A liderança

OPINIÃO26.07.201904:05

É sempre complicado quando um jogador dá a ideia de questionar a autoridade de um treinador. Como lembrou ontem, em A BOLA TV, o meu camarada Rogério Azevedo, até o bibota de ouro Fernando Gomes, que era uma das maiores figuras do FC Porto, pagou caro quando, na década de 80, terá questionado, ao jantar, curiosamente, a autoridade do então treinador Artur Jorge, ao ponto de se ver mesmo obrigado a deixar o clube e trocá-lo pelo Sporting. E de então até hoje, outros casos se sucederam, quase sempre envolvendo principais figuras ou capitães, como Jorge Costa, que acabou emprestado para Inglaterra para não piorar um conflito criado por ter atirado ao chão a braçadeira de capitão.

Ou seja, o que quer que tenha acontecido agora entre Sérgio Conceição, o treinador, e Danilo, designado capitão de equipa, está longe de ser caso único no FC Porto, talvez dos três grandes o clube com registo nas últimas décadas de mais conflitos conhecidos entre responsáveis, diretivos ou técnicos, e jogadores, a começar por aquele (provavelmente o maior de todos) que opôs, no verão de 1980, alguns jogadores à Direção do então presidente Américo de Sá, por este ter decidido afastar o então diretor do futebol (que é hoje o presidente) e o treinador, que era o já desaparecido José Maria Pedroto.

Só Sérgio Conceição e Danilo (e eventuais testemunhas, considerando como boas as informações que vieram a público) podem saber, em rigor, o que aconteceu numa destas últimas noites, no Algarve, onde o FC Porto fez e concluiu o estágio.

Mas, repito e sublinho, o que quer que tenha acontecido só reforça a liderança de Sérgio Conceição (um líder firme, que não liga a nomes nem a estatutos). Mais líder será ainda Sérgio Conceição quanto melhor reverter o caso a favor do grupo. Ele também costuma ser bom nisso!

VOLTOU o Benfica a vencer neste seu segundo jogo na prestigiada International Champions Cup, mas o resultado de 2-1 sobre a Fiorentina é um bocadinho enganador, no sentido em que foi a Fiorentina a conseguir criar as melhores oportunidades de golo - atirou até uma vez a bola ao poste e o capitão Benassi falhou, inacreditavelmente, a recarga, falhando uma espécie de penálti… sem guarda-redes, que o levou a ficar absolutamente incrédulo!

Foi também a Fiorentina - apesar da contrária análise de Lage - que mais tempo esteve no controlo do jogo, que mais segura posse de bola me pareceu ter apesar de mais posse de bola ter tido o Benfica.

Conserva o Benfica aquela sua genica ofensiva, e creio, ao contrário de algumas outras opiniões que já li e ouvi, que Raul de Tomas (qual galã dos anos 50...) e Seferovic é dupla que poderá vir a resultar. Mas em muitos momentos de ataque, o Benfica parece apostar tanto no jogo interior que dá ideia de se esquecer das alas.

Rafa vai para dentro, Pizzi vai para dentro, todos vão para dentro, e quem fica nos corredores? Sem Cervi, sem Zivkovic, já sem Salvio… se cortam as asas à águia como pode, depois, a águia voar? Certamente a merecer reflexão de Bruno Lage, que é o treinador e ele é que sabe, evidentemente, o que precisa de fazer para que o Benfica ataque melhor - não criou assim tantas ocasiões claras de golo frente aos italianos… - e, sobretudo, para que não seja tão vulnerável a defender, sobretudo na zona central, onde ter apenas Florentino a perseguir adversários é manifestamente pouco.

Em todo o caso, se o treino é, nesta fase da pré-época, o bem essencial ao desenvolvimento da estrutura individual e coletiva de uma equipa, as vitórias são o néctar da confiança e da autoestima e do acreditar que se está a trabalhar no bom sentido. Só não devem as vitórias iludir ou tapar o sol com qualquer peneira, levando, porventura, as equipas a ganhar confiança, sim, mas também, ao mesmo tempo, a fingir que nada está errado.

No caso deste novo Benfica, que perdeu muita da sua magia - como diria Pizzi - ao perder Jonas e João Félix, vai talvez Bruno Lage ter de cuidar mais da segurança da equipa e menos da sua capacidade ofensiva. Vai talvez precisar de ser mais pragmático. Veremos o que nos dirá o futuro, a começar já pelo próximo jogo, com o Milan.

JÁ o Sporting, traz dos Estados Unidos a belíssima imagem de um empate, justo, com o campeão europeu Liverpool e traz Bruno Fernandes o reconhecimento, do seu treinador mas também do treinador adversário, de ser o que já se sabia, um craque de qualidade indiscutível. Ao deixar o campo, após o jogo, abraçado pelo treinador do Liverpool, o alemão Jurgen Klopp, o médio leonino ganhou muito mais do que o golo que marcou, ainda por cima um golo muitíssimo consentido pelo monumental frango do guarda-redes Mignolet.

Klopp tem esta grandeza de reconhecer, com estes gestos, a grandeza dos adversários.

Voltando a Mignolet, se o Benfica estaria, alegadamente, a pensar no belga como solução para a baliza, Bruno Fernandes, ou melhor, aquele remate de Bruno Fernandes pode ter posto uma pedra sobre o assunto.

Traz ainda o Sporting outra confirmação, a de que Wendel é mesmo o jogador talentoso que o Sporting já pensaria que fosse quando o foi buscar, mesmo tão jovem ainda, ao Fluminense. Com toda a admiração pela iniciativa de Bruno Fernandes na jogada de que resultaria o segundo golo dos leões, agora, com o Liverpool, a arte esteve, muito mais, na minha opinião, em tudo o que Wendel fez, já dentro da área, naquela décima de segundo. Portentoso!

O Flamengo de Jorge Jesus perdeu, no Equador, um jogo que seria sempre muito difícil de ganhar. Porque o Emelec é uma boa equipa, porque os jogadores equatorianos são bons jogadores, porque correm o dobro dos adversários e correm, ainda por cima, muito mais rápido do que a maioria dos sul-americanos.

Lembro, aliás, que, não por acaso, quando sir Alex Ferguson teve, em 2009, de escolher um jogador para preencher a vaga aberta com a saída de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid escolheu, nada mais, do que o equatoriano Antonio Valência, à época um rapidíssimo extremo-direito que dava nas vistas no Wigan Athletic.

Jorge Jesus também não é, na realidade, um treinador com sorte. Há muito que penso isso. Dirá o leitor que isso da sorte tem muito que se lhe diga. Talvez. Mas há treinadores com mais sorte do que outros. Que são capazes de ganhar várias vezes quase sem se perceber como, e há os treinadores que perdem várias vezes vá lá perceber-se porquê. Jesus é um desses. Podemos ou não atribuir um pouco à falta de sorte aquela inesquecível e negra série de jogos decisivos que o Benfica de Jesus perdeu sempre depois do minuto 90? Claro que podemos.

Com Jorge Jesus, mais uma vez, parece que um azar nunca vem só. De tal modo que me atrevo a sugerir ao Flamengo que rebatize o centro de treinos de Ninho do Urubu para Ninho… do Galo, tal tem sido o galo de Jesus e equipa, que em pouco tempo perdeu, por lesão, jogadores importantes como Everton Ribeiro e Vitinho, mas sobretudo os mais craques Arrascaeta e, agora, Diego, com uma fratura no tornozelo que se prevê tão grave que já se teme pelas consequências para a própria carreira de um jogador muito talentoso, que já brilhou em Portugal com a camisola do FC Porto.

O Flamengo pode, porém, lamentar-se ainda da falta de poder de fogo da equipa, e por isso cada vez melhor se compreende o desejo de Jorge Jesus de ver o clube contratar pelo menos um atacante que seja mais ponta de lança, que garanta mais presença na área e possa até levar Gabriel Barbosa - o conhecido Gabigol - a jogar e a render onde parece mais eficaz, que é atrás do homem mais avançado, caindo muitas vezes nas alas para daí partir para as zonas interiores do ataque.

No difícil campo do Emelec, o Flamengo até deu ideia, sobretudo na segunda parte, de ficar por cima e melhor controlar o jogo. Mas não cria perigo suficiente para abalar o adversário, que pôde ser agressivo a defender e muitíssimo rápido a sair para o ataque, e conseguiu dar cabo da cabeça aos adversários.

Vai certamente refletir Jesus em tudo o que aconteceu e também nas opções que tomou, mas isso faz parte do trabalho de um treinador que tem pouco mais de um mês de ação à frente do Flamengo e precisa, como precisam todos os treinadores, de pelo menos algum tempo para perceberem, mais a fundo, o que é, em cada circunstância, melhor para a equipa, e o peso - e as respetivas consequências - que tem deixar, por exemplo, um jogador como o colombiano Gustavo Cuéllar no banco, ele que é uma das figuras mais queridas da imensa e tremenda torcida do Flamengo.

Jesus sabe bem o enorme desafio que tem pela frente. Sabe-o tão bem que não escondeu, nesta recente entrevista ao jornal e à televisão de A BOLA, que talvez este seja mesmo o maior desafio da carreira.

Julgo que é!