Ao Vitória FC
AOS 19 anos, já há 21, comecei n’A BOLA e era para Setúbal que me mandavam. Outro tempo, sem hora marcada, ia. Chegava antes dos treinos, via-os, aprendi futebol - vi dois anos seguidos de treinos de Jesus, outros dois de Carvalhal, um de Couceiro, dois de Hélio Sousa.
Uma das primeiras notícias que dei foi a chegada de Meyong à cidade, vindo de um clubezito italiano, agora por lá, da casa. Conhecia jogadores, dirigentes, treinadores, médicos, massagistas e funcionários. E dezenas de adeptos, nesta altura a sofrer. Alguns ligaram-me, anos depois da última conversa - aqueles telefonemas que começam com «Apá sóce! Amigue Miguel, qué isto do Vitórria?» - sem nada para dizer, nem eu. Em Setúbal, em muitos anos de trabalho quase diário, nessa base interrompido em 2009, aprendi o melhor que sei disto. Escolher e respeitar caminhos. Ou que para se trabalhar perto de um clube há que conhecer os antigos jogadores, beber cafés cedo com eles, almoçar tarde.
Ouvi, repetidas, as mesmas histórias. De tudo isso resultavam notícias, às vezes, mas sempre histórias, entrevistas, que no jornal entregava às páginas, às vezes com dores - como uma que implicou ir a pé de Setúbal a Cacilhas e depois de Cacilhas ao Jamor, acompanhando excursão do VIII Exército numa final da Taça. Não foi a minha melhor ideia. Travei amizade com jornalistas concorrentes, setubalenses, que na profissão me ensinaram a perder; e fiz amigo repórter fotográfico, o Zé Luís, com quem partilhei, por lá, uma década de ideias, e alguns moscatéis. Conheci o massacote.
Nas imediações do Estádio do Bonfim, quando as histórias não agradaram, adeptos chamaram-me nomes. E à minha mãe. Tentaram bater-me. Uma vez apenas (duas, talvez três). Setúbal é cheia de coisas, contudo o Vitória está longe de ser só mais uma. Vê-lo cair tanto é deixar ir uma parte da minha vida, confesso, triste. No jornalismo não há clubes, mas era o que faltava que não houvesse pessoas.