Arsenal é que era «special»

OPINIÃO06.11.201916:59

Vamos para um ano sem José Mourinho no ativo - quer dizer, nos relvados, que ele tem comentado jogos (e bem) em várias televisões. Acontece que o Bayern Munique, um dos clubes mais poderosos da Europa, está sem treinador; e que o basco Unai Emery parece cada vez mais tremido no Arsenal, um dos grandes de Inglaterra. Em ambos os casos, Mourinho tem sido equacionado como possível candidato. Recordo que o Times de Londres noticiou há dias que Mourinho jantou com o espanhol Raul Sanllehi, diretor de futebol do Arsenal, naquilo que poderá ter sido uma primeira abordagem do clube londrino com vista à sua contratação. Ainda segundo o Times, Sanllehi ficou a saber qual seria o «projeto» de Mourinho para o Arsenal. O clube desmentiu à Sky News a existência de contactos para a substituição de Emery. Na Alemanha, especula-se sobre o sucessor de Niko Kovac em Munique e o nome de Mourinho vem naturalmente à baila numa lista que inclui nomes fortes como os inativos Massimiliano Allegri (ex-Juventus) e Arsène Wenger (ex-Arsenal) e o holandês Erik ten Hag, atual treinador do Ajax, que já disse que não sai. Também entra na equação o facto de Mourinho estar a aprender alemão e de o seu nome ter sido apontado como possível substituto do suíço Lucien Favre à frente do Borussia Dortmund, o segundo maior clube da Alemanha.


Convites, manifestações de interesse ou simples especulações têm existido (clubes chineses, Benfica, Real Madrid, Palmeiras, Lyon…), mas Mourinho tem esperado pelo tal convite de um grande clube de uma liga de topo (condição sine qua non) que lhe permita recuperar a aura perdida nestas últimas passagens pela Premier. Acho que faz muito bem. Mourinho é da elite e é aí que deve regressar. Até porque é numa liga de topo, e não numa liga periférica, que o português deve responder aos céticos, aos que entendem que o treinador português deixou de ser special. Sendo verdade que os últimos anos de Mourinho, tanto nos resultados como na qualidade do futebol exibido, ficam claramente aquém daquilo que ele mostrou entre 2002 e 2012, década em que foi indiscutivelmente o melhor e mais fascinante treinador do Mundo - o Napoleão do futebol moderno. Depois do Real Madrid, começaram as dificuldades para Mourinho. Regressou ao Chelsea no verão de 2013 como Happy One e foi despedido a 17 dezembro de 2015 após uma derrota em Leicester que deixou o Chelsea no 16.º lugar, um ponto acima da descida; depois pegou no Manchester United [verão de 2016] e foi despedido a 18 dezembro 2018 após uma derrota em Liverpool que deixou o United no 6.º lugar. Em ambos os casos, Mourinho estava desgastado por guerras e atritos em várias frentes (internas e externas) e já não tinha o balneário consigo, o que lhe terá sido fatal.
Quanto às duas hipóteses em cima da mesa. O Bayern é uma aposta segura em termos domésticos (bolas, é heptacampeão alemão!) e também na Champions, onde é sempre fortíssimo candidato à final. Sendo o único treinador da história que foi campeão (e vencedor da Taça e da Supertaça…) nas três principais Ligas europeias - Inglaterra, Itália e Espanha - Mourinho verá decerto com bons olhos a chance de engrandecer o seu currículo - e a sua lenda - na única liga de topo onde ainda não trabalhou. Há um contra: o primeiro treinador que perder a Bundesliga com este Bayern hegemónico fica na história pelos piores motivos… e este ano a competição (pelo menos até agora) parece mais equilibrada do que nunca.


Quanto ao Arsenal, que é um dos três maiores clubes de Inglaterra, só abaixo do Liverpool e do Man. United: creio que seria o desafio ideal para Mourinho tendo em conta a paixão familiar por Londres, a dimensão e aura do clube e o conhecimento que ele tem da Premier. Ademais, o grau de expectativas - e de exigência - nunca seria tão grande como em Munique: vendo bem as coisas o Arsenal não é campeão desde 2004 e nunca ganhou a Champions (nem alguma competição europeia) no futebol pós-Bosman. No entanto, tem o estádio de 60 mil sempre cheio e os adeptos vivem o clube com indiscutível paixão. Depois, parece-me que o Arsenal, excetuando a defesa, onde precisa de se reforçar, tem matéria prima de primeira qualidade do meio campo para a frente: é verdade que Granit nunca será um boss como Lampard, mas há Dani Ceballos, que é muito bom, Mesut Özil (que rendeu como nunca com Mourinho em Madrid), Lucas Torreira e Guendouzi (grande potencial) e, sobretudo, os canhões Lacazette e Aubameyang e dois jovens atiradores de grande futuro como Nicolas Pépé e brasileiro Martinelli.
Os riscos são evidentes: um terceiro fracasso seguido na Premier daria razão aos céticos.