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DIABO, de todos os autores confesso pensar que Fernando Pessoa seria o último a ter versos cortados nas leituras de escola - nem lhes chamo censurados, não julgo o assunto assim tão sério. Aconteceu mesmo, em todo o caso, omitirem «ó automóveis apinhados de pândegos e de p****» e «e cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! - Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de escada».
Notem como também me preservo com a convenção dos palavrões, evitando escrever palavra há décadas em dicionários, preferindo p**** ou até *utas, contornando de forma infantil o principal da questão. Do ponto de vista de quem informa, jornalístico, estou até a partir do errado princípio de que as pessoas sabem ao que me refiro, o que não o redigindo não pode ser garantido.
Não queria afastar-me dos tais versos de Pessoa, porque, ia dizendo, são de Pessoa, que eu avaliava entre os autores menos cortáveis por ser homem de escassos pecados escritos. Há dois anos um outro destes assuntos à pressão foi até uma entrevista de Lobo Antunes ao El País na qual este questionava a respeito de Pessoa «se um homem que nunca f**** podia ser bom escritor» - lá estou eu a não escrever o que toda a gente vê escrito. Pessoa pode ser preso por ter cão e preso por não ter, será da heteronímia.
Para terminar, poesia de Álvaro de Campos sobre desporto: «No sport o que existe é supérfluo, como o que o gato faz antes de comer o rato que lhe há de escapar. Há uma certa beleza nisso, como no dominó, e, quando o acaso proporciona o jogo acertado, a maravilha entesoura o corpo encostado do vencedor. Fica, no fim, e sempre virado para o inútil, o inconseguido do jogo.»
(A parte do gato que quer comer o rato deve aqui entender-se em sentido literal, de quem come mesmo, se alimenta; caso contrário eu teria transcrito c**** o rato ou cortado a passagem, não quero chatices com segundos sentidos.)