Bayern é de carne e osso

OPINIÃO19.09.201801:27

De todos os grandes clubes que temos defrontado em 60 anos de competições da UEFA, o Bayern é o mais castigador. Só perdeu dois dos 26 jogos efetuados com equipas portuguesas (ambos para o FC Porto, o primeiro deles na célebre final de Viena-1987) e ganhou todas as onze eliminatórias disputadas. Ademais, goleou meia dúzia de vezes os nossos três grandes. O Benfica foi ao castigo três vezes (1-5, 1-4, 1-4, sempre em Munique), o Sporting duas vezes (0-5 em Alvalade e 1-7 no Allianz Arena) e o FC Porto uma (1-6 em Munique com Lopetegui no banco e… 0-5 ao intervalo). Este é o breve cartão de visita do colosso mundial que hoje pisa o inferno da Luz. Campeão alemão há seis anos consecutivos e presença constante nas fases decisivas da Champions - um título, duas finais perdidas e quatro meias finais nos últimos nove anos -, o Bayern é favorito claro à vitória no grupo E, mas isso não quer dizer que o Benfica esteja condenado a perder os dois jogos, sobretudo o de hoje. Basta lembrar a forte resistência que, em abril de 2016 (quartos de final), este mesmo Benfica de Rui Vitória ofereceu ao Bayern de Pep Guardiola: derrota mínima em Munique (0-1), empate (2-2) na Luz numa eliminatória intensa e bem jogada. O próprio Guardiola elogiou a organização defensiva do Benfica, considerando-a de grande qualidade. Dois anos e meio depois, não se pode dizer que as duas equipas tenham mudado muito. O Benfica mantém André Almeida, Jardel, Fejsa, Pizzi, Salvio, Samaris e Jonas (não jogou no 2-2 de Lisboa); o Bayern mantém Neuer, Javi Martinez, Alaba, Kimmich, Thiago, Ribéry, Muller, Lewandowski, Coman e Rafinha que, lesionado, não vai jogar. Não é preciso ser druida para adivinhar que a larga maioria dos intérpretes da dupla batalha de 2016 vai atuar hoje, havendo até um (Renato Sanches) que mudou de campo.


É claro que a dinâmica do Benfica em abril de 2016 (com Renato) era diferente. Desde então saíram jogadores importantes (Ederson, Lindelof, Renato, Nélson, Gaitán, Guedes, Jiménez, mesmo Talisca) e alguma coisa mudou, não necessariamente para melhor. Pelo meio meteu-se uma campanha desgraçada (seis derrotas seguidas na Champions) e é essa mancha que Vitória quer começar a limpar hoje… com um onze que, até agora, parece bem mais sólido e focado do que o da época passada. Não sei se o Bayern estará mais ou menos forte que em 2016, limito-me a registar que o treinador mudou (Pep-Kovac) e que os jogadores decisivos são basicamente os mesmos - Neuer, Thiago, Muller, Lewandowski, Robben, Ribéry - com mais dois anos e meio nas pernas (e os três últimos são trintões, como se sabe). Admito que paragem para as seleções e para a Taça da Liga terá roubado algum ímpeto ao Benfica, que surgiu fisicamente muito forte em agosto, mas quer-me parecer que esta é uma boa altura para o Benfica defrontar os alemães - que são de carne e osso, logo, humanos e falíveis - ou não tivessem passado estes últimos cinco anos a sofrer desgostos com equipas espanholas (Real Madrid, Barcelona e Atl. Madrid). Que o inferno da Luz ajude o Benfica a ganhar pela primeira vez ao Bayern é o que se deseja.

Sobre o restante cartaz de hoje. Curiosidade de perceber como se vai comportar o tricampeão europeu Real Madrid (recebe a Roma, semifinalista na época passada) no primeiro jogo sem Ronaldo que, por sua vez, regressa à competição de que é duplo recordista (de títulos: 5; e de golos: 121) em território espanhol (Valência). Paulo Fonseca (Shakhtar) recebe os alemães do Hoffenheim a mil quilómetros de casa (Kharkov) e Mourinho (Man. United) joga em Berna com o Young Boys. O nosso desejo é o mesmo: ganhem, pois claro!