Acordem-me quando o jogo começar

OPINIÃO21.06.202206:30

São duas décadas a memorizar os nomes dos sonhos tornados pesadelos. Por cada mural das glórias, há uma muralha da China de ‘flops’

FILIPE AUGUSTO, Douglas, Danilo Barbosa, Bruno Cortez, Victor Andrade, Marcelo Hermes, Alan Kardec, Gabriel Barbosa, Luís Felipe, Caio Lucas, Marçal, Keirrison de Souza Carneiro, Paulo Nunes, Donizete, Clóvis, Emerson, Raúl de Tomás, Facundo Ferreyra, Nicolas Castillo, Jovic, Derley, Jonathan Rodríguez, Funes Mori, Rodrigo Mora, Bebé, Ariza Makukula, Felipe Menezes, Filip Djuricic, Bryan Cristante, André Carrillo, Gonzalo Bergessio, Hassan Yebda, Patric, Yartey, Paulão, Freddy Adu, Marc André Zoro, Diego Souza, Djaló, Felipe Bastos, Paulo Almeida, Everson, Joan Capdevila, Derlei, José Alberto Shaffer, Javier Balboa, Marcel, Laszlo Sepsi, Manú, Roberto Jimenez, Alejandro Diaz, Karyaka, Kikin Fonseca, Manduca, Delibasic, André Luis, Emanuele Pesaresi, Alejandro Escalona, Ivan Dudic, Carlos Bossio, Cristian Uribe, Machairidis, Okunowo, Marcos Alemão, César, Washington Rodriguez, Michael Thomas, Steve Harkness, Luiz Gustavo, Gaston Taument, Glenn Helder, Leónidas, Lúcio Wagner, Mario Stanic, Eduard Abazi, Jovica Simanic, Jhonder Cadiz, Luís Fariña, Steven Vitória, Jorge Rojas, Juan San Martín, Kevin Friesenbicher, Gianni Rodriguez, Airton, Ola John, Hamdou Elhouni, Carole, José Luis Fernandez, Urretaviscaya, Lolo Plá, Loris Benito, Chicho Arango,  Hany Mukhtar, Francisco Vera, Guillermo Celis, Martin Chrien, Keaton Parks, German Conti, Cristian Lema, Sebastian Corchia, Pawel Dawidowicz, Diego Lopes, Carlos Ponck, Vitalli Lystcov, Emir Azemovic, Oscar Benitez, Tyronne Ebuehi, Bilal Ould-Chikh, Dyego Sousa, Yony González, Pedrinho, Jean-Clair Todibo, Soualiho Meité, Radonjic, Valentino Lázaro, ou Everton Cebolinha, isto para referir apenas alguns.
 

A propósito de Everton mas não só: «Admito que o problema seja meu, mas os anos passam e a minha paciência para o defeso vai-se esgotando»

ADMITO que o problema seja meu, mas os anos passam e a minha paciência para o defeso vai-se esgotando. Já não consigo encontrar em mim a energia e o entusiasmo da criança. Não sei se foram os erros que até um jogador de Football Manager saberia evitar. Talvez tenham sido as infindas promessas que chegaram com tudo e saíram furadas. Talvez para isso tenham contribuído ainda certos impulsos para a despesa sem um critério evidente, ou aquilo a que hoje se chama projeto desportivo. Finalmente, mas não em último na escala das preocupações, há os negócios que ninguém compreende exatamente o que foram e para que serviram, e quantas pessoas foram financeiramente compensadas pela realização desse negócio. Suspeito que até os atletas contratados devam reagir com alguma perplexidade quando assinam por um dos maiores clubes do mundo e, nesse mesmo momento, descobrem que há empresários de terceira divisão sistematicamente mais bem pagos do que eles. Não deve ser fácil.

TODA a gente sabe que o futebol se faz de ilusões e desilusões, mas ter acompanhado o desfiar do novelo de todas estas contratações, chegadas e despedidas, faz com que hoje tenha menos esperança de ver um plano qualquer resultar, por muito bom que aparente ser. É o stress pós-traumático do benfiquista, que se vê incapaz de eliminar estas memórias. Quem nunca acordou a meio da noite com suores frios a gritar por Sreten Stretenovic que atire a primeira pedra.

É evidente que nem todos os nomes referidos no primeiro parágrafo deste texto fizeram parte de um plano e talvez até me acusem se ser injusto na inclusão de alguns deles. Também eu desejei o melhor para eles, porque era o melhor para nós. E gosto de acreditar que, apesar dos devaneios, a maioria destes negócios tinham alguma espécie de racionalização que visava beneficiar o Benfica acima de qualquer outro interesse (e por maioria entenda-se uns 60%). Ainda assim, e apesar das boas intenções, os falhanços são mais do que às vezes queremos admitir. Aqui chegado, são duas décadas a memorizar os nomes dos sonhos tornados pesadelos. Por cada mural das glórias, há uma muralha da China feita de flops.

SIM, também é verdade que contratámos mais do que uma mão-cheia de grandes jogadores durante estas duas décadas, como é verdade que guardo belíssimas recordações de todos eles. Mas permitam-me que acuse por estes dias algum cansaço, em resultado de um defeso que ainda agora começou e já vai longo. Tenho tentado evitar parte do chinfrim, mas é difícil. Afinal de contas também sonho com um Benfica capaz de levar tudo à frente e a bateria do meu telefone ferve com a construção do plantel 2022/2023 que decorre em tempo real nos vários grupos de WhatsApp a que pertenço. Posso avançar com segurança que o plantel já conta cerca de 50 jogadores e parece-me ainda longe de estar fechado. Ainda tentei distrair-me com outros temas, mas tropecei numa discussão sobre quem merece conquistar mais títulos na secretaria. Fiquei pior do que já estava.  

TALVEZ por isso a minha cabeça e o meu coração supliquem pelo regresso do futebol propriamente dito. Não será possível um fast forward para o primeiro encontro da época, mas já estou a contar os segundos para ver uma equipa provavelmente ainda mal amanhada frente a um qualquer gigante da quarta divisão suíça, de preferência com os pés na água e/ou os lábios numa cerveja. Enquanto isso não acontece, façam-me um favor: tragam poucos mas muito bons. Contratem para o modelo do treinador e não para alimentar uma abstração qualquer. Invistam nos miúdos, que são o nosso maior ativo. Evitem fazer de cada contratação uma epopeia mediática. Livrem-se de perder jogadores na reta da meta para os rivais. Batam a cláusula se o jogador assim o justificar. Mas, acima de tudo, acordem-me só quando tivermos o plantel fechado. Não espero menos do que uma grande equipa.