A diferença!
O efeito que Bruno Fernandes teve na equipa do Manchester United é bem a prova da importância essencial que o lado psicológico e emocional tem no futebol. Podem, pois, os treinadores ter o maior e melhor conhecimento, podem aplicar-se profundamente no treino da equipa, mas se a mensagem não passa, se o discurso não motiva, se não existe presença emocional suficientemente forte junto dos jogadores, o rendimento é afetado, a moral acaba por cair, a confiança desaparece e os resultados tendem a ser cada vez piores.
O que se passava no Manchester United, naturalmente entre outros problemas, parecia ser sobretudo um problema emocional, uma falta de confiança tremenda, e uma inevitável desagregação da equipa. Para nós, portugueses, que tão bem conhecemos Bruno Fernandes, estava na cara o efeito que ele poderia ter na equipa. E a verdade é que teve um efeito tal que o Manchester United é hoje, realmente, outra equipa, mudou da noite para o dia, mesmo tendo passado a ter apenas um jogador diferente. Perguntarão os mais distraídos: como é isso possível?
Pela força emocional, pela motivação psicológica, porque Bruno leva todos os outros a acreditar que é possível, quando já tantos duvidavam das suas próprias capacidades.
Dizia esta semana a lenda britânica Alan Shearer que a «arrogância de Bruno Fernandes» é que fez a diferença no Manchester United.
«Quando alguém chega a um clube com aquela arrogância, de forma positiva, faz a diferença. Ele acredita que pode mudar as coisas e é certo que tem essa capacidade. Está toda a gente a reagir ao que ele faz. Quando ele pega na bola, todos os jogadores se mexem. Não via isso acontecer antes da chegada de Bruno ao United!», analisou Shearer, um dos mais portentosos atacantes britânicos de sempre.
É verdadeiramente a atitude que, a este nível, faz, pois, a diferença. Talento têm-no muitos jogadores; uns com mais qualidade defensiva, outros atacante; uns melhores com bola, outros sem ela; uns mais rápidos, outros mais fortes, uns têm forte precisão no passe, outros jogam melhor de cabeça; uns são fortíssimos no remate, outros no drible.
E entre jogadores com muito talento, como é o caso de muitos dos jogadores do Manchester United, o que faz então a maior diferença?
Sem dúvida, o caráter e a atitude psicológica e emocional.
Bruno Fernandes é mentalmente muito forte. Joga no Manchester United da mesma maneira que jogava na Udinese. Joga perante 70 ou 80 mil espetadores como jogaria perante cinco ou dez mil. É igual.
Do ponto de vista da chamada mentalidade competitiva, é quase insuperável, como se vê em cada jogo que faz. E já sabíamos todos que se moderasse o seu comportamento perante decisões de arbitragem ou atitudes de adversários - como parece que está a fazer, embora ainda nem sempre com sucesso - teria mais do que capacidade para se tornar num jogador fundamental para o United (ou para qualquer equipa que viesse a contratá-lo) e até um surpreendente líder.
É o que ele é, já hoje, revelando-se o feroz leão que os diabos vermelhos ingleses precisavam. Com os resultados que estão à vista.
Grande Bruno!
FRANCISCO GERALDES tem sido até agora um inexplicável - ou pelo menos incompreensível - caso de insucesso no futebol.
Tido como um jovem muito acima da média na compreensão do jogo e nas qualidades inatas para o jogar, dotado de inteligência competitiva e muita capacidade técnica, a verdade é que já teve oportunidade no Sporting e até no estrangeiro - Eintracht Frankfurt e AEK Atenas -, mas só no Moreirense e no Rio Ave, e equipas de menor dimensão e menor pressão, conseguiu Geraldes, apesar de tudo, mostrar um pouco mais do que parece, realmente, ser capaz.
Geraldes tem 24 anos e, portanto, já devia estar nesta altura suficientemente afirmado no futebol para o considerarmos um valor sólido. Mas não. Continuamos todos, ou pelo menos a maioria, cheios de dúvidas não quanto ao potencial, mas quanto ao resultado e à eficácia do seu rendimento como jogador.
De regresso à casa de partida, Francisco Geraldes - que o futebol terá, justa ou injustamente, reduzido à condição de uma espécie de intelectual do futebol, por se interessar por literatura ou por ter levado a sério os estudos até onde pôde - volta a ter a oportunidade de testar as suas melhores capacidades de jogador, como chegou a dizer Silas, que tem a força de «perder muito pouca bola».
Mas ou é desta que se impõe e impõe um certo estilo suave e refinado de jogar, ou desconfio que deixará para sempre de contar numa qualquer grande equipa. O que é pena!
Em todo o caso, não ficará apenas a ideia de que poderia Francisco Geraldes vir a ser (ou ter sido) um grande jogador.
Ficará para sempre, e essa é a boa notícia, o caráter e o exemplo de dignidade profissional, como bem refletido ficou ainda há dias, no jogo do Sporting com o Aves.
Geraldes fez um cruzamento, a bola bateu no corpo de um adversário - no braço?, no tronco? - e saiu pela linha de fundo. Possível penálti? Francisco Geraldes teve de imediato a preocupação de dizer ao árbitro que não tinha qualquer dúvida de que era pontapé de canto e não grande penalidade e deu o exemplo do que deve ser o comportamento desportivo de qualquer profissional do futebol. Fantástico!
PS: Muitas organizações desportivas estão, em todo o mundo, a mostrar como deve ser visto o problema da pandemia do coronavírus. Mas ainda nem todas. Pessoalmente, fez-me muita confusão ver o PSG-Dortmund à porta fechada e o Liverpool-Atl. Madrid cheio de potenciais vítimas nas bancadas. Inacreditável que se tenha, aliás, jogado. E absolutamente ridículo ver Jurgen Klopp e Diego Simeone cumprimentarem-se com os cotovelos e, depois, ver Simeone aos apertos de mão e abraços a muitos dos jogadores das duas equipas. Com toda a franqueza, parece-me que só há duas maneiras verdadeiramente impróprias de olhar para o que o mundo está a viver: de forma paranoica ou de ânimo leve. Saibamos ser cidadãos responsáveis. É o mínimo que devemos exigir de nós próprios. E se cada um de nós fizer o que lhe compete, tudo será um pouco menos difícil!