… Agora os alemães

OPINIÃO16.06.202107:00

Santos continua a ser conservador e a ter ‘estrelinha’, Portugal continua a ganhar. Siga. Sábado é dia de ajustar contas com a Alemanha

Ojogo de ontem na Puskas Arena foi tão estranho como tinha sido o jogo com a Hungria em Lyon no Europeu de 2016 (3-3, lembram-se?). A diferença é que desta vez a Seleção foi globalmente superior aos húngaros (muito superior na primeira parte) e teve a tal estrelinha que lhe faltara em Lyon (lembre-se que dois dos três golos magiares resultaram de ressaltos e desvios). Ontem, Portugal merecia chegar ao intervalo com o jogo resolvido, tamanha a superioridade exercida - controlou o jogo, impondo a sua vontade com mão de ferro como convém a um campeão da Europa, e criou quatro ocasiões de golo  ingloriamente desperdiçadas por três jogadores de topo - Diogo Jota (duas), Bernardo e Cristiano. Uma pena. 

A segunda parte foi francamente pior e o engenheiro hesitou demasiado nas mudanças que urgia fazer e que todo o país pedia há largos minutos. Quando Rafa Silva entrou a vinte minutos do fim (em vez de outro) houve no sítio onde estava a ver o jogo uma manifestação geral de incredulidade - o Rafa?!?, o Rafa-que-precisa-de-espaço contra uma Hungria fechadíssima que está a defender com oito ?!?;  mas as pessoas esquecem-se que Santos tem  estrelinha - felizmente! Rafa não estava a influir grande coisa no jogo, que estava francamente empastelado, e quando, a dez minutos do fim, Santos fez entrar o outro (Renato) e André Silva, a sensação geral é que muito dificilmente Portugal chegaria à vitória. Pois não só ganhou o jogo como chegou à goleada (3-0!) numa altura em que seguramente a maioria do país futebolístico estava a amaldiçoar o conservadorismo do selecionador. O que houve, então? Houve sorte no remate de Raphael Guerreiro desviado por Orban, em jogada iniciada por Rafa (sim o Rafa!); houve um penálti claro do infeliz Orban sobre Rafa (sim, esse); e houve uma bela jogada de entendimento entre Rafa (esse, esse!) e Cristiano, concluída pelo capitão. Três ações saídas do nada que proporcionaram três golos a Portugal e oito minutos de verdadeiro pesadelo para milhões de adeptos húngaros.
 

 


Cristiano, 36 anos, terminou o jogo com um bis e juntou mais recordes à sua extraordinária carreira - o primeiro a jogar cinco Europeus, o primeiro a marcar em 11 (onze!) fases finais consecutivas, o primeiro em tanta coisa mesmo quando parece esquinado com a baliza. A Seleção precisa de melhorar o aspeto criativo, para que não terminemos os jogos com a sensação de que a equipa joga muito menos do que pode e deve. Por mim, não me queixo. Passei muitos anos, demasiados anos, a chorar vitórias morais da Seleção, para não apreciar o que o engenheiro faz - ganha, ponto!, independentemente de achar que ele podia ter uma conceção de jogo um pouco mais ousada tendo em conta os jogadores que tem. Siga. Sábado, em Munique, há contas a ajustar com uma Alemanha que perdeu ontem com a França… mas que nos ganhou os últimos quatro confrontos: no Mundial de 2006 (3-1 em Estugarda, no jogo dos ¾ lugares), no Europeu de 2008 (2-3 nos quartos de final), no Europeu de 2012 (0-1 no jogo inaugural), e no Mundial de 2014 (0-4 no jogo inaugural). É tareia a mais. Há que reverter a tendência e não esquecer que Portugal é a única grande seleção europeia com 100% de aproveitamento na fase de grupos do Europeu: passou sempre!
 

RONALDO É ETERNO

CRISTIANO aparece sempre. Com o bis de ontem em Budapeste o avançado português não só se tornou
o melhor marcador de sempre em Europeus (11; estava empatado com Platini,
a 9 golos), como ultrapassou o brasileiro Romário e chegou ao pódio dos melhores marcadores de sempre em fases finais, somente atrás de dois históricos, o argentino Gabriel Batistuta (27) e o brasileiro Ronaldo fenómeno Nazário (29). Os 23 golos de CR7 em 11 fases finais de quatro competições diferentes (marcou em todas, outro recorde) fazem dele, destacado, o líder europeu nessa especialidade e o único até hoje a ultrapassar as duas dezenas. Fantástico! Os rivais habituais de Ronaldo no capítulo mais importante
do futebol estão a competir na Copa América e o mais próximo deles, o uruguaio Luiz Suárez (16 golos), encontra-se a uma distância considerável do nosso bomber. Messi (15) e Neymar (14) estão mais longe, mas o brasileiro, com apenas 29 anos, ainda tem algumas fases finais pela frente…
 

… E NÃO PÁRA DE RUGIR!

IMPRESSIONANTE o ano desportivo do Sporting Clube de Portugal. Dá a impressão de que não há fim de semana em que equipas e atletas leoninos não comemorem um título importante. Nestes últimos dias foi a medalha de ouro de Jorge Fonseca nos Mundiais de Judo de Budapeste, com o rei da selva a comentar o feito em direto em A BOLA TV com muita graça e uma descontração invulgar. Depois, foi a equipa de futsal, campeã europeia, a garantir o título nacional com uma goleada na Luz e a completar uma colheita fabulosa - ganhou tudo o que havia para ganhar! Finalmente, a equipa de hóquei em patins, campeã europeia, ganhou no Dragão Caixa e está a um triunfo de conquistar o campeonato nacional, tal como a equipa de basquetebol e a de futebol. O rugido do leão não pára de fazer-se ouvir… apenas três anos sobre o infame ataque de Alcochete. É justo reconhecer que a ressurreição nas modalidades vem de trás e tem a marca de Bruno de Carvalho, mas a reestruturação e os triunfos no futebol - a mola impulsionadora de qualquer clube grande - são obra de Frederico Varandas. Conclui-se que entre o que se disse e até projetou no pós-Alcochete (Sporting K.O!, Sporting dizimado!, Sporting fraturado!, Sporting na penúria por muitos anos!) e a realidade vai uma distância muito grande. As notícias da morte do leão eram manifestamente exageradas…