60 anos depois

OPINIÃO29.09.202107:00

… José Augusto, Mário João e Fernando Cruz ‘pedem’ ao Benfica que volte a derrotar o Barcelona. FC Porto sofreu momento ‘Ajax’ no Dragão

NÃO SEI qual será a primeira página deste jornal amanhã se o Benfica vencer logo o Barcelona, mas tenho a certeza de que será vermelhissima - com toda a propriedade. Era realmente fantástico ver o Benfica tombar o Barcelona sessenta anos depois da primeira (e única) vitória sobre o gigante catalão (3-2), em Berna, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus (31 de maio de 1961). O primeiro título europeu do glorioso! Os que se lembram de ter visto esse jogo, em Berna ou pela TV, quer dizer, num televisor a preto e branco da Radio Televisão Portuguesa (era assim que os locutores diziam), terão hoje de 75 anos para cima. Jorge Jesus, por exemplo, tinha 6 anos. Dessa inesquecível equipa que, liderada pelo mago Béla Guttmann, bateu o favorito Barça de Ramallets, Vergès, Luis Suarez, Evaristo, Kocsis, Czibor e Kubala, estão vivos apenas três jogadores: Mário João (86 anos), José Augusto (84) e Fernando Cruz (81). É neles que pensarei, com ternura, se o Benfica, como espero, conseguir vencer.
Seis décadas depois, cabe a Jorge Jesus tentar quebrar o mais longo jejum encarnado em jogos com gigantes europeus (ver quadro anexo). Ele saberá o que tem de fazer para enganar o Barcelona. Que, já não sendo o Barça de Messi nem do tiki taka, atenção!, não deixa de ser uma referência intocável e incontornável da Champions - os verdadeiros gigantes não se transformam em pigmeus de um dia para o outro. Na história europeia do Benfica, Jesus não é só o treinador com mais jogos (92), é também um dos que venceu mais vezes adversários poderosos. Lembro quatro triunfos marcantes: Marselha no Velodróme (2-1); Liverpool na Luz (2-1); Tottenham em Londres (3-1); e Juventus na Luz (2-1). Experiência e ratice não faltam a Jesus, portanto, embora o seu desempenho global na Champions esteja muito longe de ser famoso. Mas esta é uma daquelas noites, de grande pressão e visibilidade, em que Jesus normalmente convoca o melhor que tem. Acresce que o Benfica atravessa um excelente momento - vê-se como as vitórias sucessivas injetaram confiança à equipa - e que o Barcelona, apesar dos sinais positivos destes últimos dias (3-0 ao Levante e regresso de jogadores importantes como Ansu Fati, Jordi Alba, Pedri e Sergi Roberto), está longe de ser um projeto sólido e estável. Bem pelo contrário. A ideia é que tudo, Koeman incluído, pode desabar com uma ventania mais forte. Assim tenha o Benfica pulmões para soprar com força. E, claro, paciência, foco e lucidez para perceber os momentos do jogo, que não se antevê fácil (lembro que os catalães chegam a zero), e, sobretudo!, não perdoe nos momentos de finalização, como aconteceu em Kiev.
 

FC Porto viveu no Dragão, frente ao Liverpool, uma das suas piores noites europeias

MOMENTO 'AJAX' NO DRAGÃO

Nos jogos de ontem, o Liverpool, em estilo imperial, tornou a golear no Dragão (5-1) numa noite defensiva horrenda do FC Porto, onde ninguém saiu incólume. Sérgio teve o seu momento Ajax» e pode agradecer a Griezmann (autor do empate colchonero em Milão, em noite de inspiração de Rafael Leão) o facto de o grupo continuar aberto. O duplo confronto com o Milan pode decidir o destino do FCP na competição. O Sporting perdeu pela margem mínima em Dortmund, mas mostrou personalidade e caráter na forma desempoeirada como se apresentou depois da goleada com o Ajax. Faltou aos leões pontaria (sobretudo a Paulinho) e maior contundência no momento da definição: na Champions não há espaço para fintas e ornamentos, uma lição que o PSG deu ao campeão europeu do futebol barroco, o City de Guardiola, com um belo golo de Messi a amargar a noite do campeão inglês, que ainda não percebeu que se podem marcar golos sem ser em jogadas de 20 ou 30 toques. Voltando ao grupo do Sporting, o Ajax confirmou a qualidade/espetacularidade do seu futebol a expensas de um impotente Besiktas (2-0 foi pouco para tanto domínio), que parece acessível aos leões. Finalize-se com o bravo Sheriff Tiraspol, que estreou o renovado Bernabéu com uma daquelas vitórias para a eternidade. Dois jogos, quatro tiros certeiros, duas vitórias para a equipa moldava: melhor pistoleiro não há!


ABEL TEM FÃ DE PESO

CRITICADO pela Imprensa brasileira e pelos adeptos do Palmeiras pelo «estilo defensivo» e pela derrota com o rival Corinthians no Brasileirão (que deixou o Verdão a oito pontos do líder Atlético Mineiro), Abel Ferreira jogou nesta última madrugada, em Belo Horizonte, contra esse mesmo Atlético de Cuca, Hulk, Eduardo Vargas e Diego Costa, um lugar na final da Taça dos Libertadores - que Abel ganhou em janeiro passado, vencendo na final do Maracanã o Santos… de Cuca por 1-0. Espero que Abel tenha conseguido qualificar o Palmeiras para uma segunda final seguida, mas mesmo que tenha falhado esse objetivo (o mais natural) há sinais que apontam para a sua continuidade no Palmeiras, apesar do 2.º lugar no Brasileirão, da perda do Paulista para o São Paulo e da eliminação na Copa do Brasil (pelo CRB de Alagoas). Isto porque, a fazer fé na Imprensa de São Paulo, Abel tem uma fã com muito peso na estrutura do clube: trata-se  da advogada Leila Medjalani Pereira, a milionária presidente da Crefisa (patrocinadora e mecenas do Verdão) que, em novembro próximo, será eleita presidente do Palmeiras - é candidata única às eleições. Mulher pragmática e racional, como convém a uma gestora de sucesso, Leila aprecia a franqueza e combatividade do treinador português e, segundo o jornalista Cosme Rímoli, reconhece que Abel «tem o melhor dos escudos: a falta de reforços [prometidos pela actual direcção]». Veremos até que ponto a racionalidade da gestora aguenta o embate com a paixão desregulada do adepto brasileiro.