A linha que separa convicção e teimosia
Rúben Amorim deve ser suficientemente humilde para questionar alguns dogmas que o têm acompanhado desde que pegou no Sporting...
O Sporting está em crise? Francamente, não me parece. De Alvalade chegam sinais que não prenunciam qualquer rutura entre Frederico Varandas e Rúben Amorim, pese embora a amargura do treinador pela venda de Matheus Nunes, e o plantel parece mais perdido do que revoltado. Nada que não seja reversível, assim os leões não dourem a pílula nem tapem o sol com a peneira.
Se quisermos apenas seguir a frieza dos números, dos oito pontos perdidos em quatro jornadas pela turma de Alvalade, apenas a derrota caseira com o GD Chaves é penalizadora. Na época passada o Sporting fez três pontos com o SC Braga e esta temporada pode fazer quatro; e com o FC Porto em 2021/22 conseguiu dois pontos e agora pode chegar aos três.
Quando ainda há 90 pontos em disputa, não deve ser a tabela classificativa à quarta jornada a tirar o sono aos leões. Não significa isto que não haja preocupação…
Rúben Amorim, na ribalta desde que deu um safanão no SC Braga e devolveu o Sporting à condição de campeão nacional, após 19 anos de jejum, tem dado mostras de pragmatismo e inteligência, mas vê-se agora perante uma dificuldade que só ele pode superar: a sua equipa não está a carburar como se esperava, e a hora deve ser sobretudo de reflexão, em busca de novas soluções, mais do que de enquistamento na lenga-lenga das convicções fortes, que pode estar a camuflar a teimosia dos grandes egos. Perante o insucesso que pontualmente vive, e com o qual não estava habituado a conviver, Amorim precisa mais da humildade da reinvenção do que da arrogância que pode conduzi-lo ao abismo. Nesta altura, por mais que custe ao treinador do Sporting, há certos dogmas que devem ser postos em causa, nomeadamente os três centrais, que estão longe da eficácia revelada, em 2020/21, por Gonçalo Inácio, Coates e Feddal; o meio-campo, que nada tem a ver, em qualidade, com o da equipa do título; e o ponta-de-lança, que prima pela ausência…
Rúben Amorim tem em mãos a tarefa de devolver o Sporting ao patamar de qualidade a que habituou sócios e adeptos. E estes, mesmo que desagradados com os resultados mais recentes, não devem ter memória curta e desprezar os benefícios da estabilidade em que têm vivido. Mudar de treinador (21 nos 19 anos de jejum) a cada sobressalto não leva a lado nenhum.
ÁS - ROGER SCHMIDT
Benfica na fase de grupos da Champions, cem por cento vitorioso na Liga, e com uma equipa a apresentar um futebol sedutor, eis o cartão de visita do treinador alemão, que teve um arranque-canhão na sua aventura na Luz. Sendo certo que a procissão ainda vai no adro, Roger Schmidt tem mostrado muito saber.
DUQUE - CRISTIANO RONALDO
Fala-se agora no Nápoles como saída de emergência para CR7, a viver, por culpas próprias e alheias, a pior fase da carreira. Já se percebeu que Old Trafford (e sobretudo Ten Hag) não lhe trará nada de bom, e Cristiano precisa de um clube que não ponha sistematicamente em causa tudo (e é tanto!) que ainda tem para dar.
DUQUE - CÉSAR PEIXOTO
O Paços de Ferreira, que nos habituou a bom futebol, teve de desinvestir e o início de temporada está a ser penoso, partilhando a lanterna vermelha, sem qualquer ponto ganho, com o Marítimo. César Peixoto, que em dezembro de 2021 protagonizou uma chicotada bem sucedida, tem em mãos uma tarefa nada fácil…