A festa do golo
Não há, nem deve haver uma forma regulamentada para se festejar um golo. Todos os golos provocam alegria e euforia em quem os marca e tristeza e deceção em quem os sofre. Há jogadores, como aconteceu recentemente com Jonas, que saem disparados do campo e se abraçam aos adeptos na bancada; há os que tiram a camisola, mesmo sabendo que vão ser punidos com cartão amarelo; há os egoístas, que querem festejar sozinhos; os que enviam corações dengosos às namoradas; os que metem a bola na camisola em celebração do filho que vai nascer; os que metem a cara na câmara de televisão mais próxima e dizem o que ninguém sabe o quê; há os que ensaiam danças étnicas e os que saúdam o público como se fossem toureiros na arena. Os treinadores, os dirigentes, os jogadores suplentes, os médicos e até os apanha-bolas também não resistem à tentação da festa do golo.
A celebração do golo é, como se deseja, uma festa vivida com paixão e exuberância, mas sabe-se que o quinto golo, numa goleada de cinco a zero, não provoca a mesma emoção do primeiro. E se o primeiro e único golo acontece, apesar de totalmente improvável, num prolongamento da final do Campeonato da Europa, como o golo do Éder, em Paris, pois é espantoso ver como não só um país inteiro entra em euforia, como é, também, intensamente celebrado por muitos povos do mundo inteiro.
Quando o Liverpool, no último jogo com o Everton, marcou o golo da vitória aos 90+5 para desespero de Marco Silva, o seu colega Jurgen Klopp saiu disparado até ao centro do relvado para abraçar os seus jogadores. Esse descontrolo de emoções valeu-lhe um castigo de uma multa de 8900 euros, apesar de, no final, e já com a alma mais arrefecida, ter assumido um formal pedido de desculpa pelo seu comportamento.
Num país a sul, na mui nobre e invicta cidade do Porto, jogar-se-ia também um dérbi e quando o FC Porto conseguiu o golo da vitória no último minuto do tempo de compensação, Sérgio Conceição reagiu numa manifestação explosiva, que juntou a euforia do momento com a ideia de vingança de um adversário que tinha sido intratável e nada facilitador.
«Toma c.......» foi a expressão, aliás repetida, que lhe saiu do fundo da alma. Dirigiu-a ao colega da equipa adversária e ao sempre estimável público que em matéria de impropérios lhe retribuiu com generosos juros.
Sérgio foi castigado com uma multinha (para a algibeira de um treinador do FC Porto) no valor de 765 euros, não a achou justa e não pediu desculpa a ninguém, porque «não estava na missa».
Vejamos: Jurgen Klopp e Sérgio Conceição foram incorretos na celebração dos festejos. Foram castigados por isso, apesar da desproporcionalidade das multas. Klopp pediu desculpa por ter entrado em campo para abraçar os seus jogadores; Sérgio Conceição não pediu desculpa por ter tido uma atitude ofensiva para com o seu colega de profissão. Devia tê-lo feito. Sérgio dirá que não é hipócrita, mas um pedido de desculpa, numa situação como aquela, não é uma questão de ser ou não ser hipócrita, mas uma questão de ser ou não ser educado.
Eu sou fã de Conceição. Acho que está a fazer um trabalho notável e foi grande responsável por ter tirado toneladas de problemas de cima dos ombros de Pinto da Costa e dos seus velhos parceiros, que muito arriscaram a grandeza do FC Porto depois de uma gestão que poderia ter sido ruinosa.
Conceição devolveu o Porto à Porto, ganhou um desafio pessoal difícil e merece o mais sincero elogio. Dito isto, é bom que perceba que a atitude que tomou tem mais a ver com arrogância do que com uma personalidade forte.