A nova estrada de Silas
A figura de cartaz do rico domingo futebolístico foi, sem dúvida, o FC Porto, por ter respondido com uma exibição competente ao perigo que representava o Famalicão, líder do Campeonato quando chegou ao Dragão.
Em rigor, não era o primeiro exame complexo a que se sujeitava a equipa treinada por João Pedro Sousa, pois já havia emudecido o Sporting, em Alvalade, com triunfo imaculado.
Os famalicenses justificaram em absoluto o seu notável percurso até ao momento, mas tiveram a má sorte de serem recebidos por um FC Porto que levou muito a sério este jogo, ao qual imprimiu uma intensidade competitiva acima da média, sustentada na inspiração dos praticantes que subiram ao palco e de que resultou um enquadramento quase perfeito.
Não foi o Famalicão que reprovou, foi o FC Porto que passou com distinção, respondendo com acerto a todas as questões de um teste que se adivinhava problemático quase de olhos fechados, com Zé Luís no banco e Marega na bancada.
O Benfica, em contraposição, não pode gabar-se de semelhante frescura exibicional na visita a Tondela. Por força de circunstâncias várias, teve de manter os olhos bem abertos para garantir vitória merecida, mas erguida com demasiada dificuldade depois de outro desempenho medíocre. Nem a ausência de Rafa Silva deve ser esgrimida como atenuante.
Bruno Lage, como todos os treinadores, tem os seus caprichos. Defende-os com a firmeza das suas convicções e vê neles virtudes que, se calhar, mais ninguém enxerga. Tudo bem, desde que se notem benefícios evidentes no coletivo o que, quanto a Taarabt, e sobretudo em relação à tarefa saliente que lhe quer atribuir, não se observam. Ninguém duvida da sua boa vontade, mas falta-lhe classe, competência profissional. Trata-se de um inadaptado e, neste exemplo, em concreto, acionou o alarme para uma fragilidade que se tem revelado preocupante e que em Tondela terá atingido uma expressão nunca vista, a de uma equipa sem ataque, sem alguém que remate e imponha respeito aos defesas oponentes.
Lage, apesar das suas 25 vitórias em 27 jogos de campeonato, batendo um recorde que pertencia a Fernando Riera desde 1963, precisa de refletir e de reinventar o futebol encarnado, criando mais soluções com gente nova e abrindo as portas a quem quiser entrar.
Em janeiro, tomou a decisão de lançar o miúdo, como confessou. Através dessa medida revolucionou o futebol da águia e chegou à reconquista. Hoje, sem o miúdo, e sem Jonas (ambos valeram 26 golos, recordo), as dinâmicas, provavelmente, terão de ser outras. Insistir na fotocópia de uma solução de sucesso sem o ator principal já deu para perceber que muito dificilmente irá resultar. A não ser que descubra outro miúdo…
No Sporting, Jorge Silas já está a percorrer a nova estrada por onde decidiu seguir. Vai demorar a caminhada, mas este triunfo tranquilo sobre o Vitória vimaranense foi um sinal inequívoco de que as coisas começam a mudar. O treinador do emblema minhoto admitiu que poderia sair de Alvalade em ombros, até em função da notável resposta dada pelos seus jogadores em Londres, diante do Arsenal. O que ele não contava, porém, era com um leão a pensar o jogo de maneira diferente: deu ânimo aos vimaranenses para serem ousados, acenou-lhes com um rebuçado e quando Ivo Vieira se apercebeu do engodo já tinham sofrido dois golos.
Vietto e Bolasie vão sobressair, Acuña e Jesé também, ao mesmo tempo que a equipa se vai libertando da dependência de Bruno Fernandes. Poderá haver quem não goste de ver o Sporting jogar à Belém, mas é um princípio, apenas, sem direito a comparações apressadas por ser preciso avaliar com o devido cuidado a qualidade dos intérpretes. Neste sentido, se Silas tantos elogios recolheu pelo trabalho feito onde estava, mais razões haverá para se acreditar no que será capaz de fazer onde passou a estar.
A grandeza de Mourinho
Se há despedimentos de treinadores que custam a entender o de Sandro Mendes foi um deles. À frente de Gil Vicente, Portimonense, Paços de Ferreira e Aves e a seis pontos do quarto classificado, que é o Sporting. Portanto, estava na luta, «de acordo com o potencial evidenciado pela equipa», como destacou José Mourinho com sublime oportunidade, como cidadão de Setúbal, adepto de futebol, simpatizante do Vitória e treinador do mundo que se sentiu incomodado pela forma como viu ser dispensado um companheiro de profissão em início de carreira.
«Naturalmente, como setubalense, tal como o Sandro, e pela maneira como nós setubalenses sentimos o Vitória, fico triste com a sua saída. E sobretudo pela forma como ela aconteceu», referiu ainda Mourinho, recordando que este treinador agora despedido foi o mesmo que há um ano respondeu afirmativamente à chamada em momento difícil e «salvou o clube da descida de divisão».
São atitudes como esta que refletem a grandeza de José Mourinho, no estádio e na vida.