A memória que mata a saudade
VIVEMOS na nossa memória. O presente é uma porta fechada e calafetada pelo aviso. Assim, exercito-me: vai um nome por cada letra?
Aimar é o talento que Portugal já não reivindica. Batistuta pura dinamite. Bento a superação dos próprios limites. Baía, 12 centímetros acima, é evolução. Buffon o topo. O C deveria ser só de Cristiano, por não haver maior força mental, mas Cruiffj está até no ar que respiramos. E a canhota de Chalanix? O destro de Chalana? O Dani aos 18 anos faz-nos amaldiçoar quem acha que o jogo não é tudo. E Eusébio foi mais do que isso, encarnou em Éder a 25 metros de Lloris. Adorava Futre quando o caminho mais curto para o golo era um slalom gigante, mas também Figo pela classe e inteligência. Ah, e Francescoli? O anjo Garrincha das pernas tortas, o experimentalismo de Guardiola, a arte de Hagi. A alma de Isaías nos pontapés com que acertávamos em janelas vizinhas. Jairzinho que marcava sempre, o génio de Kaká antes das lesões. A paixão da Kop, de Klopp e do Liverpool, a liderança silenciosa de Lucho. A leveza de Liedson.
Maradona por não ter igual e Messi por criar a dúvida. A elegância de Madjer. A arrogância positiva de Mourinho, mas também a arrogância que impede Neymar de cumprir a promessa. Olarticochea, soldado argentino desconhecido de 86. Pelé e tantos momentos inesquecíveis. O equipamento do QPR. Um ídolo chamado Rui Costa, o maestro triste Riquelme e o alegre Ronaldinho. Ronaldo, um fenómeno de potência e técnica. A democracia de Sócrates. O bigode do sargento Toninho Cerezo. Umtiti não sei bem porquê, Van der Sar por transformar o guarda-redes em futebolista. Van Basten por não ter defeitos. A locomotiva Weah, a dupla de gémeos falsos XavIniesta. Yashin, sem dizer mais. Zizou e aquele controlo de bola.
Valha-nos a memória para matar a saudade!