Bem-vindos à Seleção!
Facto: sem Cristiano Ronaldo, a Seleção de Portugal empatou com a da Croácia de Modric e venceu a da Itália - mesmo tão insolitamente na mó de baixo, não deixa de ser… Itália - fazendo duas exibições muito boas. Excelente, a segunda.
Falso: Portugal obteve estes resultados - 1-1 com os vice-campeões do Mundo, pouco depois desvalorizado pelo 6-0 que a Espanha lhes aplicou! - porque não teve Cristiano Ronaldo (ouvi tais comentários!).
Verdade: promissores desfechos (muito importante triunfo no arranque da Liga das Nações) e estimulantes exibições apesar de Ronaldo, o supercraque já 5 vezes eleito melhor mundo!, ter sido poupado nesta convocatória - decisão que eu contestaria se Fernando Santos não tivesse deixado de fora mais de uma dúzia (!), entre campeões da Europa de há 2 anos e recentes mundialistas. O selecionador, que, entre as duas maiores competições, não se inibira a mudar 10 convocados (!), quis agora ainda mais impor o vinco de o futebol português ter capacidade para muito ampliar o leque de escolhas rumo à mais alta fasquia - e entendeu ser este o momento certo para reforço do que já fizera entre Europeu e Mundial. Acertou.
Interessante problema: a qualidade de futebol foi agora bem superior à exibida no Mundial. Pelo menos, mais vistoso. E aí, sem paradoxo, entra isso de ter ou não ter Ronaldo. Não por ele, evidentemente; sim pela diferença de esquema tático decorrente de haver, ou não, o imperador dos goleadores.
Com ele, 4-4-2. Obrigatoriamente, 2 pontas de lança, Ronaldo e André Silva (ou Gonçalo Guedes), como no Mundial. Obrigatório porque Ronaldo, tendo deixado de ser extremo, continua a render muitíssimo mais com espaço para aparecer na grande área em vez de lá estar, quase fixo (eis o grande dilema na Juventus…: dela saiu Higuain e no plantel não se descortina outro puro avançado de grande área como ele, ou como o madrileno Benzema…).
Sem Ronaldo, 4-3-3. Extremos mais soltos ofensivamente, porque cobertura central do meio campo passa a ter mais uma unidade (3), uma delas - Pizzi, nestes 2 jogos - avançando em apoio aos extremos, ao ponta de lança e à projeção atacante dos defesas laterais. Equipa mais equilibrada, jogadores mais próximos uns dos outros, menor necessidade de médio todo-o-terreno capaz de anular fosso até ao(s) ponta de lança(s). Daí futebol mais harmonioso, sem cavar distâncias entre quem fica atrás e quem tenta atacar… quando a bola lá chega.
Revelações nestes dois jogos:
-William saltando de médio mais defensivo para n.º 8; se bem rotinado nesta diferente função (no Bétis e na Seleção), a sua pujança atlética e a capacidade técnica que também possui podem fazer dele precioso transportador, e lançador, de jogo, defesa-ataque (o tal médio todo-o-terreno que insuficientemente temos tido), dimensionando-lhe a carreira para superiores patamares.
-Rúben Neves. Antes do Mundial, expressei ser um dos grandes ausentes nas escolhas de Fernando Santos (o outro: João Cancelo). É com ele (ou, noutro jeito, com Danilo a 100% após grave lesão) que William pode jogar mais à frente. Jovem Rúben Neves cresce a olhos vistos como versátil pivô do meio campo. Taticamente forte, possui visão de jogo também para a frente, colocação da bola à distância e… aquilo que muito costuma faltar aos nossos médios: poder de remate (até especialista de livres diretos).
-Bruma. Este menino tem tanto para ser caso sério! Eis esquerda atacante com músculo, poder de drible, baliza nos olhos. Agarrou a estreia, afirmou que, com este nível - e grande margem de progressão -, não será fácil tirarem-lhe titularidade. Em 4-3-3… (para 4-4-2, veremos como evolui).
Confirmações:
-João Cancelo. Numa posição em que há abundância de qualidade (Cédric, Ricardo, Nélson Semedo - a médio prazo, decerto também Dalot), parece-me ser ele quem possui mais consistente talento e pujança atlética defensiva e ofensivamente (até se adapta bem à esquerda, ou como médio-extremo). Está a justificar os €40 milhões investidos pela Juventus, onde, num ápice, se tornou titular.
-Rúben Dias. Menino pronto a resolver o problema de veterania dos habituais no centro defensivo. Personalidade já bem vincada no Benfica, manteve-a ao lado do imperial Pepe, mesmo jogando no lado esquerdo, menos ao seu jeito.
-André Silva. Após um ano no Milan, viram-no como fiasco, transferiu-se para o Sevilha. Deliciosa desforra marcar o golo que derrotou a Itália…
Que dizer de Bernardo? O que há muito se sabe: deslumbrante híper talento!
Atenção: Anthony Lopes, Cédric, Semedo, Ricardo, Guerreiro e Danilo (lesionados), Moutinho, João Mário, Adrien, mesmo os veteranos Bruno Alves, José Fonte, Quaresma e Nani, não morreram… E é questão de tempo até à imposição de Bruno Fernandes.