A gruta da Tailândia

OPINIÃO07.07.201802:21

Por um lado, convenhamos, não pode haver melhor motivo para despedir Ekapol Chantawong, o treinador de 25 anos que está preso na gruta da Tailândia com a equipa de futebol juvenil dos Javalis Selvagens, pois é, afinal, o único adulto no meio daquilo. Um inconsciente. Por outro lado, convenhamos também, não pode haver causa mais valente para o manter no cargo, por ter sido até agora capaz de ajudar os jovens orientando-os em meditações, encorajamentos, no consumo de água pingada das estalactites, nos sacrifícios que, pelo peso e estado geral, parece ter feito muito para lá do que tiveram de fazer todos os miúdos. Um líder. O drama é tão sugestionável que na Tailândia se discutem eventuais responsabilidades criminais pelo sucedido, mesmo partindo-se do princípio acidental. Eu, francamente, vejo-o mais como irresponsável do que como herói. Ou, pelo menos, primeiro como irresponsável.


Bem mais relevante é o perigo de vida do grupo, escusado é escrevê-lo. A natureza armou um quadro de indescritível angústia, obrigando a uma operação de salvamento sem precedentes na qual parecem ter-se congregado todas as contrariedades possíveis. Há o medo: ter de, sem saber nadar ou usar equipamento de mergulho, encetar viagem de seis horas na água, na lama, no escuro, por passagens onde mal cabe um corpo, com probabilidade de pânico e morte. Ainda ontem se ficou um mergulhador, perito, no trajeto. E há a coragem: a união da equipa, a partilha, o encorajamento, atributos que o desporto terá fortalecido.  Naquela gente está personificado um pesadelo capaz de acordar o mundo em suores frios.


Espero que o despeçam, ao treinador. Ou que ele tenha oportunidade de se demitir. Seria uma ótima notícia.