplicada pelo Conselho de Disciplina da FPF. E o acórdão é bem claro ao proclamar que o Académico não mentiu dolosamente como havia considerado o Conselho de Disciplina no que respeitava a declarações feitas à Liga profissional. Também aqui o Doutor Pedro Correia mostrou sabedoria, sagacidade e audácia e o acórdão do TAD é, em qualquer parte do mundo, uma notável peça jurídica que merece ser lida e analisada, comentada e divulgada. É que o nosso TAD, mesmo que haja vozes, sempre pequenas, discordantes, vem evidenciando qualidade e excelência, como, aliás, permitam-me certas decisões do TCAS como, por exemplo, a bem recente no caso da denominada providência cautelar do Casa Pia! Ainda vai havendo justiça em Portugal. E tal como nos ensina, há séculos, o Padre António  Vieira «a justiça está entre a piedade e a crueldade: o justo propende para a parte do piedoso; o justiceiro para a de cruel!». Parabéns ao Académico, ao seu dinâmico, persistente e resistente Presidente e a todas e todos  os academistas e visienses!

4 Li, com a devida atenção, o relatório de atividades do Conselho de Disciplina da FPF que terminou as suas funções na sexta-feira dia 10 de Julho. Merece aplauso aquela exaustiva apresentação e as inerentes interpretações e justificações. Acredito que os outros órgãos, e por excelência, o Conselho de Arbitragem e o Conselho de Justiça também elaboraram os respetivos relatórios de atividades e que os membros da Assembleia Geral da FPF a eles terão acesso, desde logo, na Assembleia Geral a realizar em Coimbra no dia da final da Taça de Portugal. E como sempre nos ensina o Padre António Vieira «não basta ver para ver, é necessário olhar para o que se vê!».