Sporting: os segredos de Trincão para aguentar tantos minutos nas pernas
É permanentemente acompanhado por um 'personal trainer' e trabalho é feito em consonância com o clube. Tem Cristiano Ronaldo como exemplo a seguir. É rigoroso com alimentação e período de sono
Sendo certo que as últimas exibições de Trincão estão longe do fulgor que já mostrou em campo, os dados são esclarecedores quanto à importância do camisola 17 na equipa leonina, naquela que é a sua melhor época da carreira.
O atacante é o jogador que soma mais minutos nos 38 jogos oficiais que o Sporting já cumpriu, com 3290' — participou em todos e só não foi titular diante do Nacional nos quartos de final da Taça da Liga, foi lançado no início da segunda parte —, tendo marcado nove golos e feito 11 assistências.
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Segundo A BOLA apurou junto de fonte próxima do jogador, o rigor com que planeia os seus dias é fundamental. Tudo é cumprido escrupulosamente, sendo que Trincão tem na disciplina de Cristiano Ronaldo um exemplo a seguir. Alimenta-se bem, deita-se cedo, cuida do corpo, sob orientação de um personal trainer. Sofre nas derrotas, é sportinguista de coração, e trabalha todos os dias para melhorar, sempre a pensar em como pode ajudar a equipa.
Os sinais de alerta há muito que soaram em Alvalade e a onda de lesões que assolou o plantel tem sido castradora para os três treinadores que já orientaram o Sporting esta época, Ruben Amorim, João Pereira e agora Rui Borges. Mas, Trincão é um dos indiscutíveis no onze, tanto na Liga como na Champions, onde, segundo dados da UEFA, já correu quase 100 quilómetros nos nove jogos já realizados (amanhã há outro, em casa do Dortmund). O esquerdino não tem tido gestão, à semelhança de outros jogadores que apresentam queixas musculares. E, neste capítulo, há uma questão que se impõe: qual o segredo para Trincão aguentar tantos minutos nas pernas?
A BOLA foi tentar perceber os benefícios de ser acompanhado a nível físico fora do Sporting, e falou com Cláudio Borges, antigo central, agora treinador de performance individual na Boost Campus Academy, que trabalha com jogadores a nível nacional e internacional.
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«A primeira coisa, que é o mais importante, é que o PT [personal trainer], ou a pessoa que trabalha com o jogador, esteja em sintonia com a equipa técnica para que o trabalho que foi feito no clube não seja repetido, mas isso é algo que nem sempre é possível. Por exemplo, se eu treinar com o Trincão tenho de perceber o que ele fez no treino no clube, porque não vou estar a sobrecarregá-lo, porque é a equipa técnica, os fisiologistas e departamento de performance que determinam a carga de trabalho, começou por dizer.
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Mas os cuidados não se reduzem só pelo ginásio, há um conjunto de fatores a ter em conta: «Temos psicólogos, nutricionistas, optometristas desportivos, treinadores de ginásio e de campo, tudo conta, mas, claro, de nada vale se depois o jogador não descansar adequadamente, não se alimentar bem ou não treine bem. É o melhor dos dois mundos, ter um treinador de performance individual, só que em Portugal ainda estamos um bocadinho atrasados.»
E deu um exemplo concreto: «É por isso que o Ronaldo é uma máquina. Tem 40 anos e continua a marcar golos atrás de golos. Pode-se questionar muita coisa acerca do nível técnico, mas a nível de fisionomia, a nível atleta, não há nada a dizer. Foi-se construindo.»
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«É um trabalho de sintonia e, claro, entrega e foco, como concluiu Cláudio Borges: «Os jogadores têm de perceber que no mundo atual cada vez mais são atletas, não são só jogadores de futebol. Antigamente é que depois do jogo íamos sair à noite, comer o que nos apetecesse, agora não. Os jogadores agora são sempre monitorizados, até quando estão fora do clube, têm uma série de informações agora, nos tempos modernos, que não há como falhar.»
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