A retoma do futebol troglodita
CRIMINOSO! Mais do que inadmissível e até descabido e palerma - é assim que se motiva a melhorar? - , o ataque ao autocarro do Benfica foi, como Alcochete, um ato criminoso. Temos ainda, embora cada vez menos, quem goste de futebol, mas também um futebol de e para gente das cavernas, reflexo da sociedade em que vivemos, ampliado por um qualquer instinto animal, capaz de transformar o mais racional e inteligente indivíduo num troglodita. Não há cultura desportiva, gosto pelo jogo e até duvido que haja paixão pelo clube, apenas um sentimento de pertença que descamba num ódio visceral e tribal pelo próximo. E todos, clubes e governos, assobiam há muito para o lado!
Regressou, entretanto, um dos campeonatos com menor qualidade das últimas décadas, apesar dos elogios que merecem as propostas de Famalicão, Rio Ave e V. Guimarães. Benfica e FC Porto atravessam crises, embora pareça que o vai-ou-racha de Conceição tenha menos fantasmas pela frente do que o rival, mais macio e psicótico, que Bruno Lage deixou afundar no divã sem terapia adequada. Tão incrível como as oportunidades desperdiçadas e o jogo excessivamente direto do FC Porto foi o desligar, na Luz, de jogadores como Rafa e Pizzi dos momentos de pressão e reação à perda, além do prolongar da baixa de forma e falta de alegria. O escasso rendimento lembra-nos da consistência e agressividade de Cervi e até da irreverência de Jota, ambos sentados no banco, além do falso posicionamento alto de Taarabt, culpado do isolamento de Vinícius na área, e até da saída de Weigl, talvez a realizar o jogo mais consistente, para deixar em campo um Gabriel esgotado e já sem discernimento. Nenhum dos rivais está bem, e ambos os treinadores, cada um à sua maneira, têm óbvia responsabilidade. O primeiro que conseguir dar a volta a si próprio será o mais feliz esta época.