André Villas-Boas tem crédito, mas precisa de encontrar o seu homem forte no banco. Mais do que nunca o dragão está órfão de um treinador agregador e que devolva o conceito de autoridade
É uma das perguntas do momento: vai Martin Anselmi continuar no comando técnico do FC Porto na próxima época? A dúvida é legítima por dois motivos: em primeiro lugar porque o treinador é sempre o responsável quando a bola não entra; segundo, porque o futebol apresentado pelos dragões tem sido muito pobre, sem que as perdas de Nico González e Galeno em janeiro possam servir de álibi – as ausências têm peso num confronto direto com o Benfica ou Roma, mas não com o Estrela da Amadora ou mesmo com o SC Braga.
Três meses passados desde a entrada do argentino, pouco ou nada de positivo se pode extrair. Maus resultados, baixa qualidade de jogo e desvalorização dos ativos, com duas situações que saltam à vista: Otávio e Samu. O central é um óbvio caso de inadaptação a um tipo de jogo que não se enquadra nas características do brasileiro contratado ao Famalicão por €12 milhões (80 por cento do passe) e o avançado tornou-se numa sombra do primeiro terço de época que o levou inclusive à seleção espanhola, apenas a campeã da Europa em título.
Treinador insiste em proposta de jogo que deixa equipa exposta a perigo constante. Sem um plano B sempre que as coisas não correm de feição nas quatro linhas. Aura que trazia começa a desvanecer-se e precisa de mostrar serviço nos jogos com Moreirense, Boavista e Nacional
Quem vê o ponta de lança agora e quem o viu com Vítor Bruno pensará que se tratam de jogadores diferentes, o que nos leva a concluir que a dispensa do ex-adjunto de Sérgio Conceição foi um ato falhado. Porque Anselmi não fez melhor e tinha todas as condições para fazê-lo: vinha de fora, logo com uma aura de desconhecido que o favorecia face a um contexto de relações de proximidade e antagonismo em que o antecessor se viu envolvido. Um ambiente tóxico de difícil resolução.
O que se esperava, no mínimo, era a construção de uma ideia clara de jogo, mesmo que os resultados não acompanhassem o conceito. Mas o vazio que se seguiu demonstrou que a escolha não terá sido a mais acertada. Um erro de casting.
Um ano após assumir a presidência, André Villas-Boas continua a ter um enorme crédito junto da maioria silenciosa do FC Porto mas precisará de tirar um coelho da cartola no final da época. Falamos obviamente da escolha de um treinador agregador. E neste momento pede-se um técnico com prestígio, carisma e autoridade moral, não um iniciado. São muito diferentes os tempos em que um jovem Villas-Boas foi contratado à Académica e o Villas-Boas presidente que tenta encontrar um rumo para o clube. Porque em 2010 havia dinheiro, um plantel de sonho e uma presidência forte; em 2025 há um grupo de jogadores razoável, pouco dinheiro e uma estrutura que parece estar ainda à procura do melhor modelo de gestão.
Candidatos não há muitos com esse perfil, mas não ficaremos surpreendidos se dois nomes forem associados ao dragão nos próximos tempos: Abel Ferreira e Jorge Jesus. O primeiro tem contrato até dezembro com o Palmeiras, o segundo não deverá ficar na Arábia Saudita e tirando a hipótese de ser o escolhido para treinar a seleção do Brasil não lhe restam muitos caminhos. Isto no plano teórico, porque na prática há uma questão maior: ambos são pagos a peso de ouro e um eventual convite teria de obrigar os azuis e brancos a tomar a sempre difícil decisão de investir mais no treinador e menos em jogadores. E esperar que algum deles admita fazer omeletes clássicas com ovos de codorniz. Nunca será uma escolha fácil, mas dos fracos não reza a história.
"Cheira-me" que só sairá se alguém o quiser. Caso contrário ficará, como aliás o próprio AVB já disse recentemente, e tentar não fazer pior que esta época com um plantel qualitativamente melhorado em alguns (todos) os setores. Se vier outro treinador não deverá ser nenhum desses 2, penso eu de que...