A surpresa que chegou do Porto
Pinto da Costa irá manter a palavra dada de que no dia em que figuras como André Villas-Boas se candidatassem ele próprio se retiraria?
Aconfirmar-se a intenção de André Villas-Boas em candidatar-se à presidência do FC Porto dentro de apenas dois anos, estamos perante um facto histórico. É verdade que já houve outros desafios a Pinto da Costa, mas nenhum com verdadeiras hipóteses de ganhar. E será, no mínimo, essencial recordar que o atual presidente do FC Porto estava tão seguro de que Villas-Boas não avançaria sem a sua bênção papal que não teve hesitação em afirmar que no dia em que personalidades como António Oliveira, Vítor Baía, Rui Moreira ou Villas-Boas quisessem avançar para eleições, ele próprio se retiraria da corrida eleitoral, tal seria a confiança depositada nas competências de tais figuras.
Alguns mais ingénuos poderão pensar que depois de ter dito o que disse, caso Villas-Boas avance mesmo com uma candidatura formal - e nada nos leva a duvidar disso - a Pinto da Costa não restará outra coisa que não seja respeitar a sua própria palavra. Puro engano. Ainda vale, acima de todas as lendas, aquela que foi anunciada pelo então presidente do Vitória de Guimarães, Pimenta Machado: «No futebol, o que hoje é verdade, amanhã é mentira.»
André Villas-Boas agita o FC Porto
Há sempre pontos de fuga. Quer Pinto da Costa decida que ainda não é o momento de terminar o seu longo mandato, quer decida que qualquer outra figura, como, por exemplo, o atual presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, terá melhores condições para prosseguir o caminho de sucesso do FC Porto. Atrevo-me, mesmo, a dizer que Pinto da Costa conhecia as intenções de André Villas-Boas e a forma surpreendente como fez recordar que o ex-treinador do FC Porto trocou a sua cadeira de sonho no Dragão por uma camioneta de libras oferecidas pelo senhor Abramovich não só não foi inocente, como tinha o objetivo claro de obrigar Villas-Boas a assumir publicamente a sua ainda escondida intenção.
Os factos tornam incontornável a convicção de que Pinto da Costa não quer Villas-Boas para seu sucessor. Dir-se-á que os clubes portugueses não são monarquias e as transições não são meros transbordos de poder preparadas e planeadas pelo anterior monarca. Na verdade, os clubes são democracias controladas, a não ser em momentos muito especiais de confusão e de dúvida quanto ao futuro. Daí que seja de prever que, apesar de Villas-Boas ser uma figura grada de uma parte significativa dos adeptos e dos sócios portistas, continuará a haver um respeito reverencial a Pinto da Costa e daí que, ou o atual presidente continua em funções, ou quem ele designar como seu legítimo continuador acabará por recolher a vontade da maioria.
Admito, no entanto, que a súbita movimentação de André Villas-Boas possa criar alguma excitação, até, mesmo, alguma turbulência interna. Repare-se como o líder dos Super Dragões sentiu necessidade de vir imediatamente a público criticar o presumível candidato. E outros se seguirão, sendo que o momento mais esperado será aquele em que Pinto da Costa haverá de definir a sua própria posição: continua, desejará renovar o seu mandato e aproximar-se-á do meio século de presidência, ou entenderá que é o momento de descansar, mesmo reservando para si um papel mais interventivo do que a mera representação de presidente honorário do clube?
Seja como for, o momento escolhido para a abertura de uma inesperada questão sobre a sucessão no FC Porto não deixa de ser um momento sensível. O FC Porto volta a tentar vender o mais e o melhor que pode, deixa Sérgio Conceição, outra vez, à beira de um ataque de nervos e, de repente, tudo volta ao ponto zero, ou seja, tudo dependerá, como sempre, dos resultados desportivos.
BENFICA NOVO EM ÉPOCA NOVA
O Benfica não trata apenas de preparar a nova época com um treinador novo. Trata também de criar uma equipa quase nova. A história das equipas e dos clubes que optam por tão drásticas mudanças não costuma ser benévola. Um treinador, mesmo quando é novo e desconhecedor das especificidades culturais do país em que irá trabalhar, precisa de ter garantida de uma certa estabilidade no grupo que vai dirigir. Um treinador novo e uma equipa nova costumam ter exibições e resultados pouco consolidados. Será, esta, uma exceção?
A BRINCAR COM OS PORTUGUESES
Tem décadas a discussão sobre o novo aeroporto de Lisboa. A polémica é tão repetitiva que se torna absurda e faz de quem ainda a promove e de quem a prolonga alvo de legítima chacota popular. Só um país menor, com decisores desqualificados pode explicar esta indefinição, este labirinto sem saída, este nó eternamente por desatar. Agora, o governo veio dizer que esperava pela sucessão na liderança no PSD para poder decidir e a nova liderança do PSD veio dizer que não está lá para emendar os erros do PS. Isto é brincar com os portugueses.