A águia no reino dos frangos!
John Textor foi diretor da empresa que fez os efeitos especiais para o ‘Titanic’ e ‘Piratas das Caraíbas’. Veio procurar salvar alguém que se afundava ou piratas que não sejam das Caraíbas?
Omomento que se vive actualmente tem vários aspectos a considerar, desde ser um momento de desgraça para uns e divertido para outros, de se ouvirem os mais diversos disparates, mas também coisas com muito sentido, que antecedem, provavelmente, uma verdadeira revolução no futebol português!
Para uns, designadamente para o ex (ou futuro) presidente do Benfica, a hora foi e é, mas não sei se será, uma vez paga a caução, de desgraça. De resto, há uma hora na vida de todas as pessoas (e às vezes mais que uma) em que a desgraça nos bate à porta, fazendo-nos cair no abismo da realidade depois do sonho. É a hora em que tudo muda à nossa volta e em que aqueles que se diziam nossos amigos agora mal nos falam com medo de se sentirem envolvidos pelas novas circunstâncias. São as horas da ingratidão e do abandono, em que às honras aos triunfos e às grandezas se seguem os revezes e as dificuldades!
Não se sabe bem, a meu ver, onde estará a maioria dos sócios do Sport Lisboa e Benfica: com Vieira ou contra Vieira? E Vieira, uma vez afastada a prisão domiciliária, vai falar, vai-se mexer ou vai limitar-se à defesa dos indícios contra si e possíveis acusações? Será que a manifestação convocada de apoio a Vieira vai ter algum significado, dela se extraindo algumas conclusões?
Eu acho que os benfiquistas, sejam os notáveis, os menos notáveis e os anónimos, estão confusos, tanto mais que os cartilheiros acérrimos do vieirismo parecem querer regressar, ou regressaram mesmo, em contraponto aos cartilheiros que não sabem se vão ou se ficam, isto é, jogam à defesa, à espera dos resultados para ver de que lado se colocam.
No meio desta pandemia surge o pandemónio que provocam as relações entre Pinto da Costa e Vieira, tão inimigos que eram, mas que o leitão uniu!
O lado divertido de toda esta questão parece fazer esquecer o assunto sério do assalto aos bancos em prejuízo dos portugueses, porque disto é que o meu povo gosta: tudo aos berros para branquear a situação de pobreza em que este país mergulha. Enquanto se discute o futebol não se discutem outras questões, designadamente as questões importantes.
Mas, no meio do pandemónio, surge a figura de John Textor que, segundo notícias que têm sido publicadas, começou o percurso profissional no mercado de audiovisuais, como diretor da Digital Domain, empresa americana que fez os efeitos especiais para filmes como Titanic ou Piratas das Caraíbas. Perante isto, questiono-me se veio procurar salvar alguém que se estava a afundar ou piratas que não sejam das Caraíbas!
Como quer que seja, isto é, no meio da pandemia ou do pandemónio, certo é que John Textor especialista nos efeitos especiais, pode ter vindo provocar uma revolução no futebol português, para mim há muito esperada, e que a pandemia do Covid-19 e suas consequências veio acelerar.
Há dez anos, nas primeiras eleições em que concorri no Sporting Clube de Portugal, coloquei a questão da composição do capital das sociedades anónimas portuguesas. Sabia que não era o momento oportuno, pois estas questões não podem ser resolvidas em momentos de paixão ou de emoção exacerbadas, mas em tempo de realidade, e que esse tempo iria chegar. Vítor Serpa e José Manuel Delgado são testemunhos vivos de que sempre defendi, em muitas Quinta da Bola, designadamente em diálogo com o meu amigo Fernando Seara, que essa discussão teria de surgir mais cedo ou mais tarde e, provavelmente, de forma não controlada. E está gravado, seguramente, que, ao contrário do que poderia parecer, sempre achei que seria o Benfica o primeiro a aportar investimento estrangeiro para a sua SAD. Admitiria que não fosse a venda da maioria, mas da compra de um número de acções que, aliadas à personalidade de Luís Filipe Vieira, controlasse a sociedade.
A minha convicção baseava-se exatamente na personalidade de Vieira que todos percebiam e percebem que punha e dispunha a seu belo prazer. E o que se passou e está a passar é prova disso mesmo.
É evidente que eu não previ a pandemia, mas esta só acelerou a criação de condições para que o problema tenha de ser discutido, com menos emoção e mais razão, que é aquilo que sempre falta neste tipo de discussões. Nunca são discutidos com serenidade para se alcançarem soluções, mas sempre com pressa e sob pressão.
O surgimento de John Textor neste cenário complicado de uma economia de rastos e de degradação e crise social, se não provocar uma revolução, vai no mínimo colocar a questão da capitalização das sociedades anónimas desportivas na agenda do futebol. Espera-se que esta questão seja discutida de uma forma séria e não personalizada em Vieira, John Textor ou o Rei dos Frangos. O assunto que deve ser colocado em discussão é mesmo a forma de capitalização; a questão dos investidores vem depois. O futebol português, pela qualidade dos seus jogadores e dos seus treinadores, tem potencial para os atrair, mesmo os sérios e honestos!
Se a questão não for encarada com realismo e de uma forma séria, o futebol português entrará numa crise profunda e a venda de jogadores, cada vez maior, será a solução para os problemas económico-financeiros, mas a competitividade interna ficará cada vez com menos interesse e a competitividade internacional cada vez mais reduzida.
Quer queiram, quer não, na economia do futebol os consumidores são os adeptos e não os associados. Mas com inteligência tudo se pode conciliar, isto é, compatibilizar a razão e a paixão.
A águia parece querer ser a primeira a avançar para uma nova era das sociedades anónimas desportivas! Curiosa e ironicamente, por iniciativa dos frangos!
«Será que a manifestação convocada de apoio a Luís Filipe Vieira vai ter algum significado, dela se extraindo algumas conclusões?»
MAIS EFEITOS ESPECIAIS!
JOHN TEXTOR já deve andar, faz algum tempo, em Portugal, particularmente no campo da política, onde se sentem amiudadamente os hologramas e os efeitos especiais.
A propósito de efeitos especiais ocorreu-me de novo falar dos festejos do Sporting Clube de Portugal, cuja vitória no Campeonato Nacional, a juntar a um ano desportivo de elevado e raro sucesso, parece estar a perturbar a mente de muita gente, pelo que há que os ensombrar.
Nos festejos e suas consequências, Eduardo Cabrita e o seu ministério não tiveram qualquer responsabilidade.
Quem está isento de responsabilidade é irresponsável!
Logo, Eduardo Cabrita é ... Ministro da Administração Interna!
É a lógica dos efeitos especiais!